* Da redação * 

A dramaturgia brasileira atual é repleta de autores talentosos, que têm levado para os palcos temas e questões urgentes para a reflexão aprofundada da sociedade atual. Fizemos uma lista de autores nacionais que você precisa conhecer; são de diversos cantos do Brasil, alguns escrevem em dupla; há jovens e aqueles com carreira já consolidada. A seleção traz ainda um vizinho uruguaio, Sergio Blanco, que vira e mexe tem seus textos montados por aqui, com bastante repercussão. Veja abaixo nossas escolhas:

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Escolhas de Dirceu Alves Jr.

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Alexandre Dal Farra – O dramaturgo é um dos que melhor sabe retratar a recente realidade brasileira. Em Mateus, 10, cartaz da Oficina Cultural Oswald de Andrade, questionou a força e as contradições da pregação religiosa na vida dos homens. A trilogia Abnegação, por sua vez, levou à cena os conflitos internos dentro de um partido político e as incoerências enfrentadas para chegar e se manter no poder. O mais recente trabalho, Refúgio, apresenta personagens envolvidos em absurdos que se alienam para enfrentar o cotidiano.

Silvia Gomez – A autora mineira, egressa da CPT, despontou com O Céu Cinco Minutos Antes da Tempestade, montada pelo grupo de Antunes Filho. Consolidou seu nome ao flertar com o absurdo Mantenha Fora do Alcance do Bebê e atingiu a maturidade em Marte, Você Está Aí?, sobre duas mulheres, de gerações diferentes, que, em comum, conheceram a repressão de regimes políticos. (foto principal da matéria)

Leonardo Cortez – O dramaturgo paulistano a cada trabalho renova seu vínculo de cronista da realidade brasileira. As peças Maldito Benefício e Sala dos Professores são radiografias sociais, sempre no limite da tragicomédia, que trazem personagens vítimas de suas próprias ambições e mesquinharias. Pousada Refúgio, que pode ser vista no Teatro Vivo, apresenta um grupo de amigos, incomodado com a posição de emergentes, que alimenta o sonho de largar o estresse do cotidiano e viver no campo.

Newton Moreno – Uma das grandes revelações da dramaturgia brasileira na década passada, o pernambucano Newton Moreno parte de temas e costumes regionais para atingir conflitos universais. Um exemplo é a abordagem da homossexualidade e do preconceito em Agreste (2005). Seus trabalhos mais recentes na cidade foram Imortais e Justa. Na primeira, uma viúva redescobre o amor diante possibilidade de pertencer a um novo conceito de família. A segunda, por sua vez, traz a versão contemporânea de uma justiceira. A personagem-título vive nos bastidores da política e decide colaborar para resolver os problemas do Brasil com métodos que estão ao seu alcance.

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Sergio Blanco – O dramaturgo uruguaio, radicado na França, trabalha com um conceito de autoficção. Suas peças têm origem em elementos verídicos que servem não apenas de ponto de partida, mas também de sustentação para toda a trama ficcional. O monólogo A Ira de Narciso, protagonizado por Gilberto Gawronski no Teatro Sérgio Cardoso, é uma ótima amostra. No ano passado, Roberto Alvim dirigiu Kiev, que funde O Jardim das Cerejeiras, de Tchecov, com fatos da história política russa.

Dirceu Alves Jr. é crítico de teatro da Veja SP

 Escolhas de Miguel Arcanjo Prado

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Silvia Gomez – A dramaturga mineira radicada em São Paulo tem olhar poético e ácido para o mundo contemporâneo de caos líquido no qual vivemos mergulhados. Seu Mantenha fora do alcance do bebê é um texto desconcertante, que abala todas as estruturas, jogando por terra o sonho da família comercial de margarina.

Leonardo Cortez – O dramaturgo paulistano mostrou ao que veio em Sala dos professores, texto que conseguiu condensar de forma crucial o momento histórico de rebelião estudantil em São Paulo, descortinando o caos e o descaso nos quais mergulharam nossa educação.

Dione Carlos – A dramaturga fluminense dá voz a personagens – sobretudo mulheres – cujos discursos lhes foram tirados, sempre com forte dosagem de crítica à sociedade machista, racista e patriarcal. Com produção intensa, ela se firma cada vez mais na cena.

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Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez – A dupla que há três décadas é a locomotiva que não permite freio ao grupo paulistano Os Satyros têm incansável produção de novas peças, sempre de olho naqueles seres que a sociedade costuma marginalizar, oferecendo-lhes palco e voz em um trabalho pioneiro e já histórico no teatro brasileiro.

Marcos Fábio de Faria e Rodrigo Jerônimo – No musical Madame Satã, a dupla mineira demonstrou saber contar, com propriedade e muita poesia, histórias ao abraçar a trajetória do famigerado boêmio carioca, além de revelar para as novas gerações um ícone que une várias lutas sociais em uma figura só, conquistando sucesso de público e crítica.

Miguel Arcanjo Prado é jornalista, crítico da APCA e colunista do UOL. Jornalista formado pela UFMG, é especialista em Mídia, Informação e Cultura pela USP e mestre em Artes pela UNESP

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 Escolhas de Alexandre Staut

Newton Moreno – O destaque na sua obra é Agreste, da década passada. Assombrações do Recife Velho marca sua investigação sobre sua terra natal, Pernambuco, em 2005. Ele próprio dirigiu Os Fofos Encenam na livre adaptação da obra homônima do sociólogo Gilberto Freyre. Seu trabalho como ator também é memorável.

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Otavio Frias Filho – O jornalista e escritor (e também diretor da Folha de S.Paulo) é autor de seis peças de teatro, entre elas, Don Juan (1995) e Sonho de Núpcias (2002). Este ano seu ensaio O terceiro sinal, do livro Queda Livre, foi levado para o teatro magistralmente por Bete Coelho. A peça ocupou o Teatro Oficina, onde a atriz deu vida a um jornalista (inspirado nas própria experiência de Frias Filho) que participa da peça Boca de Ouro, dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa, décadas atrás. A peça é uma declaração de amor às artes cênicas, ao Oficina e a Zé Celso.

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Grace Passô – A mineira fundou a companhia de teatro Grupo Espanca!, na qual atuou como atriz, diretora e dramaturga. Ganhou o prêmio APCA de melhor dramaturgia pelo texto Por Elise e o prêmio Shell, pelo mesmo texto, da década passada. Escreveu Marcha por Zenturo em parceria com o Grupo XIX de Teatro. Trabalha em montagens com outras companhias, como o Grupo Lume. Quatro de seus textos foram publicados em livro Por EliseAmores SurdosMarcha por Zenturo e Congresso Internacional do Medo.

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Angela Ribeiro – A paraense formada pela Escola de Arte Dramática da USP, frequentou o CPT (Centro de Pesquisa Teatral) e começou carreira como atriz. Refluxo, seu texto mais conhecido ganhou o Prêmio Shell 2017. A peça traz como protagonista um ascensorista apaixonado pelo emprego.

Renata Mizrahi – A carioca foi duas vezes vencedora do Prêmio Zilka Sallaberry de Teatro Infantil. Em 2010, pelo texto de Joaquim e as estrelas, e em 2012, pelo texto de Coisas que a gente não vê. Em 2015, venceu o Premio Shell por Galápagos.

Leo Lama – Autor do sucesso Dores de amores, aos 23 anos, vertida depois ao cinema, surgiu nos anos 80. Seu trabalho atual é cheio de verve. Estreou no ano passado a elogiada Madalena bêbada de blues. Recentemente organizou a obra de seu pai – Plínio Marcos – em livro, juntamente com o crítico Alcir Pécora.

Alexandre Staut é escritor e editor da São Paulo Review

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Créditos das fotos: Leila Fugii; Miguel Arcanjo Prado, Edson Lopes Jr., e divulgação 

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