
*Por Renato de Cara*
“Ainda não é o fim do mundo” – é assim que se chama a mostra do Paço das Artes para este ano. A partir de 31 de janeiro, com 18 artistas convidados, falaremos de ecologia, das devastações climáticas, mas também de possibilidades para um outro futuro, mais mágico, com amor e tecnologia.
Os programas de quase todas as instituições vêm falando do aquecimento global que assola o mundo e me parece que este ano esta é a agenda principal de todas elas. Os artistas têm se posicionado politicamente para além de vínculos partidários, destacando uma conscientização inclusiva, preocupada com os recursos para um futuro possível.
É preciso morrer para si mesmo para nascer outro – está no significado da palavra experiência (de espérir, do francês antigo). Do claro-escuro que é a vida cotidiana, há o confronto do mundo da matéria com a luz do espírito.
Ao assumirmos o lugar de narradores e construtores da história dos outros seres e fenômenos acreditamos falar no lugar de todos eles. Sabendo que as escolhas das formas de conhecimento e cultura a serem aceitas é uma questão de poder, aqui estamos a pensar estratégias contra as tragédias provocadas pelo excesso ou ainda como nos adaptar no entorno delas.
Desta maneira, os meios que usamos para imprimir nossa “superioridade” no mundo vêm nos conduzindo ao fim. Para uma readequação da paisagem, é melhor aceitarmos os fluxos indissociáveis que existem entre realidade e imaginação. Porque tudo que é imaginado existe e o dizer do mundo também está no poder das metáforas.
O que seria dela, a paisagem, senão uma construção cultural, em busca de uma utopia que já se esgotou? É como o horizonte, que sabemos que está lá, mas ele não existe na realidade. Precisamos de fato reconectarmos com o amor, dando espaço às alteridades, com certa cumplicidade entre a estética e a amizade – onde o eu também é o outro.
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Renato de Cara é formado em Jornalismo pela PUC/SP em 1985. Interessado em arte, cultura e moda, especializou-se em estética contemporânea, produzindo, escrevendo, editando e fotografando para marcas e veículos de comunicação. Colaborou para jornais como Folha de S.Paulo e O Estado de São Paulo; revistas como Vogue, World Fashion, Select e Bravo; e estúdios de criação. Em 2006 criou a Galeria Mezanino e até 2017 produziu e curou exposições individuais e coletivas, apresentando novos nomes e resgatando artistas em meio de carreira, cruzando linguagens e propondo novas abordagens no mercado de arte contemporânea. Em 2018 foi convidado para assumir a direção do Departamento de Museus da Cidade de São Paulo, com 15 equipamentos em casas e prédios históricos, configurando o Museu da Cidade. De 2020 a 2022 colaborou com conteúdo de artes visuais para o Centro Cultural b_arco e também para a galeria de arte contemporânea de mesmo nome. Hoje é curador do Paço das Artes em SP e da consultoria de arte e mentoria para variados clientes, artistas e instituições privadas.