Entrevista: Samuel Seibel e a sua babel de livros

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Por Alexandre Staut * 

Samuel Seibel já trabalhou como jornalista e no setor moveleiro, antes de se tornar proprietário da Livraria da Vila, em 2002. Em sua gestão, ele fez a marca crescer, abrindo seis novas lojas em São Paulo. Dez anos depois de tomar as rédeas do espaço aconchegante, na Vila Madalena, Seibel diz que não planejou virar livreiro. Certa noite, o paulistano passeava em Ipanema, no Rio de Janeiro, resolvendo tomar um café numa livraria. Ao entrar no lugar, teve um insight: comprar um espaço parecido, na capital paulista. A dedicação fez com que o negócio se transformasse num dos grandes polos culturais da capital paulista. Nesta entrevista, ele fala de seus planos, sonhos, de suas preferencias literárias e também do triatlo, uma das suas paixões.

Como surgiu a ideia de comprar a Livraria da Vila? Mais do que uma ideia, foi um insight, algo que nunca havia sentido antes, principalmente no campo profissional. Em meados de 2002, estava com minha mulher no Rio de Janeiro, onde iria participar de uma prova de meia maratona. Depois do jantar, fomos tomar café numa nova livraria, que nem existe mais. Ao entrar naquele espaço, fiquei parado, olhando, impactado (e olhe que entrar em livrarias sempre foi parte da minha rotina turística. Já havia entrado em milhares delas na minha vida). Disse à Debora: ‘é isso que quero fazer na minha vida. Ser livreiro. Não fazer outra coisa, mas ser livreiro’. E assim foi. Atingido por aquele raio, a decisão materializou-se em poucos meses. Depois de estruturar minha saída de onde trabalhava, passei a buscar locais para a possível loja e conversar com pessoas do ramo. Uma dessas era o então dono da Livraria da Vila. Marquei um papo, ficamos horas conversando, mas nem passou pela minha cabeça que a Vila pudesse estar a venda. Numa segunda conversa é que percebi algo no ar e perguntei se ele estava vendendo a empresa. A partir daquele momento, tivemos várias reuniões e fechamos negócio em dezembro.

Quando surgiu a ideia de criar filiais da livraria? Desde que assumi a empresa, em janeiro de 2003, sempre procurei abrir os horizontes de atuação da Livraria da Vila. Achava que não necessariamente precisaríamos ficar preso a ‘Vila’, que ostentamos no nome. Livraria da Vila, para mim, é um conceito, é um ponto de encontro e um polo cultural. Ou seja, o meu desafio era levar este conceito para onde eventualmente estivéssemos. Foi assim em 2003, quando fizemos a experiência de uma temporada no inverno de Campos de Jordão, e, principalmente, em 2004, nossa primeira Flip. Já fizemos nove. Em 2005, veio a parceria com a Casa do Saber. Passei a procurar espaços nos Jardins, pois achava que lá seria um bom lugar para a primeira filial de rua. E, em 2007, inauguramos a loja da Alameda Lorena. A partir daí, passamos a ser convidados para diversos projetos: Cidade Jardim, 2008, Higienópolis, 2010, JK Iguatemi, 2012, e no Shopping Galleria, em Campinas. Tem também em Curitiba, no shopping Batel. Ainda abrimos uma pequena loja de rua em Moema, em 2010.

Qual o primeiro conceito que lhe vem à cabeça quando fala da sua livraria? Ser um ponto de encontro e um polo cultural, com foco na formação de leitores (as crianças) e na disseminação do hábito de leitura no Brasil (jovens e adultos).

Hoje, se tivesse que resumir a livraria que criou em uma única frase, qual seria? E numa única palavra? Frase: Minha segunda casa. Palavra: Sonho (se pudesse ser duas: sonho realizado).

Falando em palavras e em livros, lembra-se de quais os primeiros livros que leu, na infância? Sou leitor desde muito pequenininho. A lembrança passa por Robinson Crusoé, A Ilha do Tesouro, Julio Verne – todos -, Viagem de Gulliver, e afins. Sem falar no Tesouro da Juventude. Influência mesmo começou com Monteiro Lobato e Jorge Amado, com destaque para Capitães de Areia. Este me levou a posicionamento político e participação ativa no Brasil de final dos anos 60 e na década de 70.

O que gosta de ler? Tenho gosto eclético. Gosto de ficção, tenho lido biografias, procuro reler obras lidas na juventude e que, à época, não estava preparado para entender. Adoro romance policial e não tenho nenhum preconceito com relação a livros como Harry Potter. Aliás, li todos e acho mérito da autora criar um universo tão fantasioso e uma história tão instigante como a do ‘bruxinho’.

O que está lendo neste momento? Acabei de ler dois livros – costumo ler dois ou mais livros simultaneamente -, que gostei bastante: Bonsai, do chileno Alejandro Zambra, e Sagrada Família, do Zuenir Ventura.

O que te chama atenção num livro? A capacidade do autor de transformar histórias comuns em algo grandioso, interessante, épico, rico em detalhes. Tanto que filmes baseados em livros tendem a frustrar as pessoas. Afinal, todos formam seu próprio cenário, diferente do que está na tela. O talento do bom escritor emociona, faz pensar, ajuda a sonhar, permite mudanças, acrescenta, gera conversa.

Sua família também está presente no seu negócio. Como é o trabalho em família? Meus filhos – Flavio, de 31 anos, e Rafael, de 29 – aderiram ao trabalho na Livraria da Vila por decisão própria, há bastante tempo. É claro que sempre desejei isso, mas nunca fiz convite por receio de forçar a barra. Considero-me privilegiado de tê-los ao meu lado. Nem sempre é fácil, afinal trata-se da relação mais profunda que se pode ter. Mas o saldo é muito mais do que positivo. Hoje – um na área comercial, o outro em marketing- são peças fundamentais no crescimento do negócio.

O que você tem pensado sobre a onda de livros eletrônicos? A livraria vai se adaptar a esta novidade? Em mais alguns meses iremos disponibilizar os e-books em nosso site. Entendemos essa plataforma como mais uma forma de leitura e iremos acrescentá-la em nossa livraria. Acreditamos na convivência entre os livros físicos e os eletrônicos. A Livraria da Vila sempre se caracterizou como um espaço que extrapola a compra e venda de seus produtos. Em 2011, fizemos mais de 2 mil eventos nas lojas. É muita coisa. Cursos, palestras, pocket shows, oficinas, contação de histórias, peças teatrais, sem falar dos lançamentos. Esse agito, essa necessidade que as pessoas têm de se encontrar, se ver, frequentar, não irá acabar. Somos muito focados no público infantil. E dá prazer de ver crianças de várias idades absolutamente entretidas com o livro. O que irá acontecer em 20, 30 ou 50 anos, aí já não dá para prever.

O esporte também é uma de suas paixões. O que tem feito neste momento? De fato esporte é uma de minhas paixões. Treino diariamente, pelo menos uma das modalidade que pratico, que é corrida, natação e ciclismo. Além de musculação. Sempre gostei de esporte, joguei futebol muito tempo, recreativamente, é claro. Participo de provas na distância olímpica, como meio ironman. Desejo completar um Ironman este ano, quando completo 60 anos.

Quais são os grandes desafios hoje de sua vida? Curtir cada vez mais as minhas paixões: família (incluído meu cachorro Nero), livros e a Livraria da Vila, esporte e viajar. E isso porque os netos ainda não chegaram.