Absolutamente crônica, de Mayara Vieira (Penalux, 2017). Passamos um bom pedaço da vida dentro do Facebook e esquecemos que a literatura é produzida fora das redes sociais. É bem comum a gente se deparar com textões em formato de crônica postados e compartilhados pelo tom oxigenado da narrativa. Um desavisado poderia muito bem ler o livro Mayara Vieira como um apanhado desses textos, mas seria uma injustiça com a autora. Absolutamente Crônica é um livro de crônicas e não um apanhado. E como todo livro, existe todo um projeto narrativo e estilístico por trás dele. Indico para os fãs do estilo clássico de crônicas de autores como Rubem Braga e Sérgio Porto.
Demônios domésticos, de Tiago Germano (Le Chien, 2017). Este livro de crônicas tem um forte viés memorialista. Dividido em quatro partes: A infância, seus modos e seus medos”, “O amor, seus gestos e seus gostos”, “A rua, suas bocas e seus becos”, e “O ofício, seus mitos e seus mundos”. E, ao contrário do livro de Mayara, cuja temática é quase toda baseada em um cotidiano urgente, Tiago Germano cria em seu livro uma linha do tempo que guia o leitor por toda a sua vida. E nesse ponto devo afirmar que ele fortalece a narrativa quando confunde o leitor em suas falsas verdades. Parte das crônicas desse livro foi escrita em publicações periódicas em jornal impresso, reforçando a tradição dos jornalistas paraibanos neste tipo de crônica.
Glitter, de Bruno Ribeiro (Moinhos,2018) O romance Glitter parece ter sido escrito por um japonês pervertido fã de Jogos Mortais, Fortnite e Ilha de Caras. Assim como no romance anterior, Febre de Enxofre, a narrativa polifônica e não confiável deixa o leitor de orelha em pé até a última página do livro. Bruno Ribeiro se apropria do mundo da moda numa espécie de Big Brother dentro de uma Cúpula do Trovão em forma de shopping para escancarar uma visão crua e tenebrosa do mundo ególatra das artes em geral. Do seu jeito, o livro também é uma crônica desses nossos tempos de redes sociais e de comentaristas estúpidos e perversos que brotam aos montes nos grandes portais. É um livro que é impossível de desver.