
Após uma temporada de sucesso de crítica e de público, o espetáculo “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço”, com texto de Michelle Ferreira e direção de Nelson Baskerville, volta em cartaz para 24 apresentações gratuitas em vários espaços públicos de São Paulo. As primeiras sessões acontecem até 6 de abril, às sextas e sábados, às 20h, e, aos domingos, às 19h no Complexo Cultural FUNARTE São Paulo. Em seguida, faz circulação por Teatros Municipais de São Paulo.
Três teatros municipais ainda a definir também recebem o trabalho. Cada um deles exibe seis vezes a peça. Quando estreou, em 2023, a montagem foi eleita pelo jornal Folha de São Paulo como uma das melhores do ano. Com a proposta de democratizar o acesso à informações sobre a vida e a obra da Ana
Cristina Cesar (1952-1983), o projeto idealizado por Nataly Cavalcanti ainda envolve outras ações importantes. Os artistas envolvidos no processo organizaram um podcast com discussões relacionadas a essa poeta marginal, um sarau, a publicação de um zine formado por cartas trocadas entre as poetas Anna Zêpa e Josiane Cavalcanti e uma oficina de produção de zines.
“Criamos atividades que estão muito relacionadas à personalidade da Ana Cristina. Ela costumava escrever cartas e tenho certeza que teria um podcast se essa linguagem existisse na sua época”, conta Nataly.
Considerada um dos grandes nomes da literatura marginal da década de 1970, a poeta carioca defendia que vida e literatura eram inseparáveis. Por esse motivo, “Ana Marginal – Um navio ancorado no espaço” se inspira nesses dois elementos.
A dramaturgia de Michelle Ferreira traz para a cena três personas para representar a escritora: Ana – a poeta, Cristina – a performática, e Cesar – a acadêmica, representadas pelas atrizes Nataly Cavalcanti, Carol Gierwiatowski e Bruna Brignol, respectivamente. Realizado em parceria entre as atrizes, a dramaturga, o diretor Nelson Baskerville e a diretora assistente Anna Zêpa, o trabalho mergulhou na obra da escritora para desvendar o corpo-poema de Ana Cristina Cesar, misturando arte e vida pessoal.
A característica forte de seus textos, a um só tempo viscerais e coloquiais – marca comum também entre outros poetas marginais dos anos 1970 -, cria uma aproximação confidencial com seus leitores. Inclusive, no livro “Antigos e Soltos — Poemas e Prosas da Pasta Rosa”, uma compilação de textos inéditos feita por Armando Freitas Filho, ela faz uma sugestão radical: “despoetizar a escrita feminina. Suprimir o mito do sexto sentido, da doce e inefável poesia feminina. A falsa grávida com gazes. — Estrutura histérica!, grita a fada madrinha. Assinado embaixo: Nós do outro sexo, do sexto sexo.”
“Como Ana Cristina Cesar pregava a quebra dos padrões eruditos e escrevia de uma maneira mais espontânea e contestadora, entendemos que o teatro performativo era a melhor maneira de homenagear essa mulher tão potente. Sempre achei que o Baskerville seria o diretor que conseguiria transpor para a cena o universo que eu imaginava pro espetáculo. E eu não me enganei”, comenta Nataly.