* Da Redação *

Idealizado desde 2014 por Leonardo Tonus, professor-doutor da Sorbonne Université (Paris), ensaísta, escritor e principal nome do país, quando o assunto é exportação da literatura brasileira, o Printemps Littéraire Brésilien acontece, na atual edição, entre março e junho de 2019, reunindo mais de 50 romancistas, contistas, poetas, ensaístas e atores do livro – a exemplo de Andrea Nunes (Brasil), Carlos Eduardo Pereira (Brasil), Carola Saavedra (Brasil), Cristina Judar (Brasil), Eliane Robert Moraes (Brasil) Igiaba Scego (Itália), Itamar Vieira Júnior (Brasil), João Nemi (Brasil), Jose Delpino (Venezuela), José Paulo Pego (Portugal), José Santana Filho (Brasil), Leonardo Gil Gomez (Colômbia), Maria Esther Maciel (Brasil), Nilma Lacerda (Brasil), Rafael Gallo (Brasil), Raimundo Neto (Brasil), entre outros – em debates, leituras, saraus literários, ateliês de escrita e lançamentos de livros em livrarias, centros culturais, espaços institucionais ou voltados ao ensino universitário e secundário.

O conjunto das atividades compreende uma comissão organizadora composta por diversos atores do mundo do livro (editores, escritores, professores, estudantes em letras) do Brasil, da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá e acontece na Sorbonne Université, Fondation Calouste Gulbenkian (Paris), Maison de l’Amérique Latine, Université Paris Nanterre, Université Paris 13, Sciences PO-Paris, Université Paul Valéry (Montpellier 3), Université Rennes 2, Université de Lille, Lycée Jean-Macé, Lycée International de l’est parisien, Université Libre de Bruxelles, Indiana University Bloomington, Ohio State University, Northwestern University, The Pennsylvania State University, Yale University, Brown University, Columbia University, UCLA University, University of Washington, McGill University, Heidelberg Universität, Universität zu Köln, Universidade do Minho, Universität Zürich e na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul ( PUC/RS).

Leonardo Tonus falou com a São Paulo Review sobre a edição do festival. Leia abaixo:

Quais são as novidades do Printemps Littéraire Brésilien este ano? Acho importante que o festival possa se reinventar a cada nova edição em função da experiência adquirida em anos anteriores, bem como das necessidades impostas pelo contexto sócio, político e econômico mundial. A grande novidade deste ano diz respeito à pluralidade geográfica, editorial, etnocultural e de gêneros literários representados durante o evento. Serão mais de 50 participantes, dentre os quais romancistas, contistas, poetas, jornalistas, ensaístas e escritores voltados para o público infanto-juvenil. Do mesmo modo, contaremos com uma maior pluralidade da paisagem editorial brasileira. Esta se manifesta igualmente na representação etnocultural e das ‘chamadas’ minorias que atravessam também grande parte de minha pesquisa acadêmica e cujos ecos são perceptíveis nesta sexta edição. Várias mesas serão consagradas  à escrita diaspórica afro-brasileira, aos dramas dos refugiados, bem como à emergência do racismo, da misoginia e da homofobia no contexto nacional. Por outro lado, intensifica-se a dimensão internacional do evento que este ano conta com a presença de vozes literárias oriundas do universo latino-americano hispanófano, europeu e até marroquino. Por fim, vejo com bons olhos o fato de o festival conservar desde a primeira edição o seu formato pedagógico. Mais de 20 estabelecimentos de ensino secundário ou superior receberão os convidados do Printemps Littéraire Brésilien, que irá promover, pela primeira vez, uma Jornada de Estudos acadêmica intitulada ‘Qual Brasil? Qual Literatura?’. No ano passado, em Chicago experimentávamos, junto com meu colega César Braga Pinto, da Northwestern University, mesas-redondas voltadas à discussão de questões próprias ao campo literário e aos seus atores. Agora a ideia é que os autores reflitam sobre o futuro da produção cultural brasileira diante da crise econômica, social, política e ideológica pela qual atravessa o país. Nada melhor do que o próprio espaço de liberdade que propõe a universidade para se pensar questões relativas à homofobia, à liberdade de expressão ou ao futuro da pesquisa literária no Brasil.

Na atual edição o evento inclui cidades no Canadá e na Suíça, além dos países em que já acontecia. Como é fazer um festival desse tamanho, com tantos escritores, sem apoio financeiro ou patrocínio cultural? Desde o início, busco incluir novos espaços culturais, mas tentando sempre, na medida do possível, assegurar nossa presença em países ou cidades já  visitados: uma difícil equação entre desbravamento e fidelização. Isso explica a nossa presença na França, na Bélgica, na Alemanha ou em Portugal, bem como a decisão de visitar mais de dez cidades – nos Estados Unidos, no Canadá e na Suíça. A escolha de novos espaços condiz com minha preocupação de levar a cultura e a literatura brasileiras a espaços fragilizados do ponto de vista de sua presença e ensino. De mesmo modo busco adequar a participação do Printempscom universos que mantenham vínculos com nossa cultura ou que compartilhem questões abordadas no festival. O caso do Canada e da Suíça, neste ano, são emblemáticos. Levar autores que dialoguem diretamente com a questão da escrita migrante em espaços marcados pela presença de autores e atores exógenos à cultura local parece-me  mais do que pertinente. Em suma, o evento constrói-se diferentemente a cada ano e isso apesar das dificuldades que possam surgir pela ausência de patrocínios. Não contamos com nenhuma ajuda do governo brasileiro exceto a dos próprios participantes do festival. Saúdo, aqui, no entanto,  o apoio incondicional das instituições parceiras internacionais que, desde o início do festival, contribuem para a sua realização. Também saúdo os laços que pudemos estreitar ao longo desses anos com editoras brasileiras e estrangeiras, agentes literários, booktubers, jornais e revistas, como no caso da São Paulo Review.

Poderia fazer um balanço do Printemps, desde a sua primeira edição? O balanço é extremamente positivo sobretudo se levarmos em conta duas das metas principais do evento: o fomento à leitura e a difusão da produção literária recente brasileira. Vejo com bons olhos a inserção cada vez mais marcante dos autores convidados pelo evento nos campos literários nacional e internacional. Muitos dos autores que já participaram do evento contam com publicações no exterior, como no caso de Krishna Monteiro, que este ano irá apresentar a tradução de seu livro de contos apresentado na edição de 2016. Contrariamente a outros festivais, a escolha dos participantes não se faz mediante o seu ineditismo. Pelo contrário, o retorno de autores é sempre mais do que bem-vindo, caso se enquadrem na temática que se busca abordar. Isso explica a presença, dessa vez, de autores que já estiveram conosco, como Adriana Lisboa, Adriana Armony, Alexandre Vidal Porto e Lúcia Bettencourt.

 

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