Essas amálgamas carregam os vestígios de existências anteriores, de modo que cada parte soma-se ao todo duplamente: em função da sua natureza física e da sua carga histórica. Ao recompor objetos de afeto, surgem formas orgânicas de vontade expressionista, que invariavelmente ensejam a visão de uma vida pulsante, feita da junção de diferentes experiências e lembranças.
São compostas então variegadas e meticulosas contorções de tecidos com o uso de técnicas estritamente artesanais, operadas sempre por suas próprias mãos. Cada costura ou torção parte de procedimentos vernaculares para transbordar a noção do popular, conjugando numa só oração o naive — fruto de uma formação autodidata e informal — e o erudito — alinhado com o olhar e o gesto rigoroso —; o tradicional e o inventivo; o readymade e o autoral, de forma a tecer uma redistribuição afetiva, estética e política dos meandros artísticos, suas matérias-primas e seus resultados. No emaranhado de memórias e materializações intuitivas, biografias encontram linhas de fuga de maneira tátil e orgânica, experimentando novas e vibrantes formas de existência.
Sonia Gomes (Caetanópolis, 1948) vive e trabalha em São Paulo. A artista teve suas primeiras grandes mostras institucionais monográficas no Brasil, no MASP – Museu de Arte de São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea de Niterói.
Seus trabalhos também foram inclusos em mostras coletivas institucionais como 56ª Biennale di Venezia, Veneza, Italia (2015); Entangled, Turner Contemporary, Margate, Reino Unido (2017); Revival, The National Museum of Women in the Arts, Washington, EUA (2017); Art & Textiles – Fabric as Material and Concept in Modern Art, Kunstmuseum Wolfsburg, Alemanha (2013); Out of Fashion. Textile in International Contemporary Art, Kunsten – Museum of Modern Art Aalborg, Dinamarca (2013).