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Por Ricardo Biazotto*

Primeiro dia do ano 2000. Uma senhora resolve abrir seu coração e revelar, para sua neta, uma história que permaneceu guardada apenas na memória, desde a Segunda Guerra Mundial. Em seu relato, ela fala sobre uma família portuguesa que enfrentou situações trágicas durante o episódio que marcaria o mundo para sempre, quando foi obrigada a cruzar a Europa para fugir dos nazistas. Uma fuga que chegaria ao fim em terras brasileiras.

Este é o enredo de Uma praça em Antuérpia, romance de Luize Valente, que traz, a cada capítulo uma grande surpresa, encontros e desencontros entre personagens e decisões que precisam ser tomadas para que a família se mantenha unida e longe dos perseguidores. A maior das surpresas é quando a personagem secundária mais adorável do livro acaba usando de sua posição profissional para descontar uma decepção pessoal e amorosa, o que acaba interferindo em todo o desfecho.

Se a autora é considerada uma das grandes vozes do romance histórico contemporâneo no Brasil, a confirmação acontece pelo simples fato de que retrata toda uma época não apenas como uma escritora de ficção. A impressão é de que vivenciou tudo nos mínimos detalhes. Não bastasse a pesquisa, essencial para que isso fosse possível, tem nas mãos uma história excepcional e, mais do que isso, sabe como explorá-la.

Parte disso se deve a trajetória da protagonista, que enfrenta uma série de obstáculos e situações inesperadas. A solidariedade se transforma em elemento que dá toque de veracidade à história.

E é através de todo o contexto histórico que Luize conseguiu me levar ao passado, em um misto de aventura e aula de história convincente. O resultado é que através de Uma praça em Antuérpia foi possível conhecer mais do que apenas a vida de judeus perseguidos durante a segunda grande guerra, mas ver a grande ironia de ver um país, que, em um passado distante, expulsou os judeus, e depois serviu como único refúgio para esse povo.

Se em outras obras com o tema nazismo/diáspora a figura isolada de Hitler é explorada com grande frequência, dessa vez Salazar e Franco, líderes de Portugal e Espanha, respectivamente, ganham o mesmo destaque, sendo retratados como figuras essenciais para o entendimento de tudo que se passa com Clarice e sua família. No fim, personagens reais e ficcionais se encontram, direta ou indiretamente, ressaltando assim o que foi citado anteriormente sobre Luize Valente ser a principal represente do gênero romance histórico no país.

Falar sobre Uma praça em Antuérpia exigiria mais do que uma resenha. Seria necessário explorar com riqueza de detalhes cada personagem, por mais insignificante que possa parecer, além de possíveis debates sobre como um desencontro pode ter consequências trágicas e inimagináveis. Consequências essas que transformaram a cena final, sensível e emocionante como nenhuma outra, em algo para ser levado até o fim da vida. Enfim, um livro para se colocar no altar.

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Uma praça em Antuérpia, de Luize Valente (Record, 364 págs)

Avaliação: pena-01pena-01pena-01 (ótimo)

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Ricardo Biazotto é blogueiro literário do Over Shock (www.overshockblog.com.br). Já participou de diversas antologias, entre elas, Dias contados – Vol. 2, Moedas para o barqueiro – Vol. 3, Amores (im)possíveis, amor nas entrelinhas e Ponto reverso, todas da Andross Editora. O texto acima foi publicado no seu blog.

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