*Por Bruno Inácio*

Pouco depois de ser finalista do Prêmio Oceanos, o escritor Tiago Germano
volta a se destacar como um dos autores mais criativos da atual literatura brasileira em
A Índole dos Cactos, uma sensível e bem estruturada coletânea de crônicas
recentemente publicada pela Caos & Letras.

A obra está dividida em cinco partes – “Raízes”, “Adubos”, “Enxertos”,
“Espinhos” e “Flores” – e traz riqueza em temas e abordagens, sempre com um olhar
terno e atento ao cotidiano.

Na primeira parte, intitulada “Raízes”, o autor mergulha na própria infância e
apresenta desde figuras marcantes da sua cidade até histórias nada convencionais.
Um bom exemplo é a crônica em que conta sobre quando preferiu se vestir de
Mahatma Gandhi a se fantasiar de qualquer um dos super-heróis que faziam sucesso
entre as crianças durante aquele período de sua infância.

Em “Adubos”, o escritor dialoga com temas como literatura, novelas, telejornais
e esportes. Escreve com delicadeza sobre a morte de Fernando Sabino, referencia
Virginia Woolf e Gabriel García Márquez, confessa o furto de um livro numa biblioteca
e propõe diversos exercícios de metalinguagem, além de denunciar a vaidade que
observou nas letras “i” e “j”.

Logo depois, “Enxertos” e “Espinhos” trazem vivências e observações do dia a
dia, em meio a vizinhos que chegam e vão embora, uma mulher que chora no ônibus,
um assaltante que banca o anti-herói e uma moça que distribui panfletos sobre
chocolates e poesias.

Por fim, em “Flores”, o autor faz uma delicada abordagem sobre o amor e o
tempo, de maneira propositalmente dramática, sem deixar de lado o humor e a ironia.
Com histórias curtas capazes de abarcar grandes temas com sutileza, Tiago
Germano revira baús, satiriza dogmas, sussurra segredos e grita rebeldia. Não por
acaso, A Índole dos Cactos é um abrangente retrato de quem não está alheio à vida. Mais do que isso: é um livro que se aventura sem medo entre móveis antigos, pessoas peculiares e ruas movimentadas.

*

Bruno Inácio é jornalista, mestre em comunicação e pós-graduado em literatura
contemporânea. É autor de Desprazeres existenciais em colapso (Patuá) e Desemprego e outras heresias (Sabiá Livros) e colaborador da São Paulo Review e do
Jornal Rascunho.

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