Satíricon

satiricon

O mais antigo exemplar do romance latino a sobreviver até os nossos dias, ainda que de forma fragmentária, o Satíricon de Petrônio foi escrito por volta de 60 d.C., no período do imperador romano Nero. Narrando as aventuras de Encólpio, seu amante Ascilto e o servo Gitão, que formam um tumultuado triângulo amoroso e se metem em uma série de confusões para pagar uma dívida ao deus Priapo, o livro é uma grande sátira à caótica civilização romana, ao mesmo tempo em que registra de forma ferina as relações entre os diferentes estratos sociais da época.

Tudo é impreciso quando se trata de Petrônio Árbitro, a quem a tradição atribui a autoria do Satíricon: personagem da política romana sob Nero, chegou a cônsul e chefe de cerimonial — elegantiae arbiter — no palácio do imperador, antes de ser obrigado a cometer suicídio em 66 d.C. por envolvimento numa conspiração. Seja como for, uma coisa é certa: a prosa do Satíricon não tem nada de vago ou de impreciso, pródiga que é de traços fortes, detalhes argutos e alusões ferinas.

Convidando seus leitores a um riso sem cerimônias, Petrônio lança-os no meio do caos plebeu e mundaníssimo da Roma imperial, que se descortina ao sabor das cambalhotas do enredo. Seus personagens são de toda origem e de vária plumagem, de retores a gladiadores, de prostitutos a novos-ricos, cada um deles dotado de voz própria, crassa, lépida. Andam todos às voltas com o desejo e a ambição, motores centrais desse universo — e, vez por outra, também com a nostalgia e a melancolia. Têm todos, sobretudo, que se haver com a escrita cômica e paródica de seu autor, que não poupa nada nem ninguém — e que faz do Satíricon uma das obras centrais da literatura latina e — por que não? — do romance ocidental.

Sobre o autor
Pouco se sabe sobre Petrônio Árbitro, que a tradição considera ser o autor do Satíricon. De sua suposta lavra seriam apenas, além do próprio texto remanescente do romance, alguns fragmentos e poemas esparsos. A julgar pelas informações indiretas fornecidas pelo historiador romano Públio Cornélio Tácito (55-117 d.C.) em sua obra Anais (XVI.18-19), tratar-se-ia do político romano Tito Petrônio Árbitro, que exerceu importante papel junto a Nero como chefe do cerimonial do palácio imperial, função que, em latim, se dizia elegantiae arbiter (que significava algo como “perito, especialista, promotor de elegância, refinamento”). Essa atuação como um verdadeiro promoter teria valido a Petrônio a alcunha de Arbiter (Árbitro), que ele portava junto a seu nome. Além de ter sido, pois, um dos conselheiros do imperador, teria ele ocupado cargos importantes no Império Romano como procônsul da província da Bitínia, antiga região do noroeste da Ásia Menor por onde hoje se estende a Turquia, no litoral do Mar Negro, e como cônsul eleito em Roma. Tendo sido envolvido na conspiração de Pisão contra Nero em 65 d.C., foi forçado a suicidar-se, o que teria ocorrido no ano de 66 d.C.

Sobre o tradutor
Cláudio Aquati nasceu em São Paulo, em 1962. Foi aluno da Universidade de São Paulo (USP), onde se licenciou em Língua Portuguesa, bacharelou-se em Latim e doutorou-se em Letras. Desde 1989 é docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), onde realiza pesquisas ligadas aos Estudos Clássicos, leciona disciplinas relativas ao latim e à literatura clássica e dedica-se a pesquisas sobre o romance antigo romano. Participa do grupo de Pesquisa LINCEU — Visões da Antiguidade Clássica e, juntamente com Luis Augusto Schmidt Totti, publicou o livro Xeretando a linguagem em latim (2013).

Satíricon, de Petrônio (editora 34, 224 págs.)