
*Por Daniel Manzoni-de-Almeida*
Uma reflexão sobre a questão a partir da leitura do romance “Clara lit Proust” do escritor Stéphane Carlier
- Somos Clara
Quem nunca sentiu medo de um livro? Refiro-me àquela vontade de iniciar uma leitura, mas que é sufocada por comentários como: “É um livro muito difícil”, “Você precisa de muito tempo e dedicação para conseguir ler esse livro”, ou ainda “A linguagem é muito rebuscada”. Pior ainda quando esses comentários não são apenas sobre a obra em si, mas visam desencorajar ou subestimar quem deseja ler: “Talvez não seja o momento certo para você”, “Esse livro exige muito intelectualmente”, ou “Você não tem tempo nem capacidade para esse tipo de leitura”.
Esses discursos, por vezes sutis, diluídos no senso comum ou na aura que se constrói em torno de certas obras, atuam como micro agressões simbólicas. Com isso, livros tornam-se objetos temidos, vilões silenciosos nas estantes, desafiando nossa capacidade intelectual e, mais profundamente, nossa autoestima. Quem nunca provou o gosto amargo da desistência? Nesse embate, quase sempre saímos perdendo. E o livro permanece lá, intacto, com sua fama intacta.
Tudo isso para dizer algo que considero evidente: é apenas um livro! Um conjunto de palavras que conhecemos bem (se estivermos lendo em nossa língua). O livro existe para nos tornar mais humanos, por meio de uma troca subjetiva que a linguagem permite. O verdadeiro problema está no sequestro simbólico de algumas obras por grupos elitizados que envolvem certos livros em mistério, preconceito e privilégio. Criam-se normas, exclusões e hierarquias que afastam leitores em potencial. A grande questão, portanto, é: quem ganha quando mais pessoas são afastadas de determinadas leituras?
Mesmo sendo leitor experiente, nunca estive imune a esse medo. Trata-se de um sentimento compartilhado, revelador de receios coletivos e de exclusões simbólicas. Superei alguns desses desafios, como no caso de “Ulysses”, de James Joyce. A leitura foi inspirada pela escritora Amara Moira, que estudou essa obra em sua tese de doutorado, afirmando-se enquanto travesti em um espaço tradicionalmente excludente. Mas outros medos persistem.
Um deles é a obra-prima de Marcel Proust, “Em busca do tempo perdido”. Dividida em sete volumes, publicada entre 1913 e 1927, a obra soma mais de 2.000 páginas e é considerada uma das mais importantes da literatura ocidental. Cerca de dez anos atrás, decidi começar esse projeto. Fui a uma livraria elegante em São Paulo disposto a comprar os livros. Quando perguntei ao vendedor, ele reagiu com estranhamento: “Mas você vai levar os sete de uma vez?”. Percebi, depois, que não era uma pergunta qualquer. Era um teste.
Ao confirmar que eram para mim mesmo, e que seria um presente para uma pessoa especial — eu —, o vendedor respondeu: “Boa sorte. Vai ser um desafio difícil, hein…”. O segundo obstáculo foi interno: eu entenderia aquelas frases? Seria capaz? Estaria perdendo tempo? Essas dúvidas não são fúteis; tocam a capacidade humana mais básica: compreender o outro e ser compreendido. Não é à toa que, ao mencionar Proust em rodas de conversa, não faltam respostas como: “Proust é para poucos”.
Consegui avançar até o final do segundo volume. E parei. Frustração literária. O motivo: as micro agressões elitistas em torno da leitura. Me envolvi com grupos, esperava troca, mas encontrei disputas por autoridade sobre como ler Proust. Senti-me deslocado. Interrompi a leitura.
Ao me mudar para a França, decidi retomar o projeto. Em francês, desta vez. Comprei não só os volumes, mas biografias e estudos críticos. Mais maduro, quis me aproximar da obra por outras margens. Mas vieram novas críticas: “Pra quê ler um autor elitista?”, “Isso não vai te ajudar a pensar os problemas sociais reais”. Meu corpo e minha mente, diziam, não estavam autorizados a esse tipo de leitura. Estavam destinados à literatura de engajamento social.
Isso me incomodou profundamente. Por que não posso pensar além da minha classe social? Ler Proust não pode ser um ato subversivo? Uma travessia trans classista? Um gesto de imaginação radical? Não temos direito à subjetividade refinada de “Em busca do tempo perdido”?
Nesse contexto, chegou até mim o livro “Clara lit Proust”, de Stéphane Carlier. Antes de voltar ao original, comecei por esse romance. Quem era essa Clara que lia Proust? Personagem? Pessoa real? Assim como Amara Moira com Joyce, Clara tornou-se minha inspiração.
- Eu lendo a Clara lendo Proust
“Clara lit Proust” é uma narrativa simples, do cotidiano. Conta a história de Clara, jovem cabeleireira em uma pequena cidade francesa, que encontra por acaso o primeiro volume de “Em busca do tempo perdido” deixado por um cliente. Leitora de romances populares, ela se intriga com o livro, vai lendo aos poucos, e logo está mergulhada na prosa densa e poética de Proust. A partir disso, sua vida ganha outras cores.
O romance tem quatro partes: a primeira, “Cindy Coiffure”, apresenta o mundo apagado de Clara, seu trabalho, colegas e namorado narcisista. A segunda, “Marcel”, mostra sua entrada no universo proustiano e a transformação que isso opera em seu olhar. A terceira, “Clara”, revela uma nova mulher, mais ativa, mais consciente de si. A última parte é o epílogo, com um desfecho proustiano que não revelarei aqui.
Identifiquei-me com Clara. Sua experiência com o outro através da literatura ressoou em mim. Sua vida muda com a leitura. Pode parecer uma banalidade: uma mulher branca lendo um autor clássico. Mas é muito mais que isso. É sobre o direito de imaginar. De viver para além do real imediato. De se permitir sonhar.
Para pensar isso, recorro a Antônio Candido (1918-2017) e seu texto “O direito à literatura” (1988 /2011). Candido defende que a fabulação é essencial à existência humana. Não vivemos apenas de necessidades materiais. A literatura não é supérflua. É essencial. Um direito humano. Como ele afirma: “(…) A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante (…)” (p. 180).
Num mundo obscurecido por guerras e desigualdades, a literatura ganha ainda mais relevância. Clara representa muitos de nós: famintos pelo direito de imaginar diante do horror.
- A entrevista com Stéphane Carlier
DANIEL: Como você se tornou um escritor?
STÉPHANE: Primeiro me tornei escritor lendo. Realmente passei o início de minha vida adulta lendo. Proust, Simenon, John Irving, Balzac, Ellroy, Dostoiévski, Albert Cohen, Julien Green… Era natural que eu quisesse contar minha própria história. Escrevi algumas linhas, um pequeno trecho, que me emocionou. Eu costumava desenhar muito ao mesmo tempo e me pareceu que a escrita oferecia um campo de expressão mais amplo e sutil.
DANIEL: Como surgiu a ideia de Clara lit Proust?
STÉPHANE: A ideia do livro me veio de repente, na praia de Vendée, em maio de 2017. O tema e o título me ocorreram ao mesmo tempo. Eu realmente queria contar a história do encontro entre uma jovem mulher sem inclinação literária e um gigante da literatura. E gostei muito da ideia de criar um paralelo entre o salão de cabeleireiro e os salões proustianos.
DANIEL: Como você começou a escrever o livro? Que sensações, sentimentos e emoções você experimentou ao escrevê-lo?
STÉPHANE: O livro não foi difícil de escrever: ele é curto e sua construção é simples, elementar. O verdadeiro desafio foi reler à la recherche du temps perdu e distinguir entre meus sentimentos e os de Clara. Fora isso, gostei muito de escrevê-lo. Quanto mais eu escrevo, mais eu gosto. Não achei que seria um sucesso tão grande; pelo contrário, achei que ninguém se interessaria.
DANIEL: O livro “Clara lit Proust” fala de uma jovem comum, que trabalha em emprego ordinário em um salão de beleza e que um dia, por acaso, encontra um livro de Proust esquecido por um cliente do salão de beleza em que ela trabalha. A partir da leitura desse livro descobre nele uma nova experiência de vida, do tempo e das relações a sua volta. Você acha que a literatura, ainda hoje, pode interferir na vida individual das pessoas? Ou que ela pode ter um poder maior de influenciar na vida coletiva de todos nós?
STÉPHANE: Acho que, como qualquer grande livro, La Recherche pode mudar a sensibilidade do leitor. É realmente como ouvir Bach ou certas peças de Schubert. O gênio eleva aqueles que se interessam por ele. Mas temo que, nos dias de hoje, à medida que as pessoas se tornam cada vez mais viciadas na gratificação instantânea das redes sociais, elas não têm mais paciência para ler Proust.
DANIEL: Proust é considerado um escritor difícil, de linguagem rebuscada e hermética e os seus escritos causam um certo medo nos leitores. Clara, a sua personagem, mostra que ao contrario, os livros de Proust são simples e acessíveis. E que, em verdade por outro lado, a leitura de Proust exige concentração, disciplina e entrega. Muitas dessas habilidades estão comprometidas nos nossos tempos devido as muitas distrações da internet e telefones. Você acredita que a literatura, por exemplo de Proust, pode ser um antidoto para nossa era hiper conectada e hiper acelerada?
STÉPHANE: Não é complicado: qualquer coisa que vá contra o que você chama de “esse frenesi contemporâneo” é a cura. Silêncio, desconexão, qualidade, cultura, nuance, sutileza, empatia e assim por diante. O livro é uma fábula porque, basicamente, tenho muito pouca esperança de que os jovens se interessem por Proust, que é um autor realmente difícil. O que me interessava não era fazer com que eles lessem Proust, mas pelo menos tentar fazê-los entender por que ele é bom – ou, se preferir, por que é melhor do que Tik Tok.
DANIEL: Seu livro fala de uma jovem simples que entra em um mundo novo pela literatura. Ela passa a se sentir incluída em um novo mundo a partir da leitura de Proust. Como o seu livro pode contribuir para o debate importante sobre diversidade e inclusão na sociedade?
STÉPHANE: Este livro é a história do encontro de dois forasteiros. Proust viveu à margem da sociedade. Ele era um grande burguês, mas seu gênio o tornou um rebelde. E, assim como Proust, Clara deixa o caminho que lhe foi traçado. A história funciona porque Proust, que era homossexual, tem uma sensibilidade que acho que pode tocar uma jovem mulher. Mas não é seu gênero que faz de Clara uma heroína, mas sim suas qualidades intelectuais (sua curiosidade, sua sensibilidade às palavras). Ela poderia ter sido um jovem heterossexual, um aprendiz de gesseiro ou padeiro. A história provavelmente teria sido mais difícil de escrever e ainda menos plausível, mas não menos interessante.
Referências bibliográficas
Candido, A. (2011). O direito à literatura. In A. Candido (Ed.), Vários escritos (5.ª ed.; pp. 171–193). Ouro sobre azul. (Trabalho original publicado em 1988)
À LA RECHERCHE DE LA LECTURE PERDUE
Une réflexion à partir du roman « Clara lit Proust » de Stéphane Carlier
Par Daniel Manzoni-de-Almeida
Écrivain, psychanalyste, docteur en théorie littéraire.
- Nous sommes Clara
Qui n’a jamais redouté un livre ? Je parle de ce désir de lire étouffé par des remarques comme : « C’est un livre très difficile », « Il faut beaucoup de temps et de dévouement pour le lire », ou encore : « Le langage est trop alambiqué ». Pire encore, ces commentaires ne visent parfois pas seulement l’ouvrage, mais cherchent à décourager, voire à dévaluer celles et ceux qui désirent le lire : « Ce n’est peut-être pas le bon moment pour toi », « Ce livre est très exigeant intellectuellement », ou « Tu n’as ni le temps ni les capacités pour ce genre de lecture ».
Ces discours, souvent subtils, diffusés par le sens commun ou l’aura intimidante de certains ouvrages, agissent comme des micro-agressions symboliques. Les livres deviennent alors des objets intimidants, des ennemis silencieux sur nos étagères, mettant en doute nos capacités intellectuelles et, plus profondément encore, notre estime de soi. Qui n’a jamais goûté à l’amertume de l’abandon ? Dans ce combat, nous perdons souvent. Et le livre, lui, reste là, intact — tout comme sa réputation.
Tout cela pour dire une chose simple, presque évidente : ce n’est qu’un livre ! Un assemblage de mots que nous connaissons bien (surtout s’il est dans notre langue). Les livres existent pour nous rendre plus humains, à travers l’échange subjectif que permet le langage. Le véritable problème vient du détournement symbolique de certaines œuvres par des cercles élitistes, qui les entourent de mystère, de préjugés et de privilèges. Ils érigent des normes, créent des exclusions et établissent des hiérarchies qui éloignent les lecteurs potentiels. La question fondamentale est donc : qui profite de cette exclusion ?
Même en tant que lecteur aguerri, je n’ai jamais été entièrement à l’abri de cette peur. Elle est collective, révélatrice de peurs sociales et d’exclusions symboliques. J’ai su surmonter certains de ces défis, comme la lecture d’Ulysse, de James Joyce. Ce fut grâce à l’écrivaine Amara Moira, qui a consacré sa thèse à cette œuvre tout en affirmant son identité de travesti dans un espace académique encore trop excluant. Mais d’autres peurs subsistent.
L’une d’elles concerne À la recherche du temps perdu de Marcel Proust. Cette œuvre monumentale, divisée en sept volumes publiés entre 1913 et 1927, totalise plus de 2 000 pages et est considérée comme l’un des sommets de la littérature occidentale. Il y a une dizaine d’années, je me suis lancé dans ce projet. Je suis allé dans une élégante librairie de São Paulo acheter les livres. Lorsque j’ai demandé les volumes au vendeur, sa réaction m’a surpris : « Vous allez vraiment prendre les sept d’un coup ? » Ce n’était pas une simple question, mais une mise à l’épreuve.
Quand j’ai précisé que c’était pour moi, un cadeau que je m’offrais, il a répondu : « Bonne chance, ce ne sera pas facile… » Deuxième obstacle : moi-même. Comprendrais-je ces phrases ? En serais-je capable ? Est-ce que je perds mon temps ? Ces doutes ne sont pas anodins. Ils touchent à la capacité humaine fondamentale de comprendre et d’être compris. Il n’est pas rare d’entendre, dans certaines conversations : « Proust, c’est pour une élite ».
J’ai réussi à lire jusqu’à la fin du deuxième volume. Puis j’ai abandonné. Frustration littéraire. La cause : les micro-agressions élitistes qui entourent cette lecture. J’ai rejoint des groupes, espérant y trouver un échange, mais je n’y ai trouvé que des disputes d’autorité sur « la bonne manière » de lire Proust. Je ne m’y sentais pas légitime. J’ai arrêté.
Plus tard, installé en France, j’ai repris le projet — cette fois en français. J’ai acheté non seulement les volumes, mais aussi des biographies et des études critiques. Plus mûr, je voulais aborder cette œuvre sous un nouvel angle. Mais de nouvelles critiques ont surgi : « Pourquoi lire un auteur élitiste ? », « Ça ne t’aide pas à réfléchir aux vrais problèmes sociaux ». On me disait, en somme, que mon corps et mon esprit n’étaient pas « autorisés » à ce genre de lecture, réservée à une certaine classe. Que je devais me cantonner à la littérature engagée.
Cela m’a profondément troublé. Pourquoi ne pourrais-je pas penser au-delà de ma classe sociale ? Lire Proust, n’est-ce pas aussi un acte subversif ? Un passage d’une classe à une autre ? Un geste d’imagination radicale ? N’avons-nous pas, nous aussi, droit à la subjectivité raffinée de La Recherche ?
C’est dans ce contexte que le roman Clara lit Proust de Stéphane Carlier m’a trouvé. Avant de me replonger dans l’original, j’ai commencé par cette œuvre. Qui était cette Clara qui lisait Proust ? Une héroïne ? Une femme réelle ? Comme Amara Moira avec Joyce, Clara est devenue mon guide.
- Moi, lisant Clara, lisant Proust
Clara lit Proust est un roman simple, ancré dans le quotidien. Il raconte l’histoire de Clara, jeune coiffeuse dans une petite ville française, qui découvre par hasard le premier tome de La Recherche, oublié par un client. Lectrice habituelle de romans populaires, elle est intriguée, se met à lire peu à peu et se laisse emporter par la prose dense et poétique de Proust. Peu à peu, sa vie prend une autre tournure.
Le roman se divise en quatre parties : Cindy Coiffure : l’univers terne de Clara, son travail, ses collègues, son petit ami narcissique ; Marcel : son entrée dans l’univers proustien et le bouleversement de son regard sur le monde ; Clara : une nouvelle femme émerge, plus active, plus consciente d’elle-même ; Enfin, l’épilogue, avec une fin proustienne — que je ne révélerai pas ici.
Je me suis reconnu en Clara. Son expérience de l’altérité par la littérature a profondément résonné en moi. Sa vie se transforme grâce à la lecture. Cela peut paraître banal : une femme blanche lisant un auteur classique. Mais c’est bien plus que cela. Il s’agit du droit d’imaginer, de vivre au-delà du réel immédiat, de s’autoriser à rêver.
Pour approfondir cette réflexion, je me tourne vers Antônio Cândido (1918-2017) et son texte Le droit à la littérature (1988 /2011). Il y affirme que l’imaginaire est essentiel à l’existence humaine. Nous ne vivons pas que de besoins matériels. La littérature n’est pas un luxe : elle est essentielle. Un véritable droit humain. Comme il l’écrit :
« (…) La littérature développe en nous la part d’humanité, dans la mesure où elle nous rend plus compréhensifs et ouverts à la nature, à la société, à nos semblables (…) » (p. 180).
Dans un monde assombri par les guerres et les inégalités, la littérature devient plus que jamais vitale. Clara, c’est nous : affamés de ce droit à l’imaginaire face à l’horreur du réel.
- Entretien avec Stéphane Carlier
DANIEL : Comment êtes-vous devenu écrivain ?
STÉPHANE : Je suis devenu écrivain d’abord en lisant. J’ai vraiment passé le début de ma vie d’adulte à lire. Proust, Simenon, John Irving, Balzac, Ellroy, Dostoïevski, Albert Cohen, Julien Green… Logiquement, l’envie de raconter à mon tour m’est venue. J’ai écrit quelques lignes, un petit passage, qui m’a ému. Je dessinais beaucoup parallèlement et il m’a semblé que l’écriture permettait un champ d’expression à la fois plus vaste et plus subtil.
DANIEL : Comment vous est venue l’idée du livre Clara lit Proust ?
STÉPHANE : L’idée du livre m’est venue d’un coup, à la plage en Vendée, en mai 2017. Le sujet et le titre me sont venus en même temps. J’avais très envie de raconter la rencontre entre une jeune femme qui n’a aucune disposition littéraire et un géant de la littérature. Et l’idée de créer un parallèle entre le salon de coiffure et les salons proustiens me plaisait beaucoup.
DANIEL : Comment avez-vous commencé à écrire ce livre ? Quelles sensations, sentiments et émotions avez-vous éprouvés tout au long de son écriture ?
STÉPHANE : Le livre n’a pas été difficile à écrire : il est court et sa construction simple, élémentaire. Le véritable défi a été de relire À la recherche du temps perdu en faisant la distinction entre mon ressenti et celui de Clara. Autrement, j’ai eu beaucoup de plaisir à l’écrire. Plus j’écris et plus j’ai de plaisir à le faire. Je ne pensais pas qu’il aurait un tel succès ; au contraire, je me disais qu’il n’intéresserait personne.
DANIEL : Clara lit Proust raconte l’histoire d’une jeune femme ordinaire, employée dans un institut de beauté, qui trouve par hasard un livre de Proust oublié par un client. Sa lecture transforme son rapport au temps, à la vie et aux relations qui l’entourent. Pensez-vous que la littérature puisse encore aujourd’hui s’immiscer dans la vie individuelle des lecteurs ? Peut-elle exercer une influence plus large sur la société ?
STÉPHANE : Je crois que, comme tout grand livre, La Recherche peut changer la sensibilité de son lecteur. C’est vraiment comme d’écouter Bach ou certains morceaux de Schubert. Le génie élève celui qui s’y intéresse. Mais je crains qu’à notre époque, les gens, de plus en plus addicts à la gratification immédiate des réseaux sociaux, n’aient plus la patience de lire Proust.
DANIEL : Proust est souvent perçu comme un auteur complexe, au style dense et exigeant, suscitant parfois une certaine appréhension chez les lecteurs. Pourtant, votre héroïne, Clara, démontre qu’au contraire, ses livres peuvent être accessibles et lumineux. Cependant, la lecture de Proust requiert de la concentration, de la discipline et un certain engagement, qualités mises à mal par l’hyperconnectivité et les sollicitations numériques constantes de notre époque. Pensez-vous que la littérature, et notamment Proust, puisse constituer un remède à cette frénésie contemporaine ?
STÉPHANE : Ce n’est pas compliqué : tout ce qui va à l’encontre de ce qui caractérise ce que vous appelez “cette frénésie contemporaine” en constitue le remède. Le silence, la déconnexion, la qualité, la culture, la nuance, la subtilité, l’empathie, etc. Le livre est une fable car, au fond, j’ai très peu d’espoir de voir la jeunesse s’intéresser à Proust qui est un auteur vraiment difficile. Ce qui m’intéressait, ce n’était pas de les amener à lire Proust mais au moins d’essayer de leur faire comprendre pourquoi c’est bien – ou, si vous voulez, pourquoi c’est mieux que Tik Tok.
DANIEL : Votre roman met en scène une jeune femme qui, grâce à la littérature, accède à un nouveau monde et s’épanouit. Comment votre livre peut-il s’inscrire dans le débat actuel sur la diversité et l’inclusion dans la société ?
STÉPHANE : Ce livre, c’est l’histoire de la rencontre de deux marginaux. Proust vivait en marge de la société. C’était un grand bourgeois mais son génie en faisait un rebelle. Et, comme lui, Clara sort du chemin tout tracé devant elle. L’histoire fonctionne parce que Proust, qui était homosexuel, a une sensibilité qui, à mon avis, peut toucher une jeune femme. Mais ce n’est pas son genre qui fait de Clara une héroïne, ce sont ses qualités intellectuelles (sa curiosité, sa sensibilité aux mots). Elle aurait pu être un jeune homme hétérosexuel, apprenti plaquiste ou boulanger. L’histoire aurait sans doute été plus difficile à écrire et encore moins vraisemblable mais pas moins intéressante.
Références bibliographiques
Candido, A. (2011). O direito à literatura. In A. Candido (Ed.), Vários escritos (5.ª ed.; pp. 171–193). Ouro sobre azul. (Trabalho original publicado em 1988)
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Daniel Manzoni-de-Almeida é escritor, psicanalista Doutor em Teoria Literária.