* Por Nanete Neves *

 Livros para Cabo Verde, atenção autores e editores – Leandro Garcia está reunindo livros para enviá-los a dois núcleos de literatura brasileira em Cabo Verde, com a cooperação da Marinha e da embaixada brasileira naquele país. Quem desejar fazer doações pode procurá-lo inbox para receber as coordenadas. No fim de janeiro, uma fragata sairá do RJ rumo a Cabo Verde, levando equipamentos e também os livros que conseguirem.”

 

Uma das ações mais comoventes em prol da literatura brasileira foi disparada com este post de Joselia Aguiar (escritora, curadora da Flip 2017 e da próxima, de 2018) no Facebook, em 18 de dezembro último. Ela foi tão compartilhada nas redes sociais que é bom a marinha reservar para isso o seu maior contêiner, tamanho o interesse dos autores em ter suas obras lidas naquele país lusófono. A iniciativa é de Leandro Garcia, professor-doutor de teoria literária da UFMG, que nos conta aqui como tudo se deu.

Como você foi parar em Cabo Verde? Fui convidado pelo Setor Cultural do Itamaraty, através da Embaixada do Brasil em Cabo Verde. A proposta inicial era proferir uma palestra sobra a vida e a obra do Padre. Antônio Vieira, nosso maior orador barroco, que teve uma rápida passagem por Cabo Verde, em 1652, e escreveu um conjunto importante de cartas, que são os primeiros registros da cultura, da religião e da antropologia caboverdiana. E como sou especialista em cartas/correspondências… veio o convite.

A literatura brasileira é conhecida e estudada por lá? Os nossos clássicos sim, estes são lidos no curso de Letras local e também nas escolas. Todavia, a literatura brasileira contemporânea não chega lá, o que se produz hoje no Brasil – e nossa produção literária é superdiversificada -, isso não chega lá. A principal razão é a falta de dinheiro deles para importar livros do Brasil. Estamos falando de um país financeiramente pobre, no qual a cultura não é prioridade. O que eles leem de atualidade do Brasil são os livros de autoajuda, isso chega muito lá, mas boa literatura não.

Qual o gatilho que fez surgir a ideia dessa remessa? Exatamente esta situação narrada acima. Fiquei realmente perplexo em não encontrar literatura brasileira contemporânea nas bibliotecas que visitei, e nem nas livrarias para compra. Nada mesmo. Então pensei: trata-se de um país lusófono, que admira o Brasil ao extremo, mas cadê a nossa literatura por aqui? Este foi o gatilho.

Que importância terá essa atualização da literatura brasileira nos centros de leitura de Cabo Verde para o conjunto da literatura lusófona? Uma pergunta complexa, pois, de longe, fica difícil mensurar este impacto. Tenho o compromisso dos profissionais destas duas bibliotecas em me dizer, me manter atualizado em relação à procura por estes dois núcleos de leitura que serão criados. Mas posso especular algo: não passará despercebido, isso tenho certeza, pois é um país pequeno, onde as coisas impactam muito rápido e de forma visível. Minha maior expectativa é com os alunos de Letras da Universidade de Cabo Verde. Estes estudam a literatura brasileira na sua grade curricular, e precisam ser atualizados com o que publicamos por aqui.

Você contou com a colaboração do governo brasileiro para essa campanha? A colaboração está vindo de duas frentes: a) da Marinha brasileira, que levará tudo o que conseguirmos numa fragata que partirá para a Europa, então fará uma parada em Cabo Verde para deixar os nossos livros; b) da nossa Embaixada na capital Santiago. Nossos diplomatas naquele país fazem um trabalho exemplar de difusão da cultura brasileira, patrocinando o Centro Cultural do Brasil, que possui uma imensa quantidade de ações sócio-cultural-educativas naquela cidade, provocando um impacto real do ponto de vista humano e cultural.

Num mundo ideal seria bacana que se pudesse fazer o mesmo com outros países africanos, tão carentes como nós dessa troca. Você acha isso possível? Acho, e já estou vendo como fazer isso. Felizmente, tenho muitos amigos no Itamaraty, e já mandei alguns e-mails a estes falando sobre Cabo Verde e abrindo novas frentes como esta em países como São Tomé e Príncipe, Moçambique, Angola, Guiné Bissau e Guiné Equatorial. Não posso garantir nada ainda, mas estou comprometido em criar/pensar/fazer algo semelhante, nestes países, ao que comecei em Cabo Verde.

Serviço:

Escritores e editoras interessados podem enviar dois exemplares de cada livro para Leandro Garcia, Rua Marechal Deodoro, 119 # 1.102 – Centro, 25.620-150   Petrópolis – RJ

*

Nanete Neves é escritora, autora de O poeta e a foca

Foto ilustrativa: @Zé Pereira, Cabo Verde

 

Tags: