N o dia 29 de setembro chega aos cinemas das principais capitais do Brasil o filme “Lima Barreto, ao Terceiro Dia”, uma obra de ficção inspirada na peça homônima de Luís Alberto de Abreu. Dirigido por Luiz Antonio Pilar, o longa aborda os três dias da última internação hospitalar do escritor Lima Barreto, no manicômio D. Pedro II, em 1919, no Rio de Janeiro, após uma forte crise de alucinação. Seu nome de batismo era Afonso Henriques de Lima Barreto. Como jornalista e escritor, publicou romances, sátiras, contos, crônicas e muitas obras em periódicos, principalmente em revistas populares ilustradas e anarquistas do início do século XX.

O roteiro traz Lima Barreto em duas versões: aos 42 anos, interpretado por Luis Miranda (foto), e mais jovem, aos 30, na pele do ator Sidney Santiago Kuanza, fruto da sua memória e alucinações constantes. Além disso, durante toda a narrativa, é possível perceber três momentos distintos: o real, onde Lima conversa com um doente mental que divide com ele o quarto no hospital; o passado, o qual ele relembra diversas vezes o período que era jovem e escrevia o romance “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, uma de suas principais obras, e, por fim, temos o momento da ‘ficção’, onde os personagens deste mesmo romance ganham vida e são mostrados em cena de uma forma curiosa, fantasiosa e caricata.

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No ano do centenário de morte de Lima Barreto (1881-1922), a editora Malê lança Uma temporada no inferno. O personagem do romance de Henrique Marques Samyn volta para reescrever a história no hospício onde Lima esteve em dois períodos, na Urca.  Foi na segunda internação, entre o Natal de 1919 e fevereiro de 1920, que ele fez as anotações publicadas posteriormente como Diário do hospício e que serviram de base para O cemitério dos vivos, um romance inacabado.

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O escritor Marcelo Moutinho está lançando uma nova edição do livro de contos A palavra ausente pela mesma editora Malê. Os dez textos foram criados entre 2009 e 2010, após a morte do pai do autor, vítima de um câncer. A obra é dedicada a ele, mas fala de perdas em diferentes matizes, da morte à desilusão amorosa, passando pela solidão e o desemprego. Para Moutinho, agora atualizado, o livro ficou melhor. “A ideia de reeditar se deu porque a obra já não era encontrada nas livrarias e pela questão da efeméride dos dez anos do primeiro lançamento. Quando comecei a conversar com a Malê sobre a reedição, uma coisa estava bem definida na minha cabeça: ela precisava ser, inclusive graficamente, distinta da anterior. Daí a proposta do diálogo com as artes visuais”, diz o escritor. A atual edição será ilustrada pelo artista Raul Leal.

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Lançada pela Paulus Editora e compondo a coleção “Comunicação”, a obra “Neo-Humano – A sétima revolução cognitiva do Sapiens”, de Lucia Santaella, percorre as denominadas sete revoluções cognitivas do Sapiens, relacionadas à cultura, respectivamente, da oralidade, da escrita, do livro, de massas, das mídias, do digital e dos dados, a partir dos conceitos de inteligência, evolução, revolução e a extrassomatização da mente humana. Segundo a autora, a humanidade vive atualmente o seu sétimo ciclo cognitivo, marcado pela dataficação e plataformização. As consequências sociais, psicológicas e ambientais da cultura que origina o neo-humano também são discutidas, ao tratar da inteligência artificial e da nova função que os algoritmos adquiriram.

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Thomas Piketty é mundialmente reconhecido pela sólida pesquisa sobre desigualdade e redistribuição de renda, que levou o tema de seu estudo acadêmico ao centro das discussões políticas e das agendas internacionais. Mas sua imersão em tópicos áridos como a concentração da riqueza não o coloca no time dos apocalípticos. É bem verdade que, nas últimas gerações, os contrastes econômicos e sociais têm aumentado de forma significativa em diversas partes do mundo — e Piketty é um dos estudiosos mais dedicados a compreender e encontrar soluções para este problema. Mas o fato é que, ao longo dos séculos, temos caminhado rumo a uma maior igualdade.

Em Uma breve história da igualdade, lançado no Brasil pela Intrínseca, o renomado economista francês mostra que, apesar dos retrocessos e contratempos, existe um movimento histórico orientado para a igualdade, pelo menos desde o fim do século XVIII. Em pouco mais de trezentas páginas, o autor de O capital no século XXI — obra seminal que revolucionou o pensamento econômico contemporâneo — oferece sólidos argumentos de por que devemos ser otimistas em relação ao progresso humano.

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Em pleno século 21, o Diabo – quem diria – anda em baixa entre os mortais apesar de ter muita gente, em nosso país, invocando o anjo das trevas a qualquer pretexto. Quase obsoleto, diante da crueza humana, o Diabo segue cabisbaixo, consternado, autoridade abalada, perdendo feio para homens e mulheres que o superaram de maneira formidável em matéria de maldade e poder de destruição.

Em O fastio do Diabo, novo romance de Ana Luisa Escorel, a escritora cria uma sátira sociopolítica do Brasil, unindo passado e presente. Com humor ácido e um trabalho perspicaz da linguagem, ela perpassa 522 anos da história brasileira e conclui que o tinhoso conta com aliados formidáveis entre nós. A obra chega às livrarias em setembro, mês do bicentenário da Independência do Brasil, pela Ouro sobre Azul, editora criada pela autora, com foco em literatura brasileira e obras voltadas para a análise da realidade brasileira.

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Predileções em carma vivo (Edições CP) é o último título do escritor Cláudio Portella. Cada história é uma surpresa inesperada carregada de referências, ternura e vanguarda. A obra ganhou o concurso de conto da UBENY – União Brasileira de Escritores em Nova York. O autor de Fortaleza é também crítico literário e jornalista cultural. Autor dos livros Bingo! (2003; segunda edição, 2015), Melhores poemas Patativa do Assaré (2006; edição e-book, 2012), Crack (2009; segunda edição, 2015), entre vários outros.

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Sozinha (Editora Gutenberg) é o quarto e mais recente romance da escritora keka Reis. A obra traz uma reflexão sobre adolescentes e a figura materna. O livro conta a história da personagem Rosa, que se sente sozinha após a partida repentina da mãe. Entretida com a vida escolar, amigas e namorado, a protagonista está na fase intensa da adolescência, cheia de impulsos rebeldes e certezas absolutas.

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Durante meio século, entre as décadas de 1950 e 1990, Renato Gouvêa Magalhães revolucionou a história da arte no Brasil. Apoiou artistas, realizou exposições, organizou leilões e produziu “São Paulo: Sociedade Anônima”, importante filme do cinema brasileiro, lançado em 1965. Ele liderou o setor de vendas de obras de artes e estabeleceu preço, qualidade e glamour até então nunca alcançados no mercado nacional, tanto no padrão dos eventos quanto nos valores das peças.

Os detalhes desta jornada efervescente são contados em Maestro, lançamento da Matrix Editora, escrito pelo biógrafo Rogério Godinho. A biografia, repleta de fotos de época e reproduções de importantes obras de artistas citados ao longo do livro, revela os primeiros passos da trajetória de uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do setor artístico brasileiro no século XX, que foi diretor do MASP por mais de 50 anos e segue, no alto de seus 93 anos, antenado ao mercado de arte.

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No dia 10 de outubro, às 18h, a Estação Liberdade e o Goethe-Institut realizam uma palestra presencial em torno do lançamento da obra Maquiavel, a democracia e o Brasil, de Renato Janine Ribeiro. Uma coedição com Edições Sesc São Paulo. Além de celebrar o lançamento do livro, o encontro aproveitará o momento político para discutir as eleições, em particular se o mérito ou o acaso estão por trás da chegada ao poder dos presidenciáveis na história recente do Brasil.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo (USP), na qual se doutorou após defender mestrado na Universidade de Paris I (Pantheon‑Sorbonne), França. Tem-se dedicado à análise de temas como o caráter teatral da representação política, a ideia de revolução, a democracia, a república e a cultura política brasileira. Foi ministro da Educação no governo Dilma Rousseff e, em 2021, eleito presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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