* Por Maik Bárbara *

A cultura do “faça-você-mesmo” é algo importado que o brasileiro vem aprendendo rápido. Mas quando se trata da publicação de um livro, isso funciona? O mercado independente no Brasil cresce cada vez mais, aparecendo e trazendo novidades. A Editora Nocaute é uma delas. Com uma proposta inovadora, a empresa promete trazer novas perspectivas ao mercado editorial, publicando autores nacionais ainda desconhecidos. E ainda publicar livros que funcionem como uma pancada na cabeça do leitor, um apagão, iniciando com seu primeiro projeto: o romance Um gato chamado Borges, de Vilto Reis, em financiamento coletivo via Catarse.

Com a chegada da internet no final do século XX, o nascimento da gigante Amazon.com em 1999, a aparição das mídias sociais, do Youtube, do e-commerce que mudou a forma de comprar tudo que há, viraram de cabeça para baixo o mercado editorial independente. Os autores brasileiros sem espaço nas editoras encontraram pontos claros e estratégicos onde o marketing pessoal e a internet proporcionaram visibilidade. Essa nova fórmula ao lado da onda da impressão por demanda (sistema em que o autor paga para ter seus livros impressos) criou um mercado em que o escritor passou também a ser sua própria editora, editor, publicitário, revisor, copydesk, designer, responsável logístico, de pós-vendas e, mais uma vez, responsável pelo próprio marketing. Vários talentos surgiram daí. Grandes nomes do Brasil de hoje são frutos de popularidade nas redes sociais e sistemas de comunicação livre, tal como o exemplo da trajetória de Eduardo Spohr e o best-seller A Batalha do Apocalipse, sucesso tanto no Brasil quanto em quatro outras línguas.

No entanto, como em toda novidade, o tempo revela problemas. O escritor deve trabalhar, estudar, ter responsabilidades familiares, comer, viver, pesquisar para suas histórias, escrever, ler, revisar, ler mais, sair de casa de vez em quando, enfim, viver. E que hora ele vai promover seu livro?

Essa confluência de responsabilidades pode sim prejudicar a escrita e evolução do autor. O mercado está inflando, mas a confiança do leitor no material nacional pode ser comprometida se a qualidade profissional não for um quesito essencial. Assim, as editoras vivem no Brasil um momento de reassumir, nesse nono organograma do mercado editorial, a condução das etapas da criação do livro, ainda que lado a lado com o autor. Muitos editores são enfáticos: “Escritor deve escrever!”. Trata-se da visão dos muitos resistentes ao método da autopublicação que presam a evolução continua de seus autores.

A autopublicação está aí e veio para ficar. E hoje não só o texto, mas o planejamento estratégico e expertise em alguns campos específicos podem definir ou não o sucesso do autor. O problema é quando essas ferramentas suprimem alguns degraus próprios da evolução da escrita e do amadurecimento do escritor como autor. Conforme relatado no livro Sobre a escrita, se Stephen King não tivesse recebido dezenas – sim dezenas – de “nãos” das editoras para seu original de Carrie, A Estranha (1974) não teríamos o primeiro sucesso do autor como ele chegou às livrarias. E se ele tivesse tentado a autopublicação e com os recursos, tecnologia que temos atualmente? Na opinião de alguns editores e especialistas, certamente o público teria lido uma versão não editada ou imatura, ou nem tivesse chegado a ter um livro desses nas mãos devido à falta de pontos de venda, ou distribuição mal planejada. Ainda quem sabe ele não tivesse tempo suficiente para orquestrar a produção, venda e publicidade juntamente com a produção de mais histórias e na mesma velocidade, dedicar tempo à publicidade de sua obra, envio de livros vendidos, contatos com vias de imprensa ou fornecedores, consumiria tempo que ele usaria para criar, produzir mais. Enfim, King estaria fazendo seu marketing, não escrevendo.

Foi com todas essas questões postas à mesa que ao lado de Vilto Reis criei a Nocaute –  uma editora que tem como meta trabalhar com autores iniciantes a fim de apresentar ao público brasileiro novos talentos da literatura contemporânea do País. A editora independente e comercial foi criada também quer ser a opção dos escritores que sofrem as negativas das editoras maiores, por motivos não concebíveis para ambos: não são conhecidos no mercado, não alcançam visibilidade na mídia, não são youtubers com milhões de seguidores, enfim, que não são venda certa de livros.

Uma editora é uma empresa e seu produto são os livros. Ela deve se manter, crescer, dar lucros, sobreviver, e para isso deve vender. A oferta que pretendemos fazer tem uma demanda aflita para novidades. Os leitores brasileiros não podem viver apenas da cultura estrangeira. Os títulos de sucesso de fora representam hoje o grande veio de lucro das editoras, que gastam toneladas de dinheiro em leilões de venda de direitos de publicação de obras estrangeiras. E ao escritor brasileiro, o que sobra? O Brasil é criativo e precisa de oportunidade. O investimento nesse material contribui para estimular o público a reconhecer que por aqui há qualidade que deve ser valorizada. Existe um esforço que deve ser compartilhado entre as casas editoriais e o público leitor de atentar para a qualidade da literatura brasileira nova. Ela existe e espera por nós.

A Editora Nocaute quer dar o máximo aos livros e autores. Num segundo momento por meio de ebooks e os gigantes comerciais desse tipo de produto, vamos levar obras de seus autores além das terras tupiniquins. A proposta é traduzir contos e até livros para as línguas de maior uso de aplicativos e dispositivos de leitura, com isso projetar o autor a em esfera internacional pulando as fases intermediárias e longas.

Nosso primeiro projeto está em financiamento coletivo no Catarse. Trata-se do livro Um gato chamado Borges, de Vilto Reis – idealizador do site Homo Literatus e sócio na editora. Fica o convite para conhecer o projeto acessando: catarse.me/ajudeogato

A Editora Nocaute (www.editoranocaute.com.br) chegou para questionar os fundamentos do mercado, ser uma editora com a pegada inovadora e independente da internet.

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Maik Bárbara é editor da Nocaute, formado em administração, tem experiência em Comércio Exterior e escreve ficção.

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