Enquanto grupos de poderosos batalham para ganhar controle sobre o território ancestral de Pukarani, o mundo entra em desequilíbrio e ameaça a existência da humanidade. Um acidente ecológico conecta os jovens Sadhu, Poti, Toscha e Kharis que passam a vivenciar o conflito entre diferentes visões políticas e formas de viver ao investigar o envolvimento de organizações transnacionais com o corrupto governo local. Assim é o romance juvenil A valentia que me faltava (Folhas de Relva Edições, 2023), de Fabiano Martucci. Desde seus 20 e poucos anos, o autor vem colaborando com diversas organizações e governos em projetos e atividades políticas e sociais. Fabiano é especialista em Planejamento e Gestão de Cidades pela Poli/USP e mestre em Políticas Públicas e Sociais pela Universidade de York. Em 2021, foi eleito conselheiro da cidade de Augsburg com relação a políticas de integração, migração, e asilo e posteriormente indicado ao conselho municipal de governo digital. Atualmente, trabalha coordenando projetos culturais e sociais para as ONGs Grandhotel Cosmopolis e.V. e ZAM e.V. É professor de yoga e escritor. leia a seguir entrevista que ele concedeu à SPR:
Quais suas inspirações para criar Daruba e outros cenários e cidades presentes em A valentia que me faltava? Eu me inspirei em diversas cidades que conheci e misturei conceitos arquitetônicos e tecnológicos para criar o mundo de A valentia que me faltava. Durante o período em que escrevi o livro eu morei em Ashrams e comunidades rurais na Índia e Nepal, visitei diversas comunidades da América Latina como quilombos, vilas caiçaras, conheci povos originários (Guaranis em SP, Quéchua e Aymara no Peru e Bolívia, etc), e passei por cidades na Europa. Outro fonte de inspiração foi minha paixão por ficção, animação e animes. Adoro Naruto, Bleach, Avatar, Rick and Morty, Midnight Gospel e tantos outros.
Seu livro parece pensar em questões essenciais da atualidade não só do Brasil, mas do mundo? Para você, como um livro pode transformar o mundo num lugar melhor para se viver? Aproveitando, o que acha do ativismo (em geral) na literatura?Eu acredito que não só a literatura, mas como também diversas outras formas de arte tem o poder de conscientizar as pessoas sobre problemas sociais importantes de forma mais leve e envolvente. Portanto, uma história bem contada pode gerar empatia suficiente para fazer as pessoas refletirem sobre seus comportamentos e atitudes. Contudo, assim como dito pelo personagem Das Bhaka de A valentia que me faltava eu também penso que “mudar o mundo é uma ilusão. Mudar a si próprio, uma realidade”.
Já com relação ao ativismo, digo que me considero ativista e um pensador político contemporâneo. Portanto, eu acho fundamental mesclar arte e ativismo para criar entretenimento e educação. Mas confesso a maioria dos textos/livros políticos que eu leio são muito difíceis de digerir e tem pouquíssimo potencial para entreter. Por isso decidi escrever uma história lúdica e criativa que abordasse diversos desafios sociais tratados no livro de forma mais leve.
Por que criou um livro para o público young adult? Tem a ver com as questões citadas na pergunta acima? Eu particularmente adoro o gênero e acredito que é muito importante discutir problemas sociais não só com adultos, mas também com jovens e crianças, afinal, eles carregarão e compartilharão essas reflexões por muitos e muitos anos. Além disso, nosso caráter e conjunto de valores é principalmente moldado durante a infância e adolescência.
O que um bom livro para o público jovem deve ter? Eu gostaria de destacar aqui a importância de ter personagens e histórias que podem ser facilmente relacionáveis. Além disso, o estilo da escrita e vocabulário utilizado também são elementos muito importantes para prender a atenção do leitor/a. Por último, o livro deve dar espaço para que a imaginação do/a leitor/a corra pelas linhas da história e crie livremente sobre as lacunas deixadas propositalmente pela obra como a aparência ou gênero de alguns personagens, ou a história por trás de cidades ou mitos.
Como tem sido a recepção de seu livro? Você acha que ele está cumprindo seu papel, ao apontar questões importantes do mundo atual? Eu sempre me esforço para dar o meu melhor em qualquer atividade que eu realizo, sem colocar muitas expectativas ou esperar resultados fantásticos. Confesso que fiquei positivamente bem surpreso com o resultado dos eventos de lançamento e com os feedbacks que recebi dos/as leitores. Contudo, é difícil dizer se o livro está cumprindo seu papel, afinal, qual é o papel do livro e como mensurar se ele está alcançando seu objetivo ou não? Estou feliz em saber que dei o meu melhor, escrevi uma obra que, além de ser criativa, aborda importantes desafios sociais contemporâneos.
Poderia falar de seus próximos projetos em literatura? Atualmente estou escrevendo meu segundo livro. Esse vai abordar especificamente o tema da Saúde Mental e políticas sociais: tópico do meu mestrado. Contudo, ainda estou desenvolvendo a história, mas já adianto que a obra vai possuir exercícios práticos para que as pessoas possam fazer em casa. Também estou escrevendo um livro baseado na vida do meu pai, ou melhor, reescrevendo a autobiografia que ele não conseguiu publicar em vida. Em resumo, essa obra vai tratar da vida caiçara em Caraguatatuba, do mundo do crime e das penitenciárias, e por último a redenção e aceitação de Deus. 3 vidas em uma.
Conheça o livro no site da editora.