*Por Daniel Manzoni-de-Almeida*

Uma reflexão sobre o ato de escrever a partir do livro Le pain des Français de Xavier Le Clerc aux éditions Gallimard

Por que escrever? Essa pergunta me persegue há anos. Sinto uma necessidade quase fisiológica de colocar palavras no papel, mesmo que jamais sejam publicadas. São anotações breves, fragmentos de ideias, registros de leitura ou confissões de um diário pessoal. Carrego sempre comigo um caderno — ele está ali, pronto para me escutar.

Não há ordem nos meus escritos. São caóticos, rabiscados, multicoloridos, com uma caligrafia despretensiosa. E é assim que desejo os manter: talvez esse seja o meu único espaço de liberdade radical, onde fujo das lógicas imperativas de organização e produtividade. Meu caderno é uma materialização do inconsciente, uma tentativa de dar corpo à memória, de avançar e construir um espaço simbólico. Volto a ele com frequência, revisito essas páginas desordenadas para estruturar algo que, quem sabe, se torne público.

É nesse processo que costumo me espantar. Há ali, entre rabiscos e rascunhos, uma pulsação intensa de revolta, raiva e indignação. Esses sentimentos atravessam a página e migram para a tela do computador, onde se transformam em ensaios, críticas, artigos ou romances. Pela escrita, busco criar possibilidades — de realidades que não existiram, que não existem e talvez jamais venham a existir. Mas que, no espaço da linguagem, podem ganhar forma. Escrever, portanto, é uma forma de dizer ao mundo que essas possibilidades são reais, ou ao menos merecem ser ouvidas.

É nesse ponto que percebo o que me leva a escrever, em vez de me dedicar a outras artes: a escrita é o espaço onde posso, à força de cotovelos, dizer. Como diria Conceição Evaristo, escrevo como um “exercício de desespero, um ato de vingança”. E é isso: a escritura como vingança.

Assumir a palavra “vingança” é um gesto forte. Ela carrega uma carga negativa, é um sentimento geralmente ocultado ou desprezado. Desde os tempos mais remotos, a justiça foi construída para mediar os impulsos da vingança — esse veneno gratuito. No entanto, em um mundo marcado por tantas injustiças, histórias de vingança podem ganhar outro tom, gerar empatia e até assumir um contorno de heroísmo. A vingança é ambígua: ora condenável, ora compreensível. Como tudo na vida, depende da dose. Em pequenas quantidades, talvez seja remédio; em excesso, é veneno. Talvez seja na literatura o único lugar onde a vingança floresce com potência: cria denúncias por meio da imaginação, encarna o poder de dizer o não dito. Nesse sentido, como afirma Evaristo, escrever é posicionar-se politicamente.

Uma das histórias literárias mais fascinantes sobre a vingança é Hamlet, de William Shakespeare. O jovem príncipe, dilacerado pela morte repentina do pai, descobre — pela aparição de um fantasma — que o rei foi assassinado por seu próprio irmão Cláudio, agora casado com sua mãe e ocupante do trono. Hamlet é então tomado por um desejo de revanche que desencadeia uma tragédia crescente. Shakespeare investiga ali não só a dimensão pessoal da vingança, mas também seu impacto social e político.

A imagem mais icônica da peça é Hamlet, de pé num cemitério sombrio, segurando uma caveira. Ele pergunta: “Ser ou não ser, eis a questão”. A partir dessa frase, inicia-se uma meditação sobre a existência. A caveira, antes uma vida, alguém, é agora um vestígio silencioso. Ao encará-la, Hamlet escreve — para o outro que já foi, para si mesmo, para a humanidade. Sua pergunta filosófica ressoa com o dilema que Jean-Paul Sartre formularia séculos depois: o que fazemos de nós com o que fizeram conosco?

Escrever talvez seja, então, seja a questão-solução. Hamlet parte não do heroísmo, mas da humilhação — da dor íntima que o destroça em silêncio. Sua vingança não se cumpre na espada, mas na palavra. Ele cria, a partir do abismo, uma narrativa que expõe as frestas da existência humana, como quem acende uma lanterna nas rachaduras da alma. Diante da caveira de Yorick, não vê apenas ossos: vê a memória do riso, o eco do afeto, a finitude estampada em cada traço apagado pelo tempo. Nesse gesto, Shakespeare nos diz que narrar é vingar-se a partir do nada. Que transformar o vazio em linguagem é o ato mais radical de resistência. A verdadeira fúria de Hamlet é olhar para o nada — e falar.

É desse gesto — o de diálogo com o crânio — que quero partir. Há ecos de Hamlet no escritor Xavier Le Clerc. Em Le pain des Français, Le Clerc escreve sua vingança. Filho de imigrantes argelinos na França, ele rememora um episódio da infância: numa visita à padaria com o pai, este tem a compra recusada por um padeiro que, além de negar o pão, proferiu insultos racistas. Seu pai nada respondeu. Apenas baixou a cabeça e se retirou. Anos depois, Xavier reelabora essa cena em sua literatura. A humilhação sofrida pelo pai transforma-se em um ponto de partida para uma resposta adiada, que ele enfim oferece com palavras.

O impulso para escrever Le pain des Français surge após a leitura de um artigo do antropólogo Ali Farid Belkadi, que revelava a existência de milhares de crânios de vítimas indígenas da colonização francesa na Argélia, armazenados no Musée de l’Homme, em Paris. Dias após essa leitura, Le Clerc — como Hamlet no cemitério — decide visitar essa coleção.

Ali, em meio a milhares de crânios anônimos, encontra o de uma menina de sete anos. Dá-lhe o nome de Zoha e escreve sua história. Mistura suas memórias pessoais com a memória apagada da colonização francesa na Argélia. Ao escrever, denuncia não só a brutalidade do passado colonial, mas também as formas sutis e persistentes da humilhação racista na França contemporânea.

Quem hoje caminha pelo chão polido do Musée de l’Homme talvez não saiba que pisa sobre um cemitério. Mas Xavier Le Clerc, como um Hamlet moderno, deteve-se diante de um crânio esquecido — e escolheu escrever. Deu voz ao que fora silenciado. Fez de sua escrita um ato de vingança: restituiu a História àqueles de quem ela foi arrancada.

Le Clerc é um Hamlet das palavras: vinga-se não com a lâmina da espada, mas com a lâmina da linguagem. Diante da caveira, transforma dor em literatura. Sua resposta, maturada no tempo e moldada com a precisão dos que escutam fundo, é ao mesmo tempo delicada e cortante — um ajuste de contas tardio com o padeiro que, ao vender-lhe o pão, lhe serviu também a humilhação.

A caveira com a qual Le Clerc dialoga não é a de Yorick, mas a de um cadáver ainda em vida — o padeiro de alma apodrecida. O cemitério de Le Clerc? Ainda é aquela padaria. E há centenas, talvez milhares, de padarias como aquela espalhadas pelo mundo…

Ser escritor, afinal, é isso: tornar-se um vingador do tempo. Criar história onde só havia silêncio. Traçar narrativas onde reinava o esquecimento. Todos os que escrevem são, de algum modo, Hamlets: diante de caveiras, indagando sobre a existência, esculpindo no vazio possibilidades de vida.

Sejamos Hamlets. Sejamos Conceição Evaristo. Sejamos Xavier Le Clerc.

Entrevista com Xavier Le Clerc

DANIEL: Como você se tornou escritor?
XAVIER: Comecei escrevendo poemas ainda criança, depois vieram os textos curtos. Sempre fui fascinado pela musicalidade das palavras, pela beleza que elas podem criar — e também pelo poder que carregam. Minha mãe, analfabeta, costumava recortar os ingredientes escritos em árabe no verso dos pacotes de biscoito Lu. A ironia desse nome não me escapava. Para ela, aquelas letras — que nos conectam à palavra divina — tinham poder, e por isso os papéis se tornaram talismãs. Ela os escondia sob o meu travesseiro. É por isso que sempre sorrio quando me perguntam sobre os “ingredientes” dos meus livros.

DANIEL: Como surgiu a ideia de escrever Le pain des Français?
XAVIER: Não foi uma ideia, foi um sussurro. Um murmúrio fantasmagórico. Eu era assombrado por aquela que chamo de Zohra. Mergulhar nessa história foi doloroso — e, sinceramente, eu teria preferido escrever sobre outra coisa. Mas, além de escrever, o que mais podemos fazer para nos libertar coletivamente dessas caixas de sapatos cinzentas em prateleiras de metal? A literatura é o único antídoto.

DANIEL: Como começou a escrever esse livro? Que sentimentos e emoções vivenciaram durante o processo?
XAVIER: Comecei com uma solidão profunda e uma melancolia insondável — emoções que aprendi a esconder bem no cotidiano. Estava exausto, sobrecarregado pelos milhares de testemunhos de leitores que compartilharam comigo suas dores após Un homme sans titre. Eu achava que havia escrito um livro íntimo, sobre meu pai, um trabalhador cabila reservado. Mas os retornos que recebi revelaram algo maior: era a história da França e de suas duas margens. Percebi que todos carregamos tabus soterrados e memórias fragmentadas. A literatura pode ser uma ferramenta de cura e reflexão. Os livros não são mausoléus; ao contrário, são onde a vida pulsa mais intensamente. Escrever sobre os crânios expostos em museus é uma tentativa de tirá-los do silêncio, de devolvê-los à condição de seres vivos — e não apenas “restos humanos”, como preferem dizer os cientistas. O que precisa ser enterrado, afinal, não são eles, mas o racismo e a desumanização.

DANIEL: Seu livro tem uma dimensão autobiográfica na qual você aborda as dificuldades, às vezes complexas, de se integrar à sociedade francesa. Você utiliza sua experiência pessoal para explorar uma história coletiva. Acredita que a literatura ainda pode influenciar a vida íntima das pessoas hoje? Ou ela tem mais força para impactar a consciência coletiva?
XAVIER: Sou fruto dessa história colonial — um filho que espero nunca ser amargo. Devo muito a Albert Camus, à França dos professores, às associações que atuam com tanta generosidade. Escrevo para os fantasmas das duas margens. Mas, para escutá-los, preciso passar por mim mesmo — pelo meu corpo, pela minha dor. Ser assombrado não é exatamente isso?

DANIEL: Em seu livro, você revisita o passado violento da colonização francesa no Norte da África. A história imaginada a partir do crânio anônimo de uma jovem guardado no porão de um museu mundialmente famoso dá voz às vítimas esquecidas. Como a literatura pode nos ajudar a compreender o passado e refletir sobre o presente?
XAVIER: Escrevo sobre o passado porque venho do futuro. Minha cultura híbrida é quase incompreensível num mundo cada vez mais dogmático e populista. Sou um menino cabila que cresceu na França e depois se tornou britânico. Minha vida não é só uma travessia geográfica — é também uma jornada para um tempo que ainda não existe. Talvez esse seja o destino dos escritores: viajantes perdidos entre épocas.
Mergulhar nas trevas do passado me permitiu reconhecer o racismo de hoje. Cresci com biscoitos chamados Bamboula, com boates que proibiam negros e árabes, com desenhos carregados de estereótipos xenófobos. Há 141 anos entre minha infância e a de Zohra. Espero que este romance ajude a libertar as vozes silenciadas, permitindo que mais pessoas falem sobre a herança dolorosa das duas margens.

DANIEL: Seu livro aborda massacres e opressões cujas repercussões ainda afetam, especialmente, os descendentes de imigrantes. Como sua obra pode contribuir para o debate atual sobre diversidade e inclusão?
XAVIER: Para compreender o racismo atual, é preciso entender suas raízes. A teoria das raças do século XIX, por exemplo, instituiu uma hierarquia entre os seres humanos, legitimando a desumanização dos povos indígenas. As conquistas não eram justificadas pelo ódio, mas por algo ainda mais corrosivo: a ilusão de superioridade. Essa ilusão permitia dominar sob o pretexto de civilizar. Foi ela que autorizou a existência dos zoológicos humanos, onde nativos eram exibidos como atrações. Esse paternalismo “doce” ainda sobrevive. Às vezes até nos programas de diversidade, que infelizmente são usados como fachada — evitando enfrentar as discriminações reais, especialmente nas esferas de poder. É como o greenwashing: plantar três árvores não encerra um problema ambiental. A questão central deste romance é: o que realmente fizemos com as cercas de bambu? Meu nome é Xavier Le Clerc — e não Hamid Ait-Taleb — porque há muito me recuso a dançar com uma tanga patronímica.

Être Hamlet, écrire ou ne pas écrire : telle est la question.

Une réflexion sur l’acte d’écrire à partir du livre Le pain des Français de Xavier Le Clerc aux éditions Gallimard

Par Daniel MANZONI-DE-ALMEIDA

Écrivain, psychanalyste, docteur en théorie littéraire.

Pourquoi écrire ? Cette question me hante depuis des années. J’éprouve un besoin quasi physiologique de coucher des mots sur le papier, même s’ils ne sont jamais publiés. Ce sont des notes brèves, des fragments d’idées, des fiches de lecture ou des confessions dans un journal intime. J’ai toujours un carnet sur moi : il est là, prêt à m’écouter.

Il n’y a pas d’ordre dans mes écrits. Ils sont chaotiques, griffonnés, multicolores, avec une écriture sans prétention. Et c’est ainsi que je veux les garder : c’est peut-être mon seul espace de liberté radicale, un lieu où j’échappe aux logiques impératives de l’organisation et de la productivité. Mon carnet est une matérialisation de l’inconscient, une tentative de donner corps à la mémoire, d’avancer, de construire un espace symbolique. J’y reviens souvent, revisitant ces pages désorganisées pour tenter de structurer quelque chose qui, peut-être, deviendra un jour public.

C’est dans ce processus que je suis souvent étonné. Entre les gribouillis et les brouillons, surgit une intense impulsion de révolte, de colère, d’indignation. Ces sentiments traversent la page et migrent vers l’écran de l’ordinateur, où ils deviennent des essais, des critiques, des articles ou des romans. Par l’écriture, j’essaie de créer des possibles — des réalités qui n’ont pas existé, qui n’existent pas, et qui n’existeront peut-être jamais. Mais dans l’espace du langage, elles peuvent prendre forme. L’écriture est donc une manière de dire au monde que ces possibilités sont réelles — ou du moins qu’elles méritent d’être entendues.

C’est à ce moment-là que je comprends ce qui me pousse à écrire, plutôt que de me consacrer à d’autres formes d’art : l’écriture est l’espace où je peux, à la force des mots, dire quelque chose. Comme le dirait Conceição Evaristo, j’écris comme un « exercice de désespoir, un acte de vengeance ». Et c’est cela : l’écriture comme vengeance.

Assumer le mot « vengeance » est un geste fort. Il porte une charge négative, c’est un sentiment souvent caché ou méprisé. Depuis l’Antiquité, la justice s’est construite pour médiatiser les pulsions de vengeance, ce poison gratuit. Mais dans un monde marqué par tant d’injustices, les récits de vengeance peuvent prendre une autre tonalité, susciter l’empathie, et même revêtir une forme d’héroïsme. La vengeance est ambiguë : tantôt condamnable, tantôt compréhensible. Comme tout dans la vie, elle dépend de la dose. En petite quantité, elle peut être un médicament ; en excès, elle devient poison. La littérature est peut-être le seul lieu où la vengeance s’épanouit avec puissance : elle dénonce par l’imaginaire, elle incarne le pouvoir de dire l’indicible. En ce sens, comme le dit Evaristo, écrire, c’est se positionner politiquement.

L’un des récits littéraires les plus fascinants sur la vengeance est Hamlet, de William Shakespeare. Le jeune prince, déchiré par la mort soudaine de son père, découvre — grâce à l’apparition d’un fantôme — que le roi a été assassiné par son propre frère Claudius, désormais marié à sa mère et occupant le trône. Hamlet est alors animé d’un désir de vengeance qui déclenche une tragédie croissante. Shakespeare explore non seulement la dimension personnelle de la vengeance, mais aussi son impact social et politique.

L’image la plus emblématique de la pièce est celle d’Hamlet, debout dans un lugubre cimetière, tenant un crâne. Il demande : « Être ou ne pas être, telle est la question. » C’est à partir de cette phrase que commence une méditation sur l’existence. Le crâne, qui fut une vie, quelqu’un, n’est plus qu’une trace silencieuse. En le fixant, Hamlet écrit — à l’autre qui fut, à lui-même, à l’humanité. Sa question philosophique résonne avec le dilemme que Jean-Paul Sartre formulera des siècles plus tard : que faisons-nous de ce qu’on nous a fait ? L’écriture, alors, devient peut-être la question-solution. Hamlet ne part pas de l’héroïsme, mais de l’humiliation — de la douleur intime qui le déchire en silence. Sa vengeance ne s’accomplit pas par l’épée, mais par la parole. De l’abîme, il tisse un récit qui met à nu les failles de l’existence humaine, comme on allume une lanterne dans les fissures de l’âme. Devant le crâne de Yorick, il ne voit pas seulement des os : il voit la mémoire du rire, l’écho de l’affection, la finitude imprimée sur chaque trace effacée par le temps. Par ce geste, Shakespeare nous dit que raconter, c’est se venger du néant. Transformer le vide en langage est peut-être l’acte de résistance le plus radical. La véritable rage d’Hamlet, c’est de regarder le néant — et de parler.

C’est de ce geste — celui du dialogue avec le crâne — que je veux partir. Il y a des échos d’Hamlet chez l’écrivain Xavier Le Clerc. Dans Le pain des Français, Le Clerc écrit sa vengeance. Fils d’immigrés algériens en France, il évoque un épisode de son enfance : lors d’une visite à la boulangerie avec son père, on lui refuse un achat. Le boulanger, non content de cela, lui lance des insultes racistes. Son père ne répond pas. Il baisse la tête et s’en va. Des années plus tard, Xavier reprend cette scène dans son œuvre. L’humiliation subie par son père devient le point de départ d’une réponse différée, offerte enfin en paroles.

L’idée d’écrire Le pain des Français est née de la lecture d’un article de l’anthropologue Ali Farid Belkadi, révélant l’existence de milliers de crânes d’indigènes victimes de la colonisation française en Algérie, conservés au Musée de l’Homme à Paris. Quelques jours après cette lecture, Le Clerc, tel Hamlet au cimetière, décide de visiter la collection.

Là, parmi des milliers de crânes anonymes, il trouve celui d’une petite fille de sept ans. Il la nomme Zohra et écrit son histoire. Il mêle ses souvenirs personnels à la mémoire effacée de la colonisation. En écrivant, il dénonce non seulement la brutalité du passé colonial, mais aussi les formes subtiles et persistantes d’humiliation raciste dans la France contemporaine.

Quiconque marche aujourd’hui sur le sol poli du Musée de l’Homme ne se rend peut-être pas compte qu’il foule un cimetière. Mais Xavier Le Clerc, tel un Hamlet moderne, s’est arrêté devant un crâne oublié — et a choisi d’écrire. Il a donné une voix à ce qui avait été réduit au silence. Il a fait de son écriture un acte de vengeance : il a rendu l’histoire à ceux à qui elle avait été arrachée.

Le Clerc est un Hamlet des mots : il se venge non par la lame de l’épée, mais par celle du langage. Face à un crâne, il transforme la douleur en littérature. Sa réponse, mûrie avec le temps et façonnée avec la précision de ceux qui écoutent profondément, est à la fois délicate et tranchante — un règlement de comptes tardif avec ce boulanger qui, en lui refusant du pain, lui a aussi servi l’humiliation.

Le crâne avec lequel Le Clerc dialogue n’est pas celui de Yorick, mais celui d’un cadavre encore vivant — le boulanger à l’âme pourrie. Le cimetière de Le Clerc ? C’est cette boulangerie. Et il y en a des centaines, des milliers, dans le monde entier…

C’est cela, être écrivain : devenir le vengeur du temps. Créer de l’histoire là où il n’y avait que du silence. Élaborer des récits là où régnait l’oubli. Tous ceux qui écrivent sont, d’une certaine manière, Hamlet : ils se tiennent devant des crânes, posent des questions sur l’existence, dessinent des possibilités de vie dans le vide.

Soyons des Hamlet. Soyons Conceição Evaristo. Soyons Xavier Le Clerc.

Entretien avec Xavier Le Clerc

DANIEL : Comment êtes-vous devenu écrivain ?

XAVIER : J’ai commencé enfant par écrire des poèmes puis des textes courts. J’étais fasciné par la musicalité que l’on peut produire, la beauté des mots, leur pouvoir aussi. Ma mère analphabète découpait les ingrédients écrits en arabe au dos des paquets de biscuits Lu. L’ironie du nom de ces biscuits ne m’échappe pas. Elle en faisait un talisman parce qu’elle croyait que ces lettres qui nous lient à la parole divine ont un pouvoir. Elle cachait ces ingrédients sous mon oreiller. Et c’est pourquoi je souris toujours quand on me demande les ingrédients de mes livres. 

DANIEL : Comment vous est venue l’idée d’écrire Le pain des Français ?

XAVIER : Ce n’était pas une idée mais un murmure de fantôme. J’étais hanté par celle que je nomme Zohra. C’était une plongée très douloureuse et j’aurais vraiment préféré rever d’autre chose. Mais à part écrire, que faire pour se libérer collectivement de ces boîtes à chaussures grises rangées sur des étagères métalliques ? La littérature est le seul antidote. 

DANIEL : Comment avez-vous commencé à écrire ce livre ? Quelles sensations, quels sentiments et quelles émotions avez-vous ressentis en l’écrivant ?

XAVIER : Avec une profonde solitude et une mélancolie insondable que je suis très fort à cacher au quotidien. J’étais épuisé et bouleversé par les milliers de témoignages de lecteurs qui partageaient mon deuil avec Un homme sans titre. Je pensais que c’était un livre intime sur mon père, un ouvrier kabyle taiseux. Mais ces retours m’ont fait prendre conscience que c’est de l’histoire de France et des deux rives dont il s’agit, que nous portons tous des tabous enfouis, des mémoires morcelées, que la littérature peut aussi servir à panser ces plaies, à se recueillir. Les livres ne sont pas des mausolées, ils sont au contraire l’endroit où la vie est la plus intense. En ce sens, écrire l’histoire de ces crânes du musée, c’est leur permettre de sortir du silence des pierres tombales, c’est redevenir des vivants et non plus des « restes humains » comme disent les scientifiques. C’est avant tout le racisme et la déshumanisation qu’il faut enterrer. 

DANIEL : Votre livre est une forme d’autobiographie où vous évoquez les difficultés individuelles, parfois complexes, rencontrées dans votre parcours d’intégration à la société française. Vous utilisez votre expérience personnelle pour interroger une histoire collective à travers la littérature. Pensez-vous que la littérature peut encore aujourd’hui influencer la vie intime des individus ? Ou a-t-elle davantage le pouvoir d’agir sur notre conscience collective ? Pourriez-vous nous en dire un peu plus ? 

XAVIER : Je suis un enfant de cette histoire coloniale, un fruit qui j’espère ne sera jamais amère. Je dois beaucoup à Albert Camus, à la France des profs, des associations si bienveillantes partout. J’écris pour les fantômes des deux rives mais pour entendre leurs murmures, je suis souvent obligé de passer par mes propres expériences, par mon corps aussi. N’est-ce pas cela être hanté? 

DANIEL : Dans votre livre, vous racontez votre confrontation avec le passé violent de la colonisation française en Afrique du Nord. Vous avez imaginé une histoire à partir de la découverte du crâne anonyme d’une jeune fille, conservé dans une boîte au sous-sol d’un des plus grands musées du monde. Ce récit donne une voix aux oubliés de la colonisation et éclaire une part sombre de l’histoire. Selon vous, comment la littérature peut-elle nous aider à comprendre ce passé et à mieux réfléchir à notre époque ?

XAVIER : J’écris sur le passé parce que je viens du futur. Ma culture hybride est guère compréhensible dans notre monde dominé par le dogmatisme et le populisme. Je suis un gamin Kabyle, qui a grandi en France pour ensuite devenir Britannique, ma vie n’est donc pas seulement un voyage à travers des frontières mais bien vers un temps qui n’existe pas encore.  C’est peut-être dans le fond à cela que l’on reconnaît les écrivains, des voyageurs perdus en quelque sorte. L’exploration des ténèbres m’a permis de rentrer en résonance avec le racisme contemporain. J’ai grandi avec des biscuits au nom de Bamboula, avec des boites de nuit qui n’autorisaient pas les noirs et les Arabes, avec des sketchs et des représentations d’immigrés bourrés de clichés xénophobes… 141 années séparent mon enfance de celle de Zohra. Ce roman, je l’espère, contribue à libérer la parole sur l’héritage douloureux des deux rives.

DANIEL : Votre ouvrage évoque les massacres et les oppressions, dont les résonances persistent encore aujourd’hui, notamment pour les personnes issues de l’immigration. En quoi votre livre peut-il nourrir le débat actuel sur la diversité et l’inclusion dans la société ?

XAVIER : Pour comprendre le racisme contemporain, il faut en comprendre l’origine, la théorie des races développée au XIXeme siècle par exemple. C’est l’époque de la hiérarchie des hommes, de la déshumanisation pseudo scientifique des indigènes, de l’étude des crânes… Les conquêtes ne s’expliquent pas par la haine mais par le pire des poisons : l’illusion de la supériorité. Celle qui autorise de dominer l’autre sous prétexte de le civiliser. Celle qui autorise les zoos humains où de pauvres indigènes devaient danser derrière des enclos. Ce sucre du paternalisme existe encore. Parfois même dans de soi-disant programmes en faveur de la diversité qui sont hélas très souvent de la propagande politique ou d’entreprises qui évacuent ainsi les questions relatives aux discriminations persistantes, notamment dans les recrutements à haut niveau. Cela ressemble à l’illusion du Green-washing, il ne suffit pas de planter trois arbres pour clore le dossier de l’environnement. La question centrale de ce roman est aussi qu’avons-nous vraiment fait des barrières de bambou ? Je m’appelle Xavier Le Clerc et non Hamid Ait-Taleb parce qu’il y a longtemps que je refuse de danser avec un pagne patronymique.

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Daniel Manzoni-de-Almeida é escritor, psicanalista Doutor em Teoria Literária.

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