* Por Marcelo Nocelli *

Depois da virada do ano, quando proliferam listas, resolvi listar onze livrarias que amantes de livros e de literatura devem conhecer em São Paulo. A ordem da lista não indica um ranking. Não há qualquer competição aqui, nem mesmo no âmbito comercial, uma vez que cada uma destas maravilhosas (e não é exagero dizer “maravilhosas”) livrarias têm seu público fidelizado pelos mais variados motivos, mas, sobretudo por buscarem, cada uma a sua maneira, atendimentos personalizados.

Além disso, pensei na lista porque o mercado livreiro atravessa um momento balbuciante com a consolidação da Amazon, da Google Livros e outras gigantes do e-commerce que se estabelecem no país. Como essas gigantes, inicialmente, praticam preços que parecem bastante atraentes para o consumidor brasileiro – sabe-se lá como e a que custo – já que eu mesmo, como editor, nunca vendi um livro para a Amazon, e por vezes, eles conseguem anunciar valores abaixo do meu próprio preço de editora. Alguns estudiosos do fenômeno, garantem que a Amazon está instituindo uma política predatória que visa o monopólio num futuro a médio prazo, prevendo para isso, trabalhar com prejuízo durante muitos anos, de modo que estas livrarias menores (e até as grandes redes de lojas físicas) precisam transformar seus espaços para além de uma simples loja de livros, como um lugar de convivência, pequenos centros culturais com atrações e atendimentos diferenciados, para manter o interesse de um público mais exigente, que vai além do próprio consumo.

Segundo Oren Teicher, presidente da American Booksellers Association dos Estados Unidos, a Amazon é uma gigante cujas práticas não fizeram bem à indústria editorial dos EUA, porque ela não vende só livros, mas qualquer produto. Os livros, na verdade, representam uma porcentagem mínima do faturamento total da Amazon, mas a empresa começou a vendê-los porque percebeu que o comprador de livro é um bom cliente em potencial, normalmente pessoas com boa cultura, interessadas em conhecimento, com bom nível intelecto e educacional, e, com isso, normalmente com maior poder aquisitivo, então, a ideia é usar o livro para capturar o cliente e depois oferecer a ele televisões, eletroeletrônicos, roupas, fraldas, tudo o que você imaginar, usando toda a base do cadastro destes clientes-leitores para convertê-los em outro tipo de consumidor. Por isso os descontos agressivos nos livros – produto sem grande valor comercial –que ajuda na busca por lucros maiores, já que essas empresas não se importam com o que você quer como consumidor, mas sim em como conseguir mais lucro. Uma maneira de fazer isso é facilitar a rede virtual, empurrando livros populares, negligenciando outros que seriam mais difíceis de serem encontrados, com segmentos específicos, tiragens menores, livros de editoras pequenas cuja a produção e o prazo são mais longos, numa política interna de facilitar as compras, a concretização da venda em si, e não o acesso aos livros.

Mas, aqueles que realmente amam a literatura, que fogem da autoajuda e dos booms-literários, ainda preferem passar horas na frente de uma prateleira, decidindo entre um e outro título lendo as contracapas, trechos, folheando, vendo as capas, o projeto gráfico, tocando os livros.

Se essas possibilidades estiverem associadas a uma boa conversa com o livreiro, uma indicação olho-no-olho, melhor. Há ainda a possibilidade de encontrar outros leitores, escritores e bons eventos nestes espaços. Um café, uma água, uma cerveja. Uma poltrona confortável para adiantar a leitura, passar o tempo, esperar alguém. Descobrir um livro daquele autor que você não conhecia. Ser surpreendido por aquele título que você não encontrava em lugar nenhum, e que a Amazon disse que tinha, que entregaria em 30 dias, mas depois de 60 dias, entra em contato para te convencer a trocar por outro ou ter seu dinheiro de volta, porque, segundo eles, a culpa é sempre da editora. Para estes leitores exigentes, ou que não se deixam levar pela falsa comodidade de esperar o livro em casa, que veem a livraria não apenas como uma loja, mas como um templo de cultura e sociabilidade, para aqueles em que o desconto no preço não paga um passeio pelas prateleiras, fica a dica que vai muito além da visita à uma loja. Verdadeiros passeios culturais:

1 – Livraria Zaccara

            Sob o comando do casal Lúcio e Cris Zaccara, desde sua inauguração em 1982, a Zaccara tem um ambiente agradável e de boas energias – como diz o próprio Lúcio, avesso a autoajuda e livros espiritas, que não são encontrados nas prateleiras da livraria, nem sob encomenda. Lúcio também é avesso a promoções e jogadas de marketing. Há um revezamento dos livros expostos nas vitrines da frente da loja, sem qualquer pagamento de jabá ou ações de marketing, como denominam a prática algumas grandes redes. “O casal também não faz qualquer tipo de propaganda do seu negócio. Mantém uma discrição quase monástica”, como diz Lira Neto em seu artigo no jornal Folha de S. Paulo. “Não quero atrair gente que sairá decepcionada por não encontrar o best-seller da moda”, justifica, Lúcio. “Quem está acostumado a entrar aqui já sabe que topará apenas com livros de qualidade.” Não é difícil encontrar na Zaccara clientes fiéis na sala de estar, conversando com o Lúcio e a Cris sobre literatura e artes. Entre estes estão o próprio Lira Neto, Audálio Dantas, Danilo Santos, diretor do Sesc, que se refere a livraria como um minicentro cultural, entre outros escritores, filósofos, músicos, artistas e intelectuais das mais diversas áreas. A livraria costuma promover shows, apresentações, palestras, cursos e bate-papo com artistas “famosos” e “desconhecidos”, tudo escolhido sob uma curadoria que visa a qualidade dos trabalhos e apresentações. Mas ao público, um aviso: os lugares são limitados (máximo de 30 pessoas para que todos sejam bem acomodados). Uma vez por mês, acontecem dois clubes de leitura – um em parceria com a editora Companhia das Letras, outro com a editora Reformatório, além de lançamentos de livros. A livraria conta ainda com um belo e aconchegante espaço no segundo andar, com sofás confortáveis, uma sacada para a rua – com cinzeiros – e um pequeno café com bolos frescos todos os dias, feitos pela própria Cris, e ainda um quintal com um jardim delicioso, perfeito para pequenas reuniões. Mas nem pense em fazer um lançamento na Zaccara e tentar pendurar lá um banner qualquer de PVC, Lúcio só aceita material de divulgação artística, feitos a mão, arte mesmo, na maioria das vezes, indicado por ele. Hélio de Almeida, um dos mais reconhecidos artistas gráficos do país, cliente da livraria, é quem faz todo o material de divulgação da casa. Livraria Zaccara – Rua Cardoso de Almeida, 1356 – Perdizes – São Paulo – SP – Tel. (11) 3384-0908

2 – Simples Livraria

             Inicialmente criada com o “slogan” A livraria dos livros impossíveis, a Simples Livraria começou em 2016 como uma distribuidora para atender uma pequena demanda de livros raros e mais difíceis de serem encontrados pelas grandes livrarias: livros de editoras pequenas, livros raros, fora de catálogos, que normalmente não são comercializados pelos grandes distribuidores e, consequentemente, são difíceis dos clientes finais encontrarem. A ideia era oferecer a partir de um exemplar, e buscar estas raridades para fornecer para grandes livrarias, bibliotecas e instituições como o Sesc. Uma sociedade entre dois amigos, Adalberto Ribeiro,
comerciante por natureza e apaixonado por literatura, Adalberto trabalha no ramo livreiro desde 1998, tendo passado por grandes redes como a própria Livraria Cultura, foi de auxiliar geral de loja até o cargo de gestor, e Felipe Faya, que se especializou em Gestão Empresarial pela FGV, trabalhou com Arte-educação na Fundação Bienal de São Paulo, lecionou filosofia e atuou em projetos de Educação Patrimonial. Em 2017 a Simples Livraria abriu sua loja ao público, num sobrado no coração da Mooca, que oferece atendimento personalizadíssimo, boa conversa e toda facilidade possível. E se você não tiver tempo de buscar o livro, é bem provável que os meninos entreguem na sua casa, num fusca amarelo, em companhia dos cachorrinhos de estimação.  Livraria Simples – Rua dos Bancários, 72 – Mooca – São Paulo – SP – Tel. (11) 3443-9992

3 – Flanarte    

            A primeira vez que fui à Flanarte, por indicação do amigo-autor Antonio Bivar, pensei ser uma livraria pouco frequentada, apenas pelos conhecidos e amigos do Roberto, dono da livraria. Imaginei isso porque a livraria me pareceu um tanto escondida na galeria de um prédio comercial em plena rua Sete de Abril, no centro de São Paulo. Engano meu, a Flanarte é muito conhecida e frequentada. O nome da livraria surgiu da união de duas palavras escolhidas não aleatoriamente, mas considerando as suas significações: “flâneur” + arte = Flanarte.  O “flâneur”, idealizado por Charles Baudelaire, que é aquele que caminha pela cidade a fim de experimentá-la, valorizando objetos, lugares e pessoas que o observador comum não repara. Baudelaire foi interpretado e incorporado por Walter Benjamin, que em suas andanças pelas ruas e galerias de Paris, decifrava de forma artística o espaço urbano moderno, descrevendo em seus textos suas experiências. Inspirado neste conceito e no ofício de livreiro realizado como arte, foi criada a Flanarte Livros, no interior de um prédio em uma megalópole frenética, fugindo ao olhar do caminhante comum, mas ao alcance do “flâneur” contemporâneo que busca a arte através dos livros. A Flanarte dispõe de um acervo de mais de 80.000 títulos com destaque para as áreas de artes plásticas, crítica de arte, cinema, teatro, música, poesia, crítica literária, linguística, filosofia, história, sociologia e literatura clássica e ainda uma estante exclusiva denominada de “a margem”, que conta com autores considerados “malditos”, vanguardas artísticas e movimentos de contracultura, com destaque para os “Beatniks”. E só pra avisar, a única loja vizinha da livraria nesta galeria é uma adega, com vinhos bons, com preços atraentes. Bela combinação, não?! Flanarte – Rua Sete de Abril, 264 – Centro – São Paulo – SP – Tel. (11) 3151-2447

4 – Livraria do Espaço          

Inicialmente, poderia falar pouco sobre a Livraria do Espaço, talvez porque seu proprietário também fale pouco, um homem de poucas palavras e muitas leituras. Eu já conhecia a livraria por conta do cinema. Mas conheci o Ronaldo, dono do Espaço, muito tempo depois, num bar, no aniversário do nosso amigo em comum, Osório Barbosa, quando descobri que Ronaldo Rodrigues virou dono de livraria meio por acaso, em 1993, quando estava procurando um negócio para abrir e surgiu a oportunidade de abrir a livraria junto ao Espaço Banco Nacional de Cinema, por isso a batizou de Livraria do Espaço Nacional de Cinema. Em 1997 o patrocinador do cinema mudou e o nome da loja também: Livraria do Espaço Unibanco de Cinema. Atualmente quem está à frente dos cinemas é o Itaú, que comprou o Unibanco, então, prevendo que isso possa acontecer novamente, afinal, o mercado banqueiro é imprevisível, Ronaldo optou por Livraria do Espaço, apenas. O importante é que o jeito de trabalhar, a qualidade dos títulos e a quantidade de livros dedicados ao cinema continuam os mesmos. Ronaldo realmente não é de falar muito num primeiro contato, mas no fundo esse moço que veio de Ourinhos gosta muito de conversar e também tem muitas histórias para contar. Muitas “celebridades” já passaram pela sua livraria, gente do cinema e da televisão, das artes plásticas e escritores. Entre os escritores, Ronaldo lembra de Mia Couto, que quando esteve ali adorou o modo de exposição dos livros, separados na mesa por autores. Outros clientes ilustres são os atores. No cadastro da livraria estão cerca de 37 mil livros, mas o acervo no espaço físico real é bem menor, lá cabem mais ou menos quatro mil livros, então, se você não encontrar um título em exposição, não hesite em perguntar ao Ronaldo. Justamente por funcionar dentro do espaço de cinema, os títulos dedicados à sétima arte são os que mais vendem. Ronaldo conta que no ano passado, por exemplo, a loja vendeu a obra “Como fazer documentários” cinquenta vezes mais do que qualquer tom de cinza. Atualmente tem conversado com alguns escritores e editores para montar encontros com o público. Há também lançamentos na loja, que são sempre bem descontraídos, aproveitando uma bancada que é colocada bem na frente da livraria. Livraria do Espaço – Rua Augusta, 1.475 – Cerqueira César – São Paulo – SP – Tel (11) 3141-2610

5 – Buenas Bookstore 

            A frente, ou atrás da Buenas Bookstore, você encontrará um bom baiano: Tarcísio Buenas, sempre de boa, como o próprio nome diz, lendo um livro, olhando o movimento, trocando uma ideia ou tomando uma cerveja em seu espaço reservado no fundo do Bar e Teatro Cemitério de Automóveis, do Mário Bortolotto. Buenas tem como “slogan” A única livraria aberta na madrugada. A mais pura verdade, visto que o Cemitério de Automóveis abre depois das 18h e não tem hora pra fechar. Creio que este é o único bar que faz jus, literariamente, aquela famosa máxima: aberto até o último cliente, neste caso, mesmo que o último cliente esteja dormindo num dos sofás da casa. E mesmo que você encontre a porte de aço fechada, se souber a senha, e, dependendo do humor do Mário, é capaz que consiga entrar. Na Buenas você encontra livros de grandes editoras, de editoras pequenas e de autores independentes, frequentadores da casa, amigos do Buenas e do pessoal do bar, quadrinhos e muita literatura underground, beatniks e livros ao gosto do Buenas, que são os destaques na prateleira com maior visibilidade. Se for até lá, uma conversa com o Buenas pode te ajudar a descobrir um livro ou autor que você ainda não conhece, o novíssimo da literatura brasileira contemporânea. Entre os frequentadores você encontrará atores, músicos, dramaturgos, artistas plásticos, cineastas, técnicos e bêbados das mais diversas profissões. Buenas Bookstors – Rua Frei Caneca, 384 – Cerqueira César – São Paulo – SP – Tel. (11) 2371-5743

6 – Patuscada Livraria, Bar & Café 

            Talvez esta seja a livraria mais conhecida entre os poetas de São Paulo. Mas a Patuscada Livraria, Bar & Café não é só uma livraria. É também uma editora, um centro cultural, um espaço de convivência e poesia. Confesso que a única coisa que ainda não vi por lá é o café, mas tenho que admitir que em todas as vezes que lá estive, nunca pedi. A(o) Patuscada é uma empreitada do valente editor Eduardo Lacerda, que em 2005 iniciou o projeto do jornal de literatura, “O Casulo, que já está na 12ª edição, em 12 anos. Em 2010, Edu deu início a realização de um sonho: ter a sua própria editora, assim, nasceu a Editora Patuá, que iniciou suas atividades editoriais em fevereiro de 2011 e foi uma das primeiras editoras pequenas e independentes criadas em São Paulo, nesta nova geração, o que foi muito positivo para seu reconhecimento. Agora, quase oito anos depois, a Patuá tem em seu catálogo mais de 500 livros publicados, a maioria no gênero poesia, dois Prêmios São Paulo de Literatura, e figurou na lista de finalistas dos mais importantes prêmios literários do Brasil, tornando-se referência no mercado editorial chamado “independente” e um incentivo para a maioria das pequenas editoras que surgiram depois.

A livraria Patuscada surgiu como consequência da editora Patuá para que Edu, inicialmente, tivesse um local para a realização de eventos, lançamentos de livros e saraus, além de um espaço para beber com seus amigos. Por meio de uma campanha de financiamento coletivo, organizada em agosto e setembro de 2015, por seus colegas Ricardo Escudeiro, hoje assistente editorial da Patuá, e Leonardo Mathias, ilustrador e responsável pelo projeto gráfico dos livros publicados, Edu conseguiu viabilizar o projeto.

Os lançamentos por lá são sempre muito festivos e animados, com declamações de poesias, leituras, performances e muita cerveja, pra não falar da mesa de sinuca e do agradável espaço interno e externo, com mesas em meio a um jardim. Patuscada – R. Luís Murat, 40 – Vila Madalena – São Paulo – SP – Tel. (11) 98158-3270

7 – Sebo Desculpe a Poeira

            O agradável, apertado, nostálgico e belo espaço, funciona numa garagem de 24 m², de um dos prédios da Hípica, no bairro de Pinheiros. Uma pequena travessa, calma, arborizada, de paralelepípedo. Em frente a livraria é quase certo de que você encontrará estacionada uma mobilete e, do outro lado da rua, um carrinho antigo que eu não sei identificar nome e marca, mas que sempre me ponho a imaginar como o Ricardo cabe ali dentro. O mesmo acontece com a mobilete. Ricardo Lombardi, proprietário do Sebo de nome sugestivo é ex-diretor da revista “Bravo!”. Passou também pela empresa de internet Yahoo, último emprego que ele largou para inaugurar um sebo apenas com os livros que gosta. Lombardi encheu as estantes com a sua biblioteca pessoal, adquirida ao longo da vida. São mais de 4.000 livros, muitos deles autografados, mas nem todos estão à venda. A história de como o jornalista deixou a produção de conteúdo jornalístico para a internet é a história da contracultura contemporânea: consumir menos, simplificando a vida, para fabricar tempo livre e, de quebra, ajudar a preservar hábitos ameaçados de extinção, como a leitura. “Minha formação foi em sebos, pequenas livrarias, lojas de disco. Hoje tudo é mega, acabamos com os encontros. Vendi o carro. Ando de bicicleta, troquei o treino na academia pela corrida de rua. Abri mão de 70% da minha renda”, comenta ele, e completa: “Vou subir parte do acervo no portal de sebos on-line Estante Virtual. As vendas na rede sustentam os sebos hoje. Na loja física, quero ter só os livros que eu reconheço, que posso indicar com certeza, seja por ser uma boa edição, uma boa tradução ou ter uma capa bacana”. Hoje o Sebo Desculpe a poeira vende também alguns livros novos, tudo em pequena quantidade, sob curadoria implacável na escolha dos títulos do próprio Ricardo, de acordo com o espaço e nesta atmosfera de fugir do mega, em função dos benefícios do micro. Desculpe a Poeira – Rua Sebastião Velho, 28-A, Pinheiros

8 – Companhia Ilimitada

            Escondida num belo sobrado numa rua pouco movimentada da zona norte, a Companhia Ilimitada surgiu, a princípio, como uma livraria infantil, com vários títulos disponíveis no gênero, espaço para contação de histórias e brincadeiras. Com o passar dos tempos, o casal de proprietários, Malu e Douglas decidiram ampliar a oferta separando as salas da casa por títulos e gêneros, com destaque para psicologia e psicanálise, filosofia e também literatura de ficção, ainda assim, mantendo o infantil e juvenil como carro chefe da casa. Como todas as outras listadas aqui, é possível garimpar títulos que não chegam as grandes redes, de autores menos conhecidos, escritores da zona norte de São Paulo, e livros escolhidos não pelo sucesso de vendas, mas pela qualidade literária. Aos sábados pela manhã, o espaço é quase sempre, totalmente dedicado às crianças, então, se você pretende tornar seu rebento leitor atento e crítico, desde pequeno, não pode deixar de leva-lo a Cia Ilimitada. Com certeza, além da indicação de bons livros, ele vai adorar participar das contações de história e rodas de sociabilidade que rolam por lá! Companhia Ilimitada – Rua Florinéia, 38 – Água Fria – São Paulo – SP – Tel. (11) 2574-8539

9Tapera-Taperá

Segundo os idealizadores do espaço, A Tapera-Taperá (foto) é uma biblioteca, livraria, espaço cultural. Um experimento, uma tentativa, um ensaio, um esboço em construção. Sem fins lucrativos, sem objetivos claros, sem maiores planejamento e precisão. Um experimento político-cultural. Além disso, o espaço, agradabilíssimo fica na elegante (e ao mesmo tempo decadente) Galeria Metrópoles, bem no centro de São Paulo. Sendo a última loja do 2 andar, a livraria fica bem ao lado da sacada lateral da galeria, propiciando não só um ambiente agradável, mas também uma bela vista da Avenida São Luiz e da Praça Dom José Gaspar. A Tapera não é um empreendimento convencional. Financia-se com doações de seu idealizador, vendas de livros, realizações de cursos e ajuda recebida na caixinha que eles mantêm no espaço. Está proibida de receber contribuições de governos, partidos e organizações com fins lucrativos. Ainda, segundo seu idealizador, opera largamente no prejuízo, mas vem progredindo mês a mês. Com maior abertura para doações individuais, e melhoras na área comercial, espera-se que gradualmente evolua para situação de equilíbrio. Inclusive todo o demonstrativo financeiro fica à disposição de quem quiser ver, no site. Não há muita variedade de títulos, editoras, mas há obras relevantes no que se refere à política, filosofia e outras ciências. Há também espaço para lançamentos, palestras, cursos e demais propostas que são avaliadas pelos idealizadores. Tapera Taperá – Av. São Luis, 187 – Centro – São Paulo – SP – Tel. (11) 3151-3737

 10 – Espaço Novo Mundo (Livraria Nobel)

            Pode parecer estranho figurar nesta lista uma franquia da rede Nobel, mas é realmente merecido, quando falamos destas livrarias alternativas, na contramão das grandes redes, destacar a Livraria Novo Mundo, que funciona em Guarulhos, cidade colada à zona norte de São Paulo, que para nós, aqui da divisa, é quase como se fosse um grande bairro. A diferença desta (que é única) para as outras lojas da rede, está na atuação da Vera Novo, que é sem dúvida uma das maiores (senão a maior) agitadora cultural de Guarulhos, uma mecenas da literatura. Durante o dia, Vera é uma bem-sucedida diretora comercial numa grande empresa de São Paulo, com mais de 5.000 funcionários. Do fim da tarde pra noite, sem muita hora pra sair, Vera é a livreira, a maior de Guarulhos (no sentido de grandeza no que faz). Apaixonada por leitura, ela explica que a livraria é apenas um sonho que leva paralelamente. Sonho este que já é realidade para leitores e escritores da cidade de Guarulhos. Há, na livraria, contrariando um tanto as regras da franqueadora, uma bancada enorme e com grande destaque, exclusiva para os livros de autores de Guarulhos, sejam eles publicados por editoras ou independentes. A livraria, muito bem organizada e ampla, também abre suas portas para saraus, shows, palestras, cursos, debates e tudo mais o que for apresentado para Vera, desde que tenha a ver com leitura, cultura e educação. Uma vez por mês, Vera cede o espaço para um encontro entre escritores de Guarulhos, capitaneados pelos autores locais César Magalhães Borges e Janethe Fontes Suleiman, chamado “Papos & Tragos”, que discute a cada mês um tema relevante para a cultura e os livros, em meio à uma mesa apinhada de cerveja, café, vinho e salgadinhos… Todas as vezes que estive na Novo Mundo, fui muito bem recebido, com sorriso da Vera, café e boas conversas. Em 2017, a Livraria Novo Mundo patrocinou e abrigou o Primeiro Prêmio Guarulhos de Literatura, entre tantos outros feitos importantes para a cultura local. Espaço Novo Mundo – Av. Salgado Filho, 1.453 – Guarulhos – SP – Tel. (11) 4963-1133

11 – Livraria Realejo

Uma livraria que é editora, uma editora que tem uma livraria, um livreiro que organiza um festival literário e uma calçada que diverte a todos. ” Está é a apresentação no site da Realejo. E é tudo verdade. José Luiz Tahan, dono da Realejo e editor já conhecido no mercado livreiro brasileiro, começou sua livraria dentro da Universidade Católica de Santos, em 2001. Em 2007 resolveu expandir e criou a Realejo Edições, que além de publicar literatura brasileira contemporânea, muitos nomes consagrados, alguns clássicos, também trouxe para o Brasil traduções de autores contemporâneos da América Latina. Em 2009, Tahan organizou a primeira Tarrafa Literária, festival literário anual, já tradicional em Santos. Sim, a Realejo fica em Santos, litoral paulista, mas descer a serra para conhecer a Realejo é uma boa pedida, principalmente às sextas-feiras, quando na calçada em frente a livraria, costuma rolar um som ao vivo, normalmente jazz, blues, rock e mpb. O finado maestro Gilberto Mendes certa vez batizou a Livraria Realejo como Shakespeare & Co dos Trópicos, em clara alusão à icônica loja parisiense, presente em alguns filmes cult. Exagero ou não, a livraria santista já comemora 17 anos trabalhando com livros de qualidade, lançamentos, bate-papos e outros eventos, com o devido reconhecimento do público leitor e dos autores, que tem a livraria como referência em Santos. Livraria Realejo – Av. Marechal Deodoro, 2 – Santos – SP – Tel. (13) 3289-4935

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Marcelo Nocelli é escritor e editor da Editora Reformatório

 

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