* Por Viviane Ka *

A artista Inês Amorozo apresenta pela primeira vez os resultados de uma prática que vem desenvolvendo há cerca de dois anos e que consiste num diálogo interno entre seus lados intuitivo e racional, representados pela mão esquerda e direita respectivamente.

As paisagens do inconsciente que brotaram da sua mão esquerda atuam como campo complementar, onde o emaranhado de fios da escritura obsessiva da mão direita tece, com as aquarelas da mão esquerda, a malha e a poética da guerreira.

Para esta mulher-guerreira foi decretada uma missão de vida e morte: uma viagem por paisagens inconscientes, que parte de um minúsculo fio, nota-se que solto de sua emaranhada tessitura, condutor que orienta sua jornada por uma cartografia pessoal, muitas vezes devastada pela dor e violência que o corpo erótico traz. Para sua proteção em território tão imenso e desconhecido, mas ao mesmo tempo tão seu, a guerreira veste uma cota medieval de metal-grafite, recupera seus brasões ancestrais, seus amuletos e na companhia de seus animais oníricos, começa sua esgrima diária na pura geometria do tempo, desenrolando linhas, desembaraçando nós lunares com ambidestra potência, em busca de dar luz às sombras e decifrar mensagens vindas de outras dimensões.

Os rastros em vermelho que ela deixa para que sua alma não se extravie e para que outros a encontrem mesmo ferida, são desenhos plenos de chama e mistério que permanecem reverberando sua delicadeza em silêncio, como um bigbang de divino ouro, começo de tudo infinitamente, dourado de supernova, estrela nascente.

Há muita luta para fundar uma dinastia, para trazer a flor que nasce do cacto. Parece que não há chave que abra a armadura e resgate a frágil nudez da mulher estilhaçada pelo zumbido das palavras em volta do monolito. Através do buraco da fechadura, a intimidade do feminino se revela livre de yins e Jungs. É santa, deusa, força e cruz. Homem e mulher, transhumanos grávidos de raízes, vidas e revidas.

É apenas mais uma noite de vigília da guerreira no topo da montanha, onde o mágico tapete voador a deixou em contemplação das aquarelas feitas de ancestralidade AZUL. É ali que ela diz sim ao sonho e mergulha nas vértebras da memória que a levam de volta para casa, envolta em lua e brilho.

Serviço:

Exposição segue de 23 de janeiro a 22 de fevereiro

Jardin Cafeteria – Rua General Jardim, 494, de segunda a sábado das 11 às 19h

Tags: