A nítida impressão
Em certas brechas do sonho ou da vigília
quase vemos os fios que nos conduzem
umas vezes com tal zelo umas vezes
com total desleixo. É quando
Nos movemos com a nítida impressão
de um teatro atado aos ossos
e de que somos arrastados
contra a nossa própria vida.
Só o que chamamos de absurdo
parece dar a tudo algum sentido.
Visão
Seria fácil comprara as araucárias a candelabros.
Mas eu digo que elas se parecem com aquele rapaz
que, braços, cabelos, surgiu devagar
sob a luz de junho, úmida de orvalho.
Veio em minha direção.
E trazia o horizonte
nos seus ombros largos.
À
Legítima estupidez a minha (a dos que amam):
deixar o mel à tona.
Melancolia previsível
que agora moscas o comam.
De
Tentei prender um guizo
no pescoço da hora.
Mas ela sobre nós arremeteu
um fogo frio e tão afoito
que não pue salvar um só instante
de nossa pele se quebrando.
*
Os poemas acima fazem parte do livro Escuta (Companhia das Letras, 20155, 129 págs.)