B 7773

A nítida impressão

Em certas brechas do sonho ou da vigília

quase vemos os fios que nos conduzem

umas vezes com tal zelo umas vezes

com total desleixo. É quando

 

Nos movemos com a nítida impressão

de um teatro atado aos ossos

e de que somos arrastados

contra a nossa própria vida.

 

Só o que chamamos de absurdo

parece dar a tudo algum sentido.

 

Visão

Seria fácil comprara as araucárias a candelabros.

Mas eu digo que elas se parecem com aquele rapaz

 

que, braços, cabelos, surgiu devagar

sob a luz de junho, úmida de orvalho.

 

Veio em minha direção.

 

E trazia o horizonte

nos seus ombros largos.

 

À

Legítima estupidez a minha (a dos que amam):

deixar o mel à tona.

 

Melancolia previsível

que agora moscas o comam.

 

De

Tentei prender um guizo

no pescoço da hora.

 

Mas ela sobre nós arremeteu

um fogo frio e tão afoito

 

que não pue salvar um só instante

de nossa pele se quebrando.

*

Os poemas acima fazem parte do livro Escuta (Companhia das Letras, 20155, 129 págs.)

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