Por Marisa Lima Rodrigues *

Tenho que confessar que a primeira impressão ao ler o Brochadas foi a de que se tratava simplesmente do relato de histórias sobre as experiências afetivo/sexuais de um jovem, fazendo do livro uma leitura leve e bem-humorada, portanto um agradável entretenimento. A boa surpresa é que Fux foi além da simples narrativa e, assim me parece, deixou suas ideias fluírem naturalmente, sem censura, possibilitando uma rica comunicação com seus leitores.

Gostaria de evidenciar dois pontos que me chamaram mais a atenção: o primeiro, foi que Fux consegue escrever como se tivesse no lugar das namoradas, tentando responder às indagações do protagonista homônimo. Fux não teve medo de percorrer com habilidade os meandros do feminino, com a sensibilidade de quem consegue entender que as brochadas das mulheres na maioria das vezes são de outra ordem e que realmente não existem respostas para a pergunta há muito formulada por Freud, ou seja, “O que quer uma mulher”? Penso que as pessoas que já passaram pela experiência da psicanálise são capazes de entrar neste campo com mais propriedade.

O segundo ponto que gostaria de ressaltar refere-se aos muitos conceitos trazidos por Fux e que, aos mais desavisados, seriam vistos como antagônicos, tais como: masculino/feminino, estranho/familiar, ficção/realidade, natureza/civilização, impotência/possibilidade e outros mais. O e-mail da personagem “Carla” (pg. 91) é primoroso. Sem grandes explicações Fux consegue abolir o ‘ou’ destes termos e usa-os como sucedâneos, passíveis de se apresentarem ao mesmo tempo, mas nunca excludentes. Fica claro a competência do autor/narrador com os conceitos matemáticos, pois a maioria de nós, psicanalistas, precisamos recorrer ao concreto da ‘banda de Moebius’ para entender a topologia do aparelho psíquico, mesmo que de maneira metafórica.  Numa brincadeira decorrente de associação livre, pensei que um ótimo codinome para o Brochadas seria A Contrabanda. Aliás, a Márcia Tiburi, que aparece na orelha introduzindo o livro, foi muito feliz ao afirmar que “morre-se de rir”, ao mesmo tempo que “fica-se a pensar” com a escrita de Fux.

Finalizando, pincei uma frase escrita que guardo como um florilégio (florilégio, nos meus tempos de normalista do Instituto de Educação, eram frases colhidas das nossas leituras e que nos encantavam…) a que guardo do seu livro: “Acho que a plenitude é um sentimento que o ser humano não consegue suportar. Só os deuses.” (pg.122).

Concluo: brochar é preciso, viver não é preciso.

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Brochadas, de Jacques Fux [Rocco, 240 págs.]

Marisa Lima Rodrigues é integrante do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais

 

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