Mostra explora a invasão do espaço privado pelas funções públicas durante a pandemia, oferecendo o apartamento
como campo de experimentações estéticas plurais

Nos dias 11, 12, 17, 18 e 19 de dezembro, um grupo de artistas visuais utiliza um amplo apartamento no bairro de Santa Cecília (São Paulo) como campo de experimentações estéticas em diversos meios. É a exposição APÊnas, que apresenta obras de Alcides Rodrigues | Amarelo Gráfico, Alex Januário, Alexandre Staut, Antonio Dorta, Beatriz Nogueira, Bruna de Jesus Silva, Cris Panariello, Eneida Sanches, Gabriela Sachetto, Juliana Brito, Laura Mallozi, Leandro Araújo, Luciana Pareja Norbiato, Marcelo Salum, Michel Onguer, Paola Gatto Pacheco, Roberta Segura, Teresa Berlinck e Wlad Pieroni. 

A curadoria é coletiva e traz a pluralidade de linguagens própria da estética de cada artista. Os trabalhos em exibição (e outros dispostos numa pequena loja dentro da mostra) estarão à venda.

O mote da exposição é investigar esteticamente os novos usos da casa durante a pandemia de Covid-19, que alterou radicalmente as relações entre espaço público e privado. Durante o período de isolamento social, o contato com o espaço doméstico se ampliou e tornou-se imperativo, reunindo trabalho, vida social, afetiva e doméstica. O território íntimo virou ao mesmo tempo público (ateliê, escritório, academia de ginástica, escola etc.), onde tudo passou a acontecer num tempo fragmentário. O público invadiu as fronteiras do privado.

Com as novas percepções e funções surgidas ao longo da pandemia, o conceito de “mostra em apartamento” ganha um sentido mais profundo, como explica o texto curatorial do grupo: “Partindo desses encontros dentro de casa, veio a ideia da exposição – em contraponto ao momento anterior, uma ocupação coletiva, feita por mais artistas, para dar outros significados a essas convergências e aos espaços da casa, antes vistos apenas como lugares domésticos”.

Se exposições em apartamentos não são exatamente uma novidade, com a pandemia essa relação se potencializa e amplifica, graças às novas funções adquiridas pelo espaço íntimo. O contato exclusivo com a moradia torna-se o motor de ações estéticas, que acabam por invadir as temáticas dos artistas.

“Ao lidar com questões como: público/privado, aberto/fechado, eu/outro, galeria/casa, etc, os artistas participantes usam o lar como suporte, em uma tentativa de subverter e borrar os limites entre noções de ordem binária, derivando num terreno ambíguo e plural. Em vez de separar, o apartamento torna-se lugar de contato e aproximação. APÊnas.”

Artistas e obras:

ALCIDES RODRIGUES | AMARELO GRÁFICO (São Paulo, SP, 1983. Vive e trabalha em SP) Cria projetos gráficos para clientes do setor de arte e cultura, como Sesc SP, Museu do Futebol, Fundação de Arte de Ouro Preto, Museu da Casa Brasileira, MIS-SP, FAAP, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Festival de Curtas Kinoforum, Museu Brasileiro da Escultura, Parque do Ibirapuera, etc. Trabalha com impressão em serigrafia, digital, plotter e offset em vinil, lambe-lambe, tecido e outros suportes. Em exibição: o artista apresenta a obra sem título de 2021 criada especialmente para a exposição, em que uma imagem da vista da varanda é sobreposta em lambe na própria varanda do apartamento.

ALEX JANUÁRIO (São Paulo, SP, 1977. Vive e trabalha em SP). Poeta, collagista, editor. Membro fundador do grupo DeCollage. Publicou os livros sete anos, caixa gris, a noite absoluta (Edições LopLop), metal fundente e o corpo sismógrafo (Edições Loplop e Baboon Impressões). Colabora com o movimento surrealista internacional. Possui trabalhos publicados em revistas do movimento como A Phala, Brumes Blondes, Surrint, Vidro, Infosurr e Alcheringa. Participou da exposição Le collage surréaliste (2018, Maison André Breton, Saint-Cirq Lapopie França). Em exibição: sombra da cidade, collage sobre canson 300g/m², 210mm x 297mm, pb.

ALEXANDRE STAUT (Espírito Santo do Pinhal, SP, 1973. Vive e trabalha em SP) Escreveu os livros Jazz band na sala da gente (2010) e Paris-Brest (2016), entre outros. É roteirista do média O anjo da guarda de Caio Fernando Abreu e idealizador da revista de artes São Paulo Review e da Folhas de Relva Edições. Começou a pintar em  2016. Fez curso de óleo com Maurício Parra e faz acompanhamento de pintura com Claudio Cretti. Em exibição: Usando uma paleta de cores neutras e escuras, o artista exibe duas telas, ambas com 30 x 40 cm e produzidas neste ano – Luar e Maré Alta.

ANTONIO DORTA (Pirassununga, 1968, vive e trabalha em São Paulo, SP) Formado em Artes Visuais pela FAAP (1997). Usa objetos descartados, coletados ou adquiridos, pertencentes à esfera doméstica, subvertendo suas funções e retirando-os de contexto. Participou das coletivas Nova Escultura Brasileira (2012, Caixa Cultural RJ) e Dioramas Dramas e afins (2011, CCSP), entre outras. Em exibição: assemblage sem título (2019), de concreto e madeira (54,5×50,0x6,5 cm), consistindo em uma chapa de concreto, com pequenas intervenções de linhas,  sustentada na parede por um encaixe em madeira.

BEATRIZ NOGUEIRA (São Paulo, 1973. Vive e trabalha em SP) Sua pesquisa transita por desenho, objeto, instalação e investiga conexões entre corporeidades, memórias, materialidades elementares, ação in situ e espaço. É licenciada em artes plásticas e mestre em processos e procedimentos artísticos. Em exibição: O estímulo tátil é um fator presente nos trabalhos da artista. Em latentes (2017), conjunto de pinturas a óleo sobre papel, ela cria texturas sutis com uso de preto e branco num jogo de espacialidades que, inspirado por andanças pela cidade, insinua aproximações e distanciamentos. 

BRUNA DE JESUS SILVA (São Paulo, SP, 1991. Vive e trabalha em SP) Formada em Filosofia (Unesp), transita entre as áreas da filosofia e das artes por meio da educação.  Com recursos da colagem e da poesia visual procura questionar e incitar o registro de narrativas diversificadas. Pesquisa sobre o decolonialismo, especificamente o conceito de “biblioteca colonial”. Em exibição: A obra Diálogos – Debret (2020) é formada por um conjunto de 40 páginas destacadas do livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, do artista Jean-Baptiste Debret, pelo qual a artista dialoga e reflete sobre a herança colonial da iconografia europeia sobre o Brasil. 

CRIS PANARIELLO (São Paulo, 1975. Vive e trabalha em SP) Realiza esculturas de papéis pintados com aquarela e terra. Sua obra se funda em paralelo à investigação pessoal sobre tempo e o vazio existencial. Essas ideias são sugeridas em seu trabalho através da repetição, das camadas e da pesquisa cromática que desenvolve. Em exibição: A obra terra (2021) é formada por 12 dípticos de terra sobre papel. Faz parte da série o grande vazio em mim será meu lugar de existir, iniciada em 2018, e inclui colagens de aquarela sobre papel, escultura em cerâmica, recorte em livro e fotografia. O nome da série é fragmento do livro A Paixão Segundo GH, de Clarice Lispector, inspiração da artista.

ENEIDA SANCHES (Salvador, BA, 1962. Vive e trabalha em SP) Estudou artes (Escola de Arte da Bahia e Escola de Belas Artes – UFBA) e graduou-se em Arquitetura e Urbanismo (UFBA). Sua pesquisa consagrada versa sobre a estética africana e afro-brasileira. Recebeu o prêmio do 24º Salão de Artes MAM Bahia e participou de residências na Holanda (2008), Tanzânia (2014) e EUA (2019). Em exibição: Um quadríptico com três gravuras sobre a psique: o pensar (Cogito),  contemplar (Contemplo) e meditar (Medito), em que três cabeças são permeadas de pequenos olhos desenhados em grafite sobre papel. Abaixo, uma quarta peça exibe matrizes (em cobre e chumbo) e gravuras onde figuram olhos.

GABRIELA SACHETTO (São Paulo, SP, 1988. Vive e trabalha em SP) Artista e educadora, mestre em poéticas visuais (ECA-USP). Desenvolve trabalhos principalmente em pintura, desenho e gravura. Participou de diversas exposições, dentre as quais Triangular – arte deste século (Casa Niemeyer, Brasília) e 38º Salão de Arte de Ribeirão Preto (MARP), quando foi contemplada com o prêmio aquisição.

Em exibição: As pinturas a óleo apresentadas foram feitas em pequenos pedaços de madeira encontrados e recolhidos pela cidade.

JULIANA BRITO (São Paulo, SP, 1989. Vive e trabalha em SP) Formada em Cinema pela FAAP e pós-graduada em Arte-educação pelo Instituto Singularidades. Pesquisa o corpo feminino e suas narrativas, propondo trocas e dinâmicas de acolhimento, em foto e colagem unidas à memória. Participou de mostras coletivas como Todas as vezes que pensei estar a Salvo (2020) na Casa Contemporânea (SP), entre muitas outras. Em exibição: a obra memória (2013, fotografia 75cmx50cm, pigmento mineral sobre papel de algodão), trabalho que reflete sua pesquisa sobre o tempo e o que o fica em nós.

 LAURA MALLOZI (Campinas, 1980. Vive e trabalha em São Paulo) É artista, joalheira, educadora e pesquisadora independente graduada em Relações Internacionais (PUC-SP) e especializada em Ciência Política (UAB, Barcelona). Contendo vestígios do corpo, suas assemblages e instalações baseiam a tridimensionalidade em narrativas. Aborda intersecções da veste com a arquitetura. Integrou mostras como Todas as vezes em que pensei estar a salvo (Casa Contemporânea, 2020) e Abraço Coletivo (Ateliê 397, 2019). Em exibição: Duas obras refletem sua pesquisa estética – Honra ao Mérito (instalação em tecido e latão) e Emoldurada (objetos de corpo e parede em madeira, algodão e latão).

LEANDRO ARAÚJO (São Paulo, SP, 1988. Vive e trabalha em SP) Nascido em Ermelino Matarazzo, extremo Leste de SP, usa em suas obras principalmente técnicas da cerâmica artesanal e pintura, partindo da mímesis, ou a incansável busca pela reprodução das coisas presentes em suas recordações e, muitas vezes, nas de outras pessoas. Também atua como arte-educador e titereiro. Em exibição: Memórias é feita com chapa de compensado reciclada e cerâmica artesanal coletada na Cidade Tiradentes (SP). Reproduzindo aviões de papel em cerâmica e pintura, lembra o sonho de voo que une desde Leonardo Da Vinci às crianças, remetendo a uma lúdica memória de infância, que vem voando.

LUCIANA PAREJA NORBIATO (São Paulo, SP, 1978. Vive e trabalha em SP) Jornalista cultural especializada em visuais, filósofa, artista e designer artesanal. Cursou Artes Cênicas (ECA-USP) e graduou-se em Filosofia (FFLCH-USP). Ressignifica materiais recicláveis partindo da serialidade e das relações com o barroco e o modernismo brasileiros e a cultura popular. Em exibição: A instalação de parede Cobogós e Altares parte de caixas de leite, de cigarro, de ovo e latas de alumínio para remeter aos azulejos vazados do modernismo e aos cortinados de altares barrocos, com seus adornos e excessos.

MARCELO SALUM (Tambaú, SP, 1970. Vive e trabalha em SP) É artista visual, graduado pela FAU-USP e mestre em Artes Visuais (Santa Marcelina). Desenvolve trabalho experimental em vídeo, instalações, modelagens, gravuras, desenhos, etc. Participou de exposições como Fértil Baldio (Sesc Paraná, 2021), ARTPOCALIPSIS (Uruguai, 2019) e Museu do Homem do Nordeste (Recife, 2014), entre outras.

Em exibição: O projeto Porno Fosse Música busca transmutar as imagens da indústria pornô e do erotismo cotidiano para construções de apreensão mais aberta, para além do mundo da funcionalidade e da mercadoria.

 MICHEL ONGUER (Montes Claros, MG, 1983. Vive e trabalha em SP) É artista especializado em graffiti e pintura, além de empresário de montagem de exposições. Atua há 21 anos no extremo sul de SP, entre Capão Redondo, Jardim São Luiz e Jardim Ângela. Fundador e pesquisador da Ciclo Social Arte, que trabalha artes visuais na comunidade onde vive, na região do Capão Redondo.

Em exibição: Na pintura sem título (2021) que retrata a janela de onde mora, Michel Onguer evidencia características presentes em sua pintura atual. Cor, forma e a apropriação singular da paisagem surgem em pinceladas leves e orgânicas, em que se entrevê a gestualidade do artista.

PAOLA GATTO PACHECO (México, 1976. Mora no Brasil desde 2000) Estudou cinema e jornalismo na Argentina. Produtora cultural e artista autodidata, transita pela poesia, fotografia e colagem manual. Participou de exposições coletivas no exterior, entre elas The Collage Garden Cartagena (Colômbia, 2019) e Antifash (México, 2021). Integra o diretório de artistas do Where Are the Women Artists. Em exibição: Seleção de colagens emergentes do pequeno atelier montado na cozinha de casa durante a quarentena. Figuras femininas, palavras, formas recortadas à mão e figuras geométricas irregulares em papel reutilizado convergem em sonhos e visões sobre a multiplicidade do existir feminino.

ROBERTA SEGURA (São Paulo, SP, 1977. Vive e trabalha em SP) Artista e professora, com mestrado em Poéticas Visuais pela Unesp. Interessada em percursos físicos e subjetivos do olhar sobre o espaço urbano, e como o deslocamento desse olhar delimita contornos e volumes da matéria. Em exibição: Na obra Inventário/Quarentena, uma pilha de copos americanos é repetida diversas vezes e destituída de sua função original. Com a constância no ambiente doméstico causada pelo isolamento do Coronavírus, o contato com os objetos da casa é provocado e provoca novas situações e contornos.

TERESA BERLINCK (São Paulo, SP, 1962. Vive e trabalha em SP) É artista com Mestrado em Produção, Teoria e Crítica em Artes Visuais (FASM) e graduação em Artes Plásticas pela FAAP. Trabalha com sistemas de referência, desordenando narrativas e construindo associações entre memória e história. Transita entre desenho, pintura, gravura, livro, escultura, instalação e performance. Em exibição: A brevidade da existência inspira a obra Ephemeroptera a dizer adeus e refletir sobre a natureza implacável dos ciclos vitais. Na mostra, figura uma versão doméstica da instalação original, formada por 10 mil peças de cerâmica, o múltiplo Objeto Ephemeroptera e três gravuras modificadas dessas séries.

WLAD PIERONI (São Paulo, SP, 1973. Vive e trabalha em SP) ​Designer de formação (Belas Artes, 1995), desde 2013 o artista amplia seu interesse em artes visuais fazendo cursos livres de diferentes técnicas, com ênfase na colagem como principal linguagem de pesquisa. Em seu trabalho investiga a desconstrução e a apropriação da imagem como meio de criar novas composições e narrativas. Em exibição: Três colagens sobre papel.

 Serviço: 

Exposição APÊnas, dias 11, 12, 17, 18 e 19 de dezembro de 2021, das 10h às 18h

Praça Marechal Deodoro, Visitação por agendamento via WhatsApp: +55 11 97564-1642 e +55 11 99454-7027

https://www.instagram.com/ape.nas121/?hl=pt

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Imagem ilustrativa: Obra de Beatriz Nogueira presente na mostra.

 

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