Por Viviane Ka *

A festa literária de Poços de Caldas está movimentada. O evento que acontece na cidade mineira de Poços de Caldas comemora dez anos e o destaque são escritores jovens, como Alex Sens (foto acima), que acaba de lançar o romance O frágil toque dos mutilados (editora Autêntica) e Thalita Rebouças, que lotou o auditório de fãs adolescentes.

Há ainda autores consagrados como Zuenir Ventura e João Anzello Carrascoza. Carrascoza conversou com a São Paulo Review, contando um pouco de sua relação com a escrita. Leia a seguir.

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Prêmios

“Prêmios não significam que seu livro é o melhor. Livros bem construídos, competência ficcional, fabulação vão consolidando um autor. Não vejo a literatura como uma corrida de cavalos. Tem uma história, trajetória que vale a pena se falar de determinado autor. Prêmios trazem evolução na história desse autor.”

“Leitores peritos e comuns têm que ser impactados com determinado livro. Prêmios nem sempre significam que um livro tem valor ou que é o melhor. A obra é boa quando tem sua singularidade no trato com a palavra, na capacidade de construção de um bom texto, quando dá voz às inquietações de seu tempo.”

Literatura

“A literatura é feita daquilo que é elevado, aquilo que tematiza melhor a condição humana. Da linguagem, da visceralidade, cada autor vai encontrando seu jeito de expor suas inquietações. Pode ir se tornando cada vez mais sofisticado porque tenta abraçar esse mundo sensível. Literatura superficial, epidérmica é uma literatura que fala pouco.”

Público

“O importante é o escritor aproximar sua obra do público, escrever criando sua voz literária. Quando cai na mão de um leitor, e ele se apaixona por aquele mundo possível, pelo universo ficcional que determinado escritor é o construtor, acaba querendo os outros livros deste criador. O leitor sente uma comunhão de sentidos, vira fã.”

“O contato com o público incorpora e provoca o escritor a querer mais conexão com esse público. Você quer colocar o seu melhor e aquilo te impacta como escritor. Às vezes você tem que correr o risco de até fazer coisas diferentes do que você vinha fazendo.”

Desafios

“O romance Aos 7 e aos 40, por exemplo, é um romance que tem vários capítulos que se entremeiam. O personagem é explorado aos 7 anos e depois aos 40. Esse personagem enfrentando uma leitura de mundo aos 7 e aos 40 anos. O que significa para este personagem o amor, a morte a traição aos 7 e aos 40? Nessas idades, o mundo muda. Eu tentei trabalhar de forma que esses capítulos fossem como contos entre si mas também que eles formassem um romance como um espelhamento. São 12 capítulos que você pode começar por onde você quiser. Você cria seu caleidoscópio.”

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Viviane Ka é escritora e roteirista de cinema. É editora da São Paulo Review