Por Georges Bataille *

Genet e o estudo de Sartre sobre ele

Um menino abandonado, desde a mais tenra idade, dá provas de maus instintos, rouba os pobres camponeses que o adotaram. Repreendido, persevera, foge do reformatório onde se fez necessário colocá-lo, rouba e pilha ainda mais e, de quebra, se prostitui. Vive na miséria, de mendigar e cometer pequenos furtos, trepando com todo mundo e traindo cada um, mas nada pode desencorajar seu zelo: é o momento que ele escolhe para se dedicar deliberadamente ao mal; decide que fará o pior em todas as circunstâncias e, como se deu conta de que o pior delito não era fazer mal e sim manifestá-lo, escreve na prisão livros que fazem a apologia do mal e constituem infrações à lei. Precisamente por isso, ele vai sair da abjeção, da miséria, da prisão. Imprimem seus livros, leem-nos, um diretor condecorado com a Legião de Honra monta em seu teatro uma de suas peças, que incita ao assassinato.[1] O presidente da República assina a remissão da pena que ele devia cumprir por seus últimos delitos, justamente porque ele se gaba em seus livros de tê-los cometido; e quando lhe apresentam uma de suas últimas vítimas, ela lhe diz: ‘Muito honrado, senhor. Por favor, continue assim’.[2]

Sartre prossegue: “Taxareis essa história de inverossímil: no entanto, foi o que aconteceu com Genet”.

Nada mais espantoso, de fato, que a pessoa e a obra do autor do Diário de um ladrão. Jean-Paul Sartre consagra-lhe hoje um longuíssimo trabalho, e direi sem hesitar que há poucos mais dignos de interesse. Tudo concorre para fazer desse livro um monumento: sua extensão, em primeiro lugar, e a excessiva inteligência que o autor demonstra nele, a novidade e o interesse assombroso do assunto, mas também a agressividade que sufoca e o movimento precipitado que a repetição contínua acentua, que por vezes torna penosa sua segurança. Ao final, o livro deixa um sentimento de desastre confuso e de engodo universal, mas ele ilumina a situação do homem atual, recusando tudo, revoltado, fora de si.[3]

Seguro de uma dominação intelectual cujo exercício, num tempo de decomposição e expectativa, faz pouco sentido, mesmo a seus olhos, Sartre, oferecendo-nos Saint Genet, acaba enfim de escrever o livro que o exprime. Seus defeitos nunca foram mais marcados: ele nunca soletrou seu pensamento mais longamente, nunca se quis mais fechado àqueles arrebatamentos discretos, propiciados pela chance, que atravessam a vida e a iluminam furtivamente: o parti pris de pintar o horror com complacência denuncia esse humor. A repetição contínua é, em parte, o efeito de um procedimento que afasta das vias normais. Imagino, por outro lado, injustificada a rigidez que inibe os momentos ingênuos de felicidade, mas aquele que a ingenuidade limita está do lado oposto do despertar. Nesse sentido, ainda que eu me espante por vezes, mesmo rindo, não me recuso ao contágio de exigências amargas, que liberam o espírito da tentação do repouso. Finalmente, não há nada que eu admire mais, nos desenvolvimentos de Saint Genet, que uma fúria de “nulidade”, de negação dos valores mais atraentes, à qual a pintura incessantemente renovada da abjeção confere uma espécie de acabamento. Mesmo da parte de Jean Genet, quando fala do prazer que encontrou nelas, o relato dessas conspurcações gera confusão, mas da parte de um filósofo?… Trata-se, parece-me – e ao menos em parte é verdade –, de virar as costas para o possível e de se abrir ao impossível sem prazer.

Não vejo apenas nesse interminável estudo um dos livros mais ricos desse tempo, mas também a obra-prima de Sartre, que nunca escreveu algo tão saliente, nada que escapasse com tanta força ao atolamento ordinário do pensamento. Os livros monstruosos de Jean Genet foram um ponto de partida favorável: eles lhe permitiram utilizar plenamente um valor de choque e uma turbulência cujo resultado lhe é proporcional. Através do objeto de seu estudo, ele soube pôr em jogo o mais candente. Isso tinha de ser dito, pois Saint Genet está longe de se apresentar como a obra importante de um filósofo. Sartre falou dele de tal maneira que teríamos o direito de nos enganar. Genet, diz ele,[4] “permitiu que publicassem suas obras completas para o grande público com um prefácio biográfico e crítico como se fez com Pascal e Voltaire na coleção dos Grandes Escritores Franceses”… Não me deterei na intenção que Sartre teve de colocar no pedestal um escritor que, por ser singular, sem dúvida dotado, humanamente angustiante, nem por isso deixa de estar longe de ser aos olhos de todos igual aos maiores[5]: Genet talvez seja a vítima de uma enfatuação; despojado do halo de que o cerca um esnobismo literário, Genet sozinho é mais digno de interesse. Não insistirei. Seria de qualquer modo injustificado ver, no volumoso estudo de Sartre, um simples prefácio. Mesmo supondo que não tenha respondido a uma intenção mais longínqua, esse trabalho literário não deixa de ser a investigação mais livre, mais aventurosa, que um filósofo já dedicou ao problema do Mal.

A consagração sem reserva ao Mal

Isso se deve, em primeiro lugar (mas não só a isso), à experiência de Jean Genet, que é sua base. Jean Genet se propôs a buscar o Mal como outros se propuseram a buscar o Bem. Está aí uma experiência cuja absurdez é sensível à primeira vista. Sartre marcou bem isso; buscamos o Mal na medida em que o tomamos pelo Bem. Fatalmente, semelhante busca é frustrada ou vira farsa. Mas não é por estar condenada ao fracasso que ela perde seu interesse.

É, em primeiro lugar, a forma da revolta naquele que a sociedade excluiu. Abandonado por sua mãe, criado pela Assistência Pública, Jean Genet teve tanto menos chance de se integrar à comunidade moral por ter o dom da inteligência. Roubou, e a prisão, inicialmente a casa de correção, tornou-se sua sina. Mas os excluídos de uma sociedade justiceira, se não têm “os meios para derrubar a ordem existente […], não concebem outras” e nada admiram tanto quanto “os valores, a cultura e os costumes das castas privilegiadas […]: simplesmente, em vez de carregar envergonhadamente sua marca de infâmia, ornam-se dela com orgulho”. “Preto sujo, diz um poeta negro. Pois bem! Sim, sou um preto sujo e prefiro minha negritude à brancura de sua pele.”[6] Sartre vê nessa reação primeira o “estágio ético da revolta”:[7] ela se limita à “dignidade”. Mas a dignidade de que se trata é o oposto da dignidade comum, a dignidade de Jean Genet é a “reivindicação do Mal”. Ele não poderia dizer, portanto, com a colérica simplicidade de Sartre, “nossa abjeta sociedade”. Para ele, a sociedade não é abjeta. Pode-se qualificá-la dessa maneira se colocamos um desprezo justificável acima da preocupação com a precisão; do homem mais limpinho e elegante, posso sempre me dizer: “é um saco cheio de excrementos”, e, se não fosse impotente para tanto, a sociedade rejeitaria aquilo que é abjeto a seus olhos. Para Genet, não é a sociedade que é abjeta, é ele próprio: ele definiria justamente a abjeção como aquilo que ele é, como aquilo que ele é passiva – senão orgulhosamente. Além do mais, a abjeção de que a sociedade é acusada é pouca coisa, sendo obra de homens, superficialmente corrompidos, cujas ações têm sempre um “conteúdo positivo”. Se esses homens tivessem sabido chegar aos mesmos fins pelos meios honestos, eles os teriam preferido: Genet quer a abjeção, mesmo que ela só traga o sofrimento, ele a quer por si mesma, para além das comodidades que encontra nela, ele a quer por uma propensão vertiginosa à abjeção, na qual ele não se perde menos inteiramente que o místico em Deus no seu êxtase.

A soberania e a santidade do Mal

A aproximação pode ser inesperada, mas ela se impõe de tal maneira que Sartre, citando uma frase de Genet, exclama[8]: “Não parecem as queixas de um místico nos momentos de secura?”. Isso corresponde à aspiração fundamental de Genet à santidade, palavra de que diz, misturando ao gosto pelo sagrado o gosto pelo escândalo, que ela é “a mais bela da língua francesa”. Isso esclarece o título que Sartre dá a seu livro: “Saint” Genet. O parti pris do Mal supremo ligou-se de fato àquele do Bem supremo, um e outro ligados pelo rigor a que o outro pretende. Mas não podemos nos enganar diante do enunciado desse rigor; a dignidade ou a santidade de Jean Genet jamais tiveram outro sentido: a abjeção é seu único caminho. Essa santidade é a santidade de um palhaço, maquiado como uma mulher, encantado em ser um objeto de derrisão. Genet representou a si mesmo miserável, de peruca, prostituindo-se, cercado de comparsas parecidos com ele e ornado com um colar de baronesa de pérolas falsas. O colar cai, as pérolas se espalham, ele tira da boca uma dentadura, coloca-a sobre a cabeça e exclama, com os lábios para dentro: “Pois bem, madames! Eu serei rainha mesmo assim!”.[9] É que a pretensão a uma horrível santidade se liga ao gosto por uma soberania irrisória. Essa vontade exasperada do Mal se demonstra revelando a profunda significação do sagrado, que encontra seu ápice no movimento de inversão. Há uma vertigem e uma ascese nesse horror que o próprio Genet tentou exprimir: “Culafroy e Divine, de gostos delicados, serão sempre obrigados a amar aquilo que lhes repugna, e isso constitui um pouco de sua santidade, pois se trata de renúncia”.[10] O anseio pela soberania, o anseio de ser soberano, de amar aquilo que é soberano, de tocá-lo e de se impregnar dele enfeitiça Genet.

Essa soberania elementar tem aspectos variados e enganosos. Sartre oferece dela um lado grandioso, opondo-se assim ao pudor de Genet, que, não sendo senão o avesso do pudor, é, no entanto, o próprio pudor. “A experiência do Mal”, diz Sartre, “é um cogito principesco que descobre à consciência sua singularidade em face do Ser. Quero ser um monstro, um furacão, tudo o que é humano me é estranho, transgrido todas as leis que os homens estabeleceram, piso em todos os valores, nada do que é pode me definir ou me limitar; no entanto, existo, serei o sopro gelado que aniquilará toda vida.”[11] Isso soa oco? Sem dúvida! mas não pode ser separado do sabor mais forte, e mais sujo, que Genet lhe dá: “Tinha 16 anos… no meu coração, não conservava nenhum lugar onde pudesse se alojar o sentimento de minha inocência. Reconhecia-me o covarde, o traidor, o ladrão, a bicha que viam em mim… E tinha o estupor de me saber composto de imundices. Tornei-me abjeto”.[12] Sartre viu e compreendeu esse caráter régio inerente à pessoa de Jean Genet. Se, diz Sartre, “ele compara com tanta frequência a prisão a um palácio é porque se vê como um monarca pensativo e temido, separado de seus súditos, como tantos soberanos arcaicos, por muralhas intransponíveis, por tabus, pela ambivalência do sagrado”.[13] A imprecisão, a negligência e a ironia dessa aproximação correspondem à indiferença de Sartre para com o problema da soberania.[14] Mas Genet, que se liga à negação de todo valor, não deixa de estar enfeitiçado pelo valor supremo, por aquilo que é santo, soberano, divino. No sentido simples da palavra, talvez ele não seja sincero – sincero ele nunca é, nunca consegue sê-lo –, mas está obsedado se diz o camburão de polícia revestido de um “encanto de infortúnio altaneiro”, de “infortúnio régio”, se vê nele “um vagão carregado de grandeza, fugindo lentamente quando (o) transportava, entre as fileiras de um povo curvado de respeito”.[15] A fatalidade da ironia – mas, essa ironia, Genet a padeceu mais do que a quis – não impede que se veja a ligação trágica entre a punição e a soberania: Genet só pode ser soberano no Mal, a própria soberania talvez seja o Mal, e o Mal nunca é mais seguramente o Mal do que quando punido. Mas o roubo tem pouco prestígio ao lado do assassinato, e a prisão ao lado do cadafalso. A verdadeira realeza do crime é aquela do assassino executado. A imaginação de Genet se esforça por magnificá-la de uma maneira que poderia parecer arbitrária, mas se, na prisão, ele enfrenta a punição da masmorra e exclama: “vivo a cavalo […], entro na vida dos outros como um grande de Espanha na cátedra de Sevilha”,[16] sua bravata é frágil e muito significativa. Sua tristeza, se a morte está em jogo de todos os lados, se o criminoso a deu e espera recebê-la, confere à soberania que ele imagina uma plenitude; decerto, é ainda um engodo, mas, para além de um dado sem encanto e sem felicidade, o mundo do homem não é inteiramente o efeito de uma imaginação, de uma ficção? Efeito frequentemente maravilhoso, mais frequentemente ainda angustiante. Socialmente, a magnificência de Harcamone em sua cela, mais sutil, é menos imponente que a de Luís XVI em Versalhes, mas está fundada da mesma maneira. A pompa verbal, de que Genet raramente prescinde, está, apesar de tudo, coberta com um véu de gravidade quando evoca Harcamone, na sombra da masmorra, “igual a um Dalai-Lama invisível”…[17] Quem evitaria o mal-estar trazido por essa pequena frase, alegoria da execução do assassino: “Embandeiravam-na [a cela de Harcamone] de preto mais que a uma capital cujo rei acaba de ser assassinado”.[18]

Não menos que a da santidade, essa obsessão pela dignidade régia é um leitmotiv da obra de Genet. Multiplicarei os exemplos. De um “colono” da casa de correção de Mettray, Genet escreve: “Ele dizia uma só palavra que o despia de seu estado de colono, mas o vestia de ouropéis magníficos. Era um rei”.[19] Em outro livro,[20] fala “dos rapazes que bebem como cavalos e sobre a cabeça dos quais, numa auréola, daria para ver uma coroa real”. De Mignon les Petits-Pieds,[21] que vende seus amigos, escreve[22]: “As pessoas que ele cruza […] sem o conhecerem […] atribuem uma espécie de soberania descontínua e momentânea a esse desconhecido, de quem todos esses fragmentos de soberania acabarão fazendo com que, no fim de seus dias, tenha percorrido a vida como soberano”. Stilitano, a quem, um dia em que um piolho subia em seu colo, outro dizia: “estou vendo um belo que te escala”, é rei, ele também, é um “monarca suburbano”.[23] Entre todos, Métayer, colono de Mettray, “era régio por conta da ideia soberana que fazia de sua pessoa”.[24] Dezoito anos, feio, coberto de abcessos vermelhos, Métayer dizia “aos mais atentos, e sobretudo a mim, que era descendente dos reis de França”. “Ninguém”, acrescenta Genet, “estudou a ideia de realeza entre as crianças. Devo dizer, no entanto, que não há um moleque que, tendo batido os olhos na História da França de Lavisse ou de Bayet, ou em qualquer outra, não tenha se acreditado delfim ou algum príncipe de sangue. A lenda de Luís XVII evadido de uma prisão forneceu sobretudo pretexto a esses devaneios. Métayer devia ter passado por aí.” Mas a história de Métayer teria pouco a ver com a realeza dos criminosos se ele não tivesse sido acusado, talvez por engano, de dedurar uma fuga. “Verdadeira ou falsa”, diz Genet, “uma acusação desse tipo era terrível. Punia-se cruelmente com base em simples suspeitas. Executava-se. O príncipe real foi executado. Trinta moleques mais encarniçados sobre ele que as Tricotadeiras[25] sobre seu ancestral o cercavam, urrando. Num desses buracos de silêncio, como aqueles que se formam por vezes no meio de um tornado, escutamo-lo murmurar: – Fizeram isso também com Cristo. Ele não chorou, mas foi naquele trono revestido de tão súbita majestade que escutou talvez o próprio Deus lhe dizer: ‘Serás rei, mas a coroa que cingirá tua cabeça será de ferro rubro’. Eu o vi.[26] Eu o amei.” A paixão, afetada, mas verdadeira, de Genet une na mesma luz, e na mesma mentira, essa realeza de comédia (ou de tragédia) àquela da rainha Divine, coroada por uma dentadura. Nem mesmo a polícia escapa de ser ornada com essa dignidade sinistra e soberana pelo misticismo desviado de Genet: a polícia, “organização demoníaca, tão repugnante quanto os ritos fúnebres, os ornamentos funerários, tão prestigiosa quanto a glória régia”.[27]

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[1]  Louis Jouvet, que montou Les Bonnes (As criadas) em 1947 no Théâtre de l’Athénée. (N.E.)

[2]  SARTRE, Jean-Paul. Saint Genet, comédien et martyr. Paris: Gallimard, 1952.

p. 253. [Edição brasileira: Saint Genet: ator e mártir. Tradução de Lucy Magalhães. Petrópolis: Vozes, 2002.] (Œuvres complètes de Jean Genet, t. I). Sartre introduz com as seguintes palavras essa espécie de biografia resumida: “Eis aqui um conto para uma antologia de Humor negro”.

[3]  Aqui havia esta nota de rodapé em Critique: “Nesse sentido, ele completa o quadro oferecido em L’Homme révolté [1951], de Camus [Edição brasileira: O homem revoltado. Tradução de Valerie Rumjanek. Rio de Janeiro: Record, 1996.]. Ambos os livros consideram o esforço do homem atual para sobreviver à servidão moral que a sociedade moderna lhe propõe. Mas O homem revoltado não tem a desenvoltura de Saint Genet”. (N.E.)

[4]  SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 528.

[5]  Nota em Critique: “Não é por acaso que aqueles de meus amigos em cujo julgamento mais confio têm a mesma reação que eu. Sartre pensa que, se François Mauriac falou hostilmente de Genet, foi porque Genet é um grande escritor, coisa que Mauriac não é. Isso mostra apenas que Sartre, por vezes, responde à preocupação de ferir, não àquela de ver. Se Mauriac falou contra Genet, é porque o próprio sentido de Genet está ligado ao fato de ter Mauriac contra ele. Se Mauriac tivesse simplesmente se calado, isso significaria que Genet não tinha conseguido fazê-lo falar, protestar, como teve a intenção implicitamente de fazer. O gosto literário não está em causa. Aqueles de meus amigos a que faço alusão não têm as mesmas razões que Mauriac para julgar mal”. (N.E.)

[6]  SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 59-60.

[7]  SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 60.

[8]  SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 108.

[9]  GENET, Jean. Notre-Dame-des-Fleurs. Œuvres complètes, t. II. [Edição brasileira: Nossa Senhora das Flores. Tradução de Newton Goldman. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.] Sartre analisa longamente essa espécie de coroamento.

[10] GENET. Notre-Dame-des-Fleurs, p. 79.

[11] SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 221.

[12] Citado por SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 79.

[13] SARTRE. Saint Genet, comédien et martyr, p. 343.

[14] A soberania o excita menos que a santidade cujo odor ele liga ao dos excrementos. Vê sua ambivalência, mas engloba-a na aversão que lhe inspiram, “digam o que disserem”, as matérias fecais. Ele chega a falar da soberania em termos incontestáveis. “Se o criminoso”, diz ele (p. 223), “tem a cabeça sólida, há de querer até o fim permanecer mau. Isso quer dizer que construirá um sistema para justificar a violência: só que assim esta perderá sua soberania”. Mas não se preocupa com o problema da soberania (que cada um, por sua conta, deve atingir), colocado por todo e qualquer homem.

[15] GENET, Jean. Miracle de la rose. In: Œuvres complètes, II, p. 190-191. [Edição brasileira: O milagre da rosa. Tradução de Manoel Paulo Ferreira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.]

[16] GENET. Miracle de la rose, p. 212.

[17] Coberta com um véu de gravidade… mas sempre pomposa. Eis o conjunto da frase: “Era no fundo dessa cela, onde o imagino igual ao Dalai-Lama invisível, poderoso e presente, que ele emitia sobre todo o presídio aquelas ordens de tristeza e de alegria misturadas. Era um ator que sustentava sobre seus ombros o fardo de tamanha obra-prima que se escutavam rangidos. Fibras se rasgavam. Meu êxtase era percorrido por um leve estremecimento, uma espécie de frequência ondulatória que era meu temor e minha admiração alternados e simultâneos.” (GENET. Miracle de la rose, p. 217).

[18] GENET. Miracle de la rose, p. 390.

[19] GENET. Miracle de la rose, p. 329.

[20] GENET. Notre-Dame-des-Fleurs, p. 143.

[21] Traduzido, o nome desse personagem daria algo como “Fofo de pezinhos pequenos”. (N.T.)

[22] GENET. Notre-Dame-des-Fleurs, p. 141.

[23] GENET, Jean. Journal du voleur. Paris: Gallimard, 1951. In-16, p. 378. [Edição brasileira: Diário de um ladrão. Tradução de Jacqueline Laurence e Roberto Lacerda. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.]

[24] GENET. Miracle de la rose, p. 349-350.

[25] Referência às tricoteuses da Revolução Francesa. Mulheres pagas para assistirem aos julgamentos e às execuções na guilhotina e que costumavam fazê-lo tricotando (mas também xingando e urrando encarniçadamente). (N.T.)

[26] Sublinhado por Genet.

[27] GENET. Journal du voleur, p. 200-201.

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O trecho acima integra a coletânea A literatura e o mal, de Georges Bataille, [editora Autêntica, 200 págs., tradução Fernando Scheibe]

 

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