Moça_capasite

O  novo e visceral romance de Evandro Affonso Ferreira acontece nas entrelinhas, quando a linguagem – que parece submeter-se às demandas internas das personagens – vai se desvelando, pouco a pouco, para exibir-se nua como verdadeira amante da narrativa. É a palavra a grande personagem desse livro.

No início, assume um caráter lírico para, ao longo da obra, flertar com a aridez e o niilismo. Em determinado momento, percebe-se que não são mais as personagens que se servem das palavras para falar de amor, mas o contrário: o ethos da linguagem funda os caminhos amorosos a partir de seus parâmetros, numa vertigem que domina tanto o poeta quanto a musa.

Conforme o autor, o livro traz linguagem-demiurgo do amor e do desejo. Nas reentrâncias das palavras, os amantes se encontram, se despem, se amam, clamam a redenção de suas inquietudes, vicejam a vida como ela poderia ter sido. Então o amor transcende por meio do afeto e da metafísica da linguagem.

Moça quase-viva enrodilhada numa amoreira quase-morta, de Evandro Affonso Ferreira (Editora Nós, 98 págs.)