A São Paulo Review, seus colaboradores e conselheiros escolheram os melhores livros de 2016. Veja lista abaixo:

Alexandre Staut, escritor, jornalista, editor da São Paulo Review

A vida invisível de Eurídice Gusmão, de Martha Batalha (Companhia das letras) – Romance simples na forma e repleto de conteúdo, que tem como palco a periferia carioca. Um livro feminista, bem-humorado, que visita temas de clássicos contemporâneos nacionais, a exemplo de A hora da estrela (Clarice) e A estrela sobe (Marques Rebelo).

Baseado em fatos reais, de Delphine de Vigan (Intrínseca) – A romancista francesa constrói trama sobre sua relação com uma ghost writer psicopata que segue seus passos. Um thriller psicológico dos melhores que já li. Uma aula de auto-ficção.”

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Viviane Ka, escritora, roterista, diretora da São Paulo Review

Linha M, Patti Smith (Companhia das Letras) –  Sensível e contemplativo momento da musa do punkrock, com referências literárias para alimentar a alma.

A guerra não tem rosto de mulher, de Svetlana Aleksiévitch (Companhia das Letras) – Impressionou-me pelo trabalho monumental e pela emocionante participação na Flip 2016.”

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Ubiratan Muarrek, escritor, jornalista e parte do conselho editorial da São Paulo Review

A festa de aniversário e o Monta-Cargas, de Harold Pinter (José Olympio) – Pinter prova – talvez seja o único – que há vida depois de Samuel Beckett.

Todos os contos, de Clarice Lispector (Rocco) – A autora se afirma nesse volume naquilo que é: o maior nome da nossa ficção.”

Raimundo Neto, escritor e crítico literário

Simpatia pelo demônio, de Bernardo Carvalho (Companhia das Letras) – Livro que trata de amor e violências; intimidades que se espalham sobre o entorno, nas relações; erotismo e prazer que machucam; infâncias e adolescências cristalizadas em horrores não superados de abandono e maldades.

Isso também vai passar, de Milena Busquets (Companhia das Letras) – Uma filha – pelos caminhos da maternidade e do sexo casual sem chances de ser descartável – constrói o luto da morte de sua mãe através da amizade, do prazer fluído e livre de julgamentos conservadores. A espanhola Milena tem uma prosa livre de pecados e cheia de perdões ao falar sobre vida, morte, sexo, dor e redenções.”

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Ronaldo Cagiano, escritor, crítico literário

Nunca o nome do menino, de Estevão Azevedo. (Record) – Narrativa permeada de riqueza estilística e linguagem poética, o romance transita pela metaliteratura e pela intertextualidade. Um jogo de espelhos em que autor, personagem e narrador se relacionam numa trama simbiótica, em que se discute também as nuances do próprio fazer literário.

Não tive nenhum prazer em conhecê-los, Evandro Affonso Ferreira (Record) – O autor dá sequência ao mapeamento das angústias humanas e às inquietações metafísicas do ser iniciado com Minha mãe se matou sem dizer adeus (2012), em cujas obras seus protagonistas vivem sempre suas situações limite ou apartheids psicológicos. Aqui, um nonagenário que deambula pela “metrópole apressurada” desfia seu rosário de imprecações contra a realidade, enfrentando seu desmoronamento físico e social, reverberando seus questionamentos sobre a vida com lampejos críticos e provocadores.”

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Fabiana Gitsio (da Argentina), jornalista, parte do conselho editorial da São Paulo Review

Uma história natural da curiosidade, de Alberto Manguel (Companhia das letras) – Houve um tempo em que María Kodama era a que lia para Jorge Luis Borges, com quem viria a se casar. Mas antes, de 1964 a 1968, foi Alberto Manguel quem aliviou os incipientes problemas de visão do monstro sagrado. Um livro de profunda reflexão filosófico-literária, que aborda  as dores e as delícias que representam o saber e que qualifica todo amante da literatura, E assim como se passou com seu mestre, Manguel dirige a Biblioteca Nacional de Buenos Aires.

Enquanto houver champanhe, há esperança, de Joaquim Ferreira dos Santos (Intrínseca) –  Nunca houve um colunista como Zózimo Barrozo do Amaral, que conseguia reunir a sagacidade do furo jornalístico e a elegância do jet set carioca em borbulhas sempre generosas. O texto de Joaquim reconstitui toda sua vida, seus amores e sua escrita marcante em O Globo, primeiro, e Jornal do Brasil, depois. E mostra porque foi Zózimo e nenhum outro o príncipe dos cronistas sociais. Sorry, Ibrahim.”

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Flávia Gusmão, jornalista, escritora, parte do conselho editorial da São Paulo Review

O Marechal de Costas, de José Luiz Passos (Alfaguara) – O autor de O sonâmbulo amador nos prova, com este terceiro romance, a versatilidade de sua prosa. Apoiado num personagem de biografia obscurecida como Floriano Peixoto, aproveita para tecer metáforas e traçar paralelos que arrastam o leitor para uma reflexão sem fim.”

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Kiko Sucupira, advogado, memorialista, escritor, parte do conselho editorial da São Paulo Review

Matula, de Moacir Amâncio (Annablume) – O jornalista Moacir Amâncio troca a pena pesada que o acompanhou nas antigas edições de um jornal pouco afeito aos processos, e, tem sua odisseia no espaço na poesia. A (possível) referência à sua cidade natal, Pinhal, mesmo sendo volátil e magnética, encanta o coração… que bate mais forte nos conterrâneos.”

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Sergio Tavares, escritor, crítico e parte do conselho editorial da São Paulo Review 

Todos os contos, Clarice Lispector (Rocco) – Esse monumento literário abrange 40 anos de produção da autora, incluindo textos encontrados após sua morte. Sofisticada e criativa, Clarice se mostra pronta desde suas primeiras histórias. O que se lê não é uma evolução artística, mas uma autora que manipula a forma, arrisca novos estilos, dimensiona a psicologia de seus personagens e, ao se lançar em experimentações, consagra-se genuína. Clarice já estava no futuro, tratando, em seus contos, de temas badalados nos dias de hoje.

A fome, Martín Caparrós (Bertrand Brasil) – O ensaio, de mais de 700 páginas, é constituído através das experiências do jornalista argentino em encontros com homens, mulheres e crianças na condição mais brutal de miséria e de escassez de alimentos. Caparrós resgata passagens por Bangladesh, Níger, Madagascar, Argentina, Espanha e Estados Unidos, transitando de aldeias remotas a lixões, a fim de examinar a origem e a estrutura da fome, e trazer a lume verdades contraditórias que apontam que, muito mais que uma fatalidade geográfica ou climática, a fome é resultado de decisões burocráticas e de (in)ações políticas. O resultado são dados avassaladores que apontam que, todos os anos, 3 milhões de crianças morrem por causa da fome ou de doenças relacionadas; que, incluindo os adultos, ocorram 25 mil mortes por dia, no mundo. “Como, caralho, conseguimos viver sabendo que acontecem essas coisas?”, é uma pergunta recorrente e sempre sem resposta.

O fim da história, Lydia Davis (José Olympio) – A escritora norte-americana empreende uma imersão nas angústias de uma mulher traída pelos próprios desejos, pela negação de um destino sobre o qual não pode se impor. De maneira imprecisa, a voz feminina que conduz a trama tenta construir um romance a partir dos escombros de uma relação amorosa. O tom inflexivo ilustra a dicção de uma autora magnífica, detentora de um apuro extremo verbalizado em delicadeza. Um romance que nasce de um fim, mas não comporta, em seus limites paginados, um desfecho determinante. A memória é a matéria e a própria literatura.”

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Gisele Corrêa Ferreira , curadora da Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas, a Flipoços 

O hotel da Place Vendôme, de Tilar J. Mazzeo, lançado aqui pela Intrínseca, refaz o retrato de uma das épocas mais efervescentes da arte e da intelectualidade parisienses, em uma trama que tem o célebre hotel Ritz como epicentro geográfico.

A livraria mágica de Paris, de Nina George, da Record, conta a história de um livreiro que indica livros como receitas médicas, no mesmo período histórico da capital francesa.

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