
“Primeira Pessoa, Dom Casmurro”, da Cia de Arte Boursoria, estreia no Rio de Janeiro, em curta temporada, no teatro Vannucci, a partir de 2 de abril. A peça amplifica as comemorações dos 125 anos de Dom Casmurro, de Machado de Assis, em uma adaptação original da obra literária pela roteirista e diretora Aline Bourseau,
Com argumento totalmente focado na eterna dúvida deixada pela narrativa do livro e com sete atores e cinco músicos no palco – Clara Werneck, Greg Soria, Lucas Rocha, Maria Bianchi, Sandra Durães, Sergio Eng e Tiago Grigor; e Banda Abbusai, formada por Claudia Usai (composição, piano e voz); Paula Usai (bateria e voz); Romulo Monnerat (composição, guitarra e voz); Iago de Almeida (guitarra e voz); e Matheus Francelino (baixo).
Foi no início do ano de 1900 que o livro chegou às livrarias do Rio de Janeiro, então capital da jovem república, impresso em Paris, em dezembro de 1989, data que consta da primeira edição. E quem diria que o romance se tornaria um dos livros mais discutidos e polêmicos de toda a literatura brasileira. “O espetáculo Primeira Pessoa, Dom Casmurro é um convite para revisitar uma das maiores obras da literatura brasileira, agora sob uma nova lente que evidencia as dinâmicas de controle, dúvida e obsessão”, diz Aline, responsável pela adaptação e direção.
Muito além da obra literária, aclamada e reconhecida no mundo inteiro, existem inúmeros estudos, adaptações e interpretações, desde psicológicas e psicanalíticas na crítica literária dos anos 1930 e 1940, passando pela crítica literária feminista na década de 1970, até sociológicas da década de 1980 –explorando temas de ciúmes, a ambiguidade de Capitu, o retrato moral da época e o caráter do narrador, Bentinho.
Enquanto a obra original levanta questões como ciúmes, insegurança e manipulação emocional que geram discussões acerca da toxicidade do relacionamento amoroso, o espetáculo Primeira Pessoa, Dom Casmurro parte da premissa de que existe uma narrativa duvidosa e labiríntica, propondo o tempo todo a dúvida e uma memória falha.
Ao mergulhar nessa proposta de discurso, o público vivencia a angústia da incerteza e a complexidade dos sentimentos, que se tornam opressores. Assim, o espetáculo Primeira Pessoa, Dom Casmurro leva o espectador a um jogo reflexivo e perturbador, explorando os aspectos sombrios das relações amorosas e da mente, temas que, até hoje, são de grande pertinência e debate. A pergunta que fica é: até onde vai a verdade de Bentinho?
A ideia de uma companhia voltada para pesquisa de diversas formas e produções artísticas surgiu em 2023, fruto de vários trabalhos realizados pela diretora Aline Bourseau desde 2020. A necessidade de iniciar uma nova companhia e empresa se consolidou organicamente com os valores, princípios e diretrizes de uma produção artística e formação de artistas sempre baseadas no desafio da pesquisa, investigação de linguagens e produção de conhecimento. Assim nascia a Cia de Arte Boursoria.