A São Paulo Review fez a pergunta para escritores, editores, jornalistas, curadores, agentes, bibliotecários, curadores, tradutores e livreiros. Veja os depoimentos.

“Acredito que os livros se aproximam cada vez mais dos relatos de memória: desde as memórias mínimas de impressões da infância até as grandes memórias históricas e universais. As memórias de objetos que podem construir um cenário quase teatral, memória de paisagens inesquecíveis, memória de sentimentos e emoções presentes e ausentes. A memória de alguém que se recria como personagem. A memória como um fantasma que acompanha o desenrolar dos tempos. O texto como aparição, sopro. Memórias involuntárias e bruscamente presentes, um álbum de presenças.”

Viviane Ka, escritora, autora de “Um quarto em Cavala”


“Continua a literatura com temática racial – questão de retratação histórica e também porque a lançada ultimamente está cada vez melhor, além da LGBT+… na onda do sucesso de Édouard Louis. Obras que retratam a destruição do planeta e a escassez de alimentos também devem seguir em alta. Não sei se ainda este ano, ou em breve, a espiritualidade e os temas relativos ao ‘mundo invisível’ também estarão cada vez mais presentes. No ano passado tivemos o romance Oração para desaparecer, da Socorro Acioli, que toca no assunto de uma forma inédita e muito legal, além de Diários na aldeia, do indígena João Potiguara, que eu editei na Folhas de Relva Edições. Para este ano foi anunciado novo romance da Giovana Madalosso (foto) – Batida só -, que também traz a temática da espiritualidade.”

Alexandre Staut, escritor, editor da São Paulo Review e da Folhas de Relva Edições


“Nada indica que veremos muitas mudanças. Devem prevalecer as narrativas fundadas na psicanálise, que dialogam com a autoficção, experiências de luto. É bem possível que o recente sucesso de ‘Ainda estou aqui’ amplie o espaço para obras ambientadas na ditadura militar, que felizmente já vinham tendo boa receptividade nos últimos anos. Caso o mercado passe a considerar uma interpretação de mundo um pouco mais realista, devemos ter também uma produção maior de distopias nacionais.”

René Duarte, escritor, tradutor e editor da Peabiru


“A meu ver, em 2025, a tendência já observada de as editoras brasileiras privilegiarem a literatura feita por negros, indígenas e mulheres, em especial as que pertencem aos grupos citados, deve prevalecer. Aliás, o que acho bom. Imagino que a autoficção, depois do sucesso de Annie Ernaux e da passagem triunfante de Edouard Louis pelo Brasil em 2024, deva ganhar espaço. Torço para que haja diversidade, pois, assim como na natureza, a monocultura destrói tudo. Estou falando de uma parte muito específica do mundo dos livros, a da literatura, da ficção mais exatamente, área em que transito, mas arrisco a dizer que as editoras continuarão a despejar nas livrarias autoajuda, biografias desinteressantes, textos rasos de religião, receitas fajutas de influenciadores digitais e, com a ascensão da direita nos EUA, textos encantatórios de um mundo falso.”

Alexandre Brandão, escritor


“Acredito que em 2025 teremos mais livros de contos ganhando holofotes e os leitores se apoderando do gênero. Quero dar destaque para duas escritoras: a Bethânia Pires Amaro, que com o livro O ninho já mostra estilo e coragem de veterana. Vou acompanhar de perto tudo que ela vem fazendo. A outra é Nathallia Protazio, que lançou no final de 2024 seu terceiro de crônicas: A faxineira mais bem paga do Bom Fim, que ainda vamos ouvir falar bastante em 2025.

Também quero destacar e incentivar que mais autores sigam a Jarid Arraes nessa empreitada que ela vem realizando em seu Instagram, @jaridarraes, alertando sobre os ‘espertinhos’ e charlatões do meio literário que atrasam a vida dos iniciantes e de todos os demais.

Para finalizar torço muito por duas coisas: A primeira é que a Lei Cortez seja logo aprovada e regulamentada. Também estou na torcida que o Prêmio Jabuti dê voz aos vencedores de suas categorias, que possamos compartilhar suas falas e fazer a literatura repercutir de uma maneira mais forte e pessoal.”

Ricardo Pecego, escritor, livreiro e produtor cultural


“Em 2024, observamos que se afirmou uma literatura da escrita de si, que privilegia a memória, com vários autoras e autores, tanto nacionais quanto estrangeiros, não só na prosa, mas também na poesia. Em 2025, embora não conheçamos os projetos dos autores e seus livros, esse gênero, se podemos dizer assim, deve continuar conquistando os leitores, pois creio que a escrita autobiográfica aproxima escritor e leitor. O escritor, mesmo ficcionalizando a vida, cria um imaginário que uma vez experimentado pelo leitor, o coloca na fronteira do que é vivido e do que é ficcionalizado.”

Luciene Guimarães, tradutora


“A pluralidade das vozes por tanto tempo ignoradas ou mal-ouvidas, oprimidas por preconceitos de diferentes ordens, deve se intensificar e seguir reverberando e retumbando em nossos peitos de autores-leitores. Que venham as grandes obras deste 2025, essas que sabem des-calar e escalar palavras, desmanchar e manchar mal-ditos, desnudar e expor passados em que não cabemos mais.”

Kátia Valevski, escritora e professora


“Acredito que 2025 será um ano bastante positivo para a literatura brasileira, com maior espaço para editoras independentes e para obras escritas por pessoas historicamente rejeitadas pelo meio literário. Minha torcida é para que autores e autoras com linguagem autêntica e inovadora ganhem mais notoriedade e que haja maior investimento do poder público em iniciativas ligadas à literatura. Em relação aos lançamentos, digo que vem muita coisa boa por aí. Entre os títulos já divulgados, vários me chamaram a atenção, em especial ‘A cabeça boa’, da Lilian Sais (DBA), e o novo romance da Giovana Madalosso (Todavia)”.

Bruno Inácio, escritor e crítico literário


“Em 2025 um dos destaques será o romance vencedor do Prêmio Caminhos de Literatura, ‘Mãezinha’, da paraense Izabella Cristo. Aliás, outro destaque será a segunda edição do Prêmio Caminhos, que será ampliado para livro de contos inéditos, além dos romances, mantendo a parceria com a editora Dublinense. Pelo andar da carruagem a pauta da censura continuará, explícita ou silenciosamente, causando estragos na vida literária brasileira. Então esse prêmio, absolutamente livre de censura, é uma oportunidade aos novos autores de todo o país.”

Henrique Rodrigues, escritor


“Acredito que nesse e nos próximos anos os livros que abordarem as questões climáticas serão destaque, principalmente os que foquem nas atitudes que o cidadão comum pode ter para reduzir o caos climático. Na literatura brasileira, o destaque se dará nos romances escrito por escritoras, e na área infantil, uma literatura que aborde a diversidade humana e a pluralidade cultural.

Vagner Amaro, escritor e editor da Malê


“Acho que o destaque seguirá sendo a própria literatura brasileira contemporânea, que nos últimos anos ganhou um espaço grande e novo. Minha aposta é que seguiremos, ainda que com todas as dificuldades, vendo um cenário cada vez mais diverso em termos de gênero e raça, e cada vez mais fora dos eixos geográficos tradicionais. Sabemos que as últimas pesquisas sobre leitura no Brasil são desoladoras, porém acredito que um dos caminhos importantes para reconquistar esses leitores está justamente nessa riqueza da literatura contemporânea.” 

André Conti, editor da Todavia


“Acredito que o mercado seguirá, em 2025, com tendência à diversidade. Vozes pretas, indígenas, mulheres, LGBTQUIAP+, neurodivergentes. Os segmentos young adult e new adult continuarão em alta e ajudam a ‘segurar as pontas’, nas editoras, para poderem publicar ficção literária, cujo alcance é naturalmente menor. Um novo segmento que acho que vai bombar é o de livros evangélicos. Algumas editoras estão despertando para isso e tendem a se dar bem. O vício em redes sociais é um dos maiores opositores da leitura e vem aí uma geração de brasileiros capturados por elas desde a mais tenra idade. O hábito de maratonar séries também. Mas como ela já sobreviveu ao rádio, à TV, à internet, creio que vai continuar assim mesmo. Torço para que a Lei Cortez seja aprovada a fim de deter a agressividade da Amazon. E que literatura feita por pessoas continue à frente de qualquer coisa produzida por qualquer IA.” 

Valéria Martins, agente literária à frente da Oasys Cultural; autora de “O lugar das palavras”


“Espero que em 2025 muito livros sejam editados e na mesma quantidade, lidos. Espero que em 2025 os clássicos sejam lidos na mesma frequência que os novos autores serão lidos. Espero livros que me encantem e surpreendam.

Durante a pandemia o estouro e descoberta de novos autores brasileiros, não tão novos, mas pouco editados, foi sensacional, surgiu um movimento literário, acho lindo isso.

Quero mais a literatura forte e comprometida de Micheliny Verunschk, Carla Madeira, Paulliny Tort, Natalia Timerman. Espero que as poetas Isadora Krieger, Angélica Freitas, Bianca Ramoneda. Ana Martins Marques continuem a explorar formas tão diferenciadas de poesia. Espero que Jeferson Tenório e Stenio Gardel, Marcelino Freire se aprofundem, cada vez mais, no estilo que escrevem.

Quero continuar a me surpreender com Édouard Louisanie, Annie Ernaux, ambos em novo gênero, auto ficção social. E a incrível Rosa Montero.”

Mônica Sucupira, atriz, poeta e diretora artística da Cia da Hebe


“Acredito que em 2025 a literatura inclusiva continuará ganhando força, especialmente na literatura infantil. O segredo para a evolução humana está em mudar o foco do protagonismo, permitindo que histórias explorem temas tabus e promovam a inclusão em suas mais diversas formas. Além disso, acredito que os editores estarão cada vez mais atentos ao potencial dos livros digitais, como e-Books acessíveis e audiolivros, não apenas como uma nova forma de consumo literário, mas também pela importância que esses formatos têm para pessoas com necessidades específicas, ampliando o acesso e a experiência de leitura para todos.”

Fernanda Emediato, consultora editorial e editora da Troia


“O mundo ficou mais complexo nos últimos anos, principalmente, após a crise devastadora da pandemia da covid-19. Houve uma grande mudança nas relações interpessoais e profissionais por todos os lados. Uma crise climática também nos assombra batendo à nossa porta com previsões pessimistas. Não há uma liderança mundial que se apresente capaz de conter os avanços dessa crise agravando o que se pode chamar de ‘ansiedade climática’. O Brasil é uma das regiões sócio-político-geográficas do planeta que pode apresentar propostas interessantes, por meio das nossas experiências interseccionais e de decolonialidade, para o mundo. Eu acredito que em 2025 e para os próximos anos haverá um crescimento das narrativas sobre experiências coletivas e individuais – ficcionais ou não – envolvendo a ansiedade climática e como personagens brasileiras – povos originários, quilombolas, metropolitanos – dialogam com essa nova forma de existência como maneira de resistência.”

Daniel Manzoni-de-Almeida, escritor 


“Acho que 2025 consolidará entre os destaques alguns títulos que já vêm aparecendo em listas de revistas e leitores, como ‘Nostalgias canibais’, de Odorico Leal, e ‘O embranquecimento’, de Evandro Cruz Silva. Gostei muito de ambos. Tivemos lançamentos de muita força sobre temas, questões e linguagens da comunidade LGBTQIA+ e que devem entrar/já estão entrando no radar da comunidade literária. Destaco dois: ‘Mariconas’, de Euler Lopes, e ‘Neca: romance em bajubá’, de Amara Moira. Além de ‘Mariconas’1,  tomo a liberdade de citar outros que editamos na Caos & Letras em 2024 e que são algumas das apostas da editora nas premiações do ano: ‘No miolo da orquídea dorme a onça’, de Gabriela Malta, ‘Brucutu Rei’, de Ernani Ssó, ‘A índole dos cactos’, de Tiago Germano.”

Eduardo Sabino, escritor, editor da Caos & Letras


“Dois livros de Osman Lins (1924-1978), reeditados no final de 2024, devem merecer atenção agora em 2025. O romance Avalovara (1973) saiu pela Editora Pinard, com apresentação de Rosana Teles e posfácio de Elizabeth Hazin; Os gestos, contos de 1957, foi relançado pela Olho de Vidro; a reedição do ensaio Guerra sem testemunhas (1969), pela Editora Cepe/UFPE, acaba de sair. Merece destaque a edição anotada da correspondência de Osman Lins e Hermilo Borba Filho, E viva a vida! (Hucitec), organizada por Nelson Luís Barbosa. A Sinete lançou A voz dos sinos, meu ensaio livre sobre o sagrado, a mulher e o amor na obra osmaniana. O volume de ensaios Osman Lins, 100 anos: A vivacidade de seu legado, organizado por Sandra Nitrini e Marcos Moraes, será publicado neste ano.”

Hugo Almeida, crítico literário e escritor, autor do romance “Vale das ameixas”


“A cena literária de 2025 seguirá um caminho de consolidação e de surgimento de novas vozes que tecem um Brasil profundo, isto é, que permeiam paisagens urbanas e rurais, atravessam culturas e problemas nacionais, mas ficam distantes de abordagens costumeiras e herméticas. Será mais sincrônica do que diacrônica. Ficções acerca de determinadas classes e grupos sociais até então presentes em literaturas ditas “marginais”, terão leitores cada vez mais interessados em um país real e muitas vezes turvo, mas que apresenta reflexão e identificação brutais. Obras de Itamar Vieira Júnior, Jeferson Tenório, Antônio Bispo dos Santos, Calila das Mercês, Ana Maria Gonçalves, Luciany Aparecida e Eliane Marques, puxaram o bonde. Existe algo de muito novo e excepcional acontecendo.”

Alessandro Araujo, escritor, autor de “Rabada”, entre outros livros


“Acredito, e classifico minha opinião como uma crença ligeiramente embasada em eventos passados, que o destaque do ano na literatura brasileira será algo de ficção monotemática, quase jornalística, devendo figurar nas principais premiações do ano, além, claro, do protagonismo de assuntos do momento, que são os mesmos de década ou mais: temo a continuidade de um certo marasmo estético, sem obras verdadeiramente transgressoras, a menos de um ou outro livro, normalmente de editora independente, que conseguirá furar a hegemonia das grandes casas editoriais, trazendo um pouco de esperança para a arte.”

Whisner Fraga, crítico literário e escritor


“Creio que em 2025 continuaremos a ver o extraordinário romance Outono de carne estranha, de Airton Souza, ganhar mais leitores e ser ainda mais lido e discutido. Marina Monteiro e seu Açougueira também deverão estar entre os destaques do ano.

E o divertido e debochado romance Mariconas, da Euler Lopes, é outro que merece destaque este ano, um livro que abre um pertinente debate sobre o envelhecimento gay.”

Marco Severo, escritor


“Acredito no redescobrimento de autoras/autores e suas obras para a construção e a valorização da memória.”

Silvio Testa, editor da Instante  


“Este ano, como nos anteriores, acredito que a literatura brasileira vai estar em alta, como tem ocorrido nos últimos anos… em romances regionais, mas também nos urbanos. Os temas vão ser mais ou menos os desenvolvidos nos últimos anos.”

Selma Cristina Ataíde, bibliotecária


“Começo o ano esperançoso com a literatura que chegará em 2025.

Pelas trocas que tenho com autores e autoras, acredito que os livros se aprofundarão e documentarão as inquietações humanas decorrentes da franca curva que o mundo faz rumo ao conservadorismo, negacionismo e reacionarismo. Pelas andanças, sei que teremos uma boa expansão da literatura marginal, de narrativas locais e de questões climáticas, que também estarão nos palcos dos festivais e feiras. Meu voto é para que a literatura de 2025 venha em paz e seja revolucionária.”

Tadeu Rodrigues, escritor, à frente do Podcast Rabiscos


“Literaturas que abranjam países em guerra e ao mesmo tempo que façam emergir autores desses países são tendência. As histórias das guerras de Israel, Gaza, Rússia, Ucrânia, países da África, por si só, são pautas. Literaturas e os autores desses locais acabam despertando curiosidades. E, claro, literaturas que tratem dos tempos de IA, desinformação e saúde mental. São os antagonismos dos nossos tempos.”

Gisele Corrêa Ferreira, empreendedora cultural e curadora do Flipoços


“Em 2025, uma produção ainda muito comprometida com as pautas sociais deve prevalecer, o que acarreta bônus e ônus para a sociedade e a literatura; a excelência dos livros ilustrados deve se manter em alta, e bom será se a ilustração vier a se estender a livros que adultos também podem ler. A poesia, por sua vez, deve manter-se vigorosa, os poucos e bons jornais e revistas de literatura devem continuar bem ativos e estender a circulação, na condição de elementos indispensáveis a um sistema literário. Como desejos de autora e crítica, a expectativa de mais ensaios críticos e literários, mais atenção crítica à literatura que crianças e jovens também podem ler, maior divulgação da produção fora dos eixos hegemônicos habituais, mais obras que estabeleçam conexão com a América Latina e, ainda, uma atenção devida aos que ficam fora dos holofotes e estão fazendo boa literatura.”

Nilma Lacerda, escritora, crítica literária e professora

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Foto de Giovana Madalosso (divulgação)

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