Resenha: Yes, nós temos Macunaíma e Jeca Tatu

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Por José da Silva *

Durante muito tempo, o artigo A arte da procrastinação – Como realizar tarefas deixando-as para depois, do americano John Perry, figurou no alto da página do Google como o mais importante texto aos que buscavam o sentido dessa palavra pouco sonora, “procrastinação”, que, para quem não sabe, significa protelar uma ação ou a falta de vontade de realizar alguma coisa.

Professor emérito de filosofia na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e âncora do programa de rádio Philosophy Talk, Perry chegou a receber, em 2011, prêmio IgNobel (o oposto do Nobel), por seu pequeno tratado (124 páginas de um livro no formato 12X17cm), em que aborda a “procrastinação estruturada”, ou seja, a forma pela qual adiou trabalhos para a universidade em que trabalhava, conseguindo escrever o texto nos seus tantos momentos de ócio.

“Se você é do tipo que reluta em entregar as coisas no prazo estabelecido, distrai-se facilmente, navega na internet em vez de pagar as contas, ou é do tipo que compra o presente do seu amigo a caminho da festa, este livro vai mudar sua vida. Com uma linguagem simples e direta, John Perry mostra, por meio de exemplos práticos, como repensar a importância de nossos afazeres e conseguir realizar todos eles (e muito mais), mesmo quando adiamos aquelas tarefas mais chatas”, promete o livro, por meio do release.

Nos Estados Unidos, o livro/ensaio representou comoção pública. Virou mania. O que não se sabe é se no Brasil irá pegar, já que somos mestres em matéria de procrastinação.

Talvez eu levante aqui uma polêmica. Enfim, muitos colocam a culpa no calor dos trópicos. Mas, em todo caso, acho difícil que Perry consiga tornar popular o seu modelo de preguiça, num país em que o ócio está mais ou menos institucionalizado, até mesmo em sua literatura, em personagens que dizem muita à alma nacional. Para ficar em dois exemplos, citaria Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, e Macunaíma, do Mário de Andrade. Vou esperar. Deitado.

A arte da procrastinação – Como realizar tarefas deixando-as para depois, de John Perry (Paralela), 124 págs.

Avaliação: regular

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José da Silva é crítico literário