Por Angelo Mendes Corrêa e Itamar Santos *

Alberto Bresciani acaba de lançar seu segundo livro de poesias, Sem passagem para Barcelona, no qual, a exemplo de sua obra de estreia, Movimento incompleto, encontramos um poeta de rara maturidade e concisão. Detentor de sólida bagagem literária e leitor atento do que há de melhor em nossa tradição, nasceu no Rio de Janeiro, em 1961, e há quase três décadas vive em Brasília, onde é ministro do Tribunal Superior do Trabalho.

Desde quando a ligação com os livros? Quais as primeiras leituras? Desde sempre. Desde antes, na verdade. Meu avô paterno, Mário, não era um intelectual, não teve a oportunidade da educação formal para além do que, hoje, chamamos de ensino fundamental, mas sempre gostou de livros, de poesia. Não faz muito, encontrei, entre seus papéis, uma caderneta, datada de 1923 (ele tinha, à época, dezoito anos), na qual copiou seus poemas favoritos. Pois, esse meu avô comprava livros e os dedicava ao neto que teria ainda anos depois e muito antes de eu, que fui o primeiro, nascer. Eram livros sobre animais ou histórias infantis. O contato com esses livros me estimulava a desenhar outras histórias, a repeti-las e, quando aprendi, a escrevê-las, as mesmas ou variações. Na época, morávamos no Rio e meu avô, nos finais de semana, me levava à Quinta da Boa Vista, Museu e Jardim Zoológico, ao Museu Histórico Nacional, à Biblioteca Nacional, ao Aterro do Flamengo, ao Aeroporto Santos Dumont, à praia, a muitos lugares. Durante os passeios, contava histórias, falava de História, casos de família. As informações ficavam – e ainda estão – transitando em minha cabeça. Histórias que caberiam em livros. Ele gostava dos escritores românticos e realistas brasileiros, franceses e portugueses. Tinha muitos amigos vindos de Portugal e com eles descobriu autores e obras. Aos poucos, foi-me passando os livros que possuía. O cortiço, de Aluísio Azevedo, Senhora e Lucíola, de José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queiroz, um A dama das camélias, de 1933, sempre edições anteriores à reforma ortográfica de então, repletas de “mysterios” e de “circumstancias”. Ao mesmo tempo, por minha conta, saí à procura de Monteiro Lobato, de outras escritas. Essas primeiras leituras forjaram o gosto e o interesse por história e por literatura. Já bem idoso, meu avô, que faleceu aos noventa e cinco anos, disse-me que sentia saudades daquelas obras e me pediu não que lhe devolvesse as que me dera, era uma condição, mas que lhe comprasse edições modernas. Eu estava na Faculdade de Direito. Tinha comigo todos os livros. Levava-os e ainda os tenho sempre por perto. Não foi difícil quer fazer a lista, quer economizar algum dinheiro para comprar boa parte daquela bibliografia e dar-lhe de presente. Foi uma bela oportunidade que me trouxe o destino de agradecer a ele por todo esse patrimônio.

Que autores e livros tiveram maior influência na construção do escritor? A vida segue em constante mutação. Acredito que arte é mudança. Um artista, seja qual for a sua arte, é sempre um site em construção. Veja o exemplo vigoroso de Picasso. Pelas mudanças naturais da vida e pela necessidade de não perder o vínculo com o tempo, com a contemporaneidade, novas ou novíssimas influências vão se misturando ao que trago como bagagem. E isso me estimula muito. Seguindo ao contato com os clássicos, fui apresentado, na escola, aos modernistas. Na adolescência, também a atenção à música popular brasileira, com as suas referências, sobretudo poéticas, abriu caminho para interesses e pesquisas. Lembro-me de, capturado por textos usados como exemplos nas gramáticas, fazer anotações sobre livros que gostaria de ter. Vivia, na época, no interior do Estado do Rio, onde não havia livrarias, e mesmo a biblioteca local a que tinha acesso, na escola, não era a mais completa. Era preciso aproveitar datas especiais e fazer pedidos aos pais, tios, avós, aceitar doações e empréstimos. Minhas primeiras surpresas, aquele bom estranhamento que se extrai de um texto de qualidade, vieram com Cecília Meireles e Clarice Lispector. Só os títulos dos livros de Cecília, Vaga música, Mar absoluto, já eram sedução garantida. Guardo passagens de A hora da estrela, de Clarice, muitas vezes relido. Ouvir Maria Bethânia, em vinil antigo, declamando “Eros e Psique”, de Fernando Pessoa, é associação que faço imediatamente, quando penso em poesia. Drummond e Bandeira estavam no programa da escola, felizmente. João Cabral de Melo Neto, com a imagem fantástica de um cão sem plumas. O vínculo com a cultura portuguesa levou-me de Camões e Alexandre Herculano, preferências de uma grande professora de português que tive, do Eça de meu avô a Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. Depois, à sonoridade e lirismo de Sophia de Mello Breyner Andresen e de seu amigo Eugénio de Andrade, a Cesariny, Herberto, a Gastão Cruz – essa voz poderosa da lusofonia –, Maria Teresa Horta e Luís Miguel Nava. Muitos portugueses. Ruy Pires Cabral, Luís Quintais, Valter Hugo Mãe, Filipa Leal, Catarina Nunes de Almeida. Hoje, Matilde Campilho, com sua linguagem provocadora. Tantos outros e outras que poderia gastar muitas páginas só em enumeração. Sem esquecer, claro, da genialidade de Baudelaire, de Rimbaud, de Rilke e outros tantos. E passando a este lado do Atlântico com nossos clássicos e modernistas, concretos ou marginais – aqui, o Nicolas Behr –, também já agora clássico, encontro grandes instigações à escrita. Gastaria muitas outras páginas para os inventariar. Há valor, inteligência e criatividade na cena poética contemporânea. Como exemplos (insisto, são exemplos, tirados ao acaso), Eucanaã Ferraz, Ruy Proença, Tarso de Melo, Carlos Machado, meus amigos os Ronaldos, um Cagiano, o outro Costa Fernandes, Vera Americano, Angélicas, a Freitas e a Torres Lima, Anas, a Lopes e a Martins Marques, Annita Costa Malufe, Adriane Garcia – com seus poemas-fábulas cortantes –, André Caramuru Aubert. Jovens poetas como Vanessa Reis, Guilherme Gontijo Flores. Alguns impossivelmente mais jovens, que vão encontrando seus caminhos e a mim apontando outros. A lista cresceria com os olhos voltados para a poesia peculiar que se faz em língua inglesa, com Poe, Eliot, Williams ou Creeley, e, ainda atualmente, com um universo inteiro de nomes. Ou para a prosa de Lydia Davis, com suas short stories tão inspiradoras, o jogo de cintura de um Junot Díaz. O talento humano é de se admirar e poderia continuar citando e citando.

Um artista, seja qual for a sua arte, é sempre um site em construção. Veja o exemplo vigoroso de Picasso. Pelas mudanças naturais da vida e pela necessidade de não perder o vínculo com o tempo, com a contemporaneidade, novas ou novíssimas influências vão se misturando ao que trago como bagagem.

Em que momento o jurista e o poeta se encontram? No meu caso, o escritor-artesão não publicado precede ao trabalhador do direito. E não sei bem se estão sintonizados ou se ocupam espaços distintos dentro dos muitos espaços que todos temos conosco. Talvez o exercício do sentir possa trazer alguma qualidade à aplicação do direito. Não sei se caberia atribuir essa qualidade a mim.

É possível fazer do direito uma ciência menos técnica e mais humana, onde haja espaço para a poesia? Muitos são os trabalhos sobre direito e literatura, direito e poesia, sempre buscados os momentos de superposição e afastamento de uma coisa e outra. Poesia e direito, em essência, ocupam diferentes nichos no mundo. Suas funções, seus postulados são diversos. Até no que, em escrita, poemas e peças jurídicas ganham corpo, são distantes as exigências para cada qual. Quando penso em uma decisão judicial, por exemplo, não posso deixar de ter a clareza em mente. Não só inexiste lugar para excessos de ‘juridiquês’, como as metáforas devem ser evitadas ao máximo possível. No entanto, estou certo de que a poesia, enquanto qualidade que o jurista possa trazer consigo, certamente contribui para aparar a aridez do direito ou a sua aplicação mecânica. O direito regula e permite a vida em sociedade. A sociedade é feita de mulheres e homens protegidos constitucionalmente pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Por este aspecto, devolver a dignidade a quem a teve roubada ou manchada não pode ser um ato de poesia? Conheço juristas que, a despeito de não serem poetas formais, aplicam o direito, sem descuido dos limites naturais, ora com o arrojo, ora com a doçura de um poeta. Muitos. Um exemplo? Teria sim vários, mas nomeio a Ministra Rosa Maria Weber, do Supremo Tribunal Federal, que, por sinal, é poeta.

Qual o lugar do poeta no mundo contemporâneo? O mesmo de sempre. Tão grandioso e tão pequeno. O tão debatido lugar da poesia. Wislawa Szymborska é perfeita quando provoca: ‘Alguns gostam de poesia’. E continua: ‘Alguns -/ ou seja nem todos./ Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria./ Sem contar a escola onde é obrigatório/ e os próprios poetas/ seriam talvez uns dois em mil.’ A poesia é um gênero naturalmente limitado se a enxergarmos de maneira protocolar. Entretanto, sem perceber, quase todos gostamos de poesia. Da poesia que vive em canções populares, na música erudita, pichada nos muros, em paredes de viadutos. Já para se ocupar com um livro de poesia, é preciso um pouco mais de coragem. E não estou falando apenas da experiência brasileira. Acontece no mundo todo. Então, há um pequeno lugar geográfico. Por outro lado, os poetas precisam romper limites. É assim que se faz poesia e se escreve um poema. A linguagem há de ser maior do que ela própria. Que sejam exploradas e denunciadas as contradições, violências, as paixões, as tristezas e alegrias, conquistas e perdas que fazem a experiência da sociedade e do momento histórico em que vivem.  Esta, a grandiosidade do trabalho que os poetas tomam a si. Hoje, com as possibilidades de expressão, acesso aos meios de comunicação, facilidades de se publicar em papel ou pela internet, em blogues e até mesmo em redes sociais, os poetas contam com amplificadores de suas vozes. Haveria um lugar maior?

O tão debatido lugar da poesia. Wislawa Szymborska é perfeita quando provoca: ‘Alguns gostam de poesia’. E continua: ‘Alguns -/ ou seja nem todos./ Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria./ Sem contar a escola onde é obrigatório/ e os próprios poetas/ seriam talvez uns dois em mil.’

A concisão na linguagem, característica marcante em seu livro de estreia – Incompleto movimento – é uma busca ou um processo natural de quem enxerga a condição humana de forma contida? Do ponto de vista formal, até mesmo como um recurso de expressão da incompletude, a concisão, em Incompleto movimento, foi também uma busca. Mas penso que, realmente, ninguém, pessoa ou instituição, pode tudo. Não há, na existência humana, o absoluto. Ninguém tem tudo. Ninguém se decifra ou decifra o próximo absolutamente. E porque são limitados pelo ambiente, pelo tempo em que vivem, pelo que experimentam e até pela carga genética, os homens escrevem poesia.

O erotismo, explícito ou implícito, é recorrente em sua poesia. Correto dizer que Eros é uma das matrizes de sua poética? Sim. É matriz poética que antecede alguns de meus escritos. Se pensarmos na palavra sensualidade, enquanto forma sedutora de visitar o mundo, perspectiva que prefiro, será matriz também de grande maioria da produção de outros poetas. A poesia, note, lida com signos sensoriais. É fonte de poesia, mas, reconheço, pode também ser passaporte, dependendo da dose, para alguma banalidade.

Sem passagem para Barcelona, recém-lançado pela editora José Olympio, parece acentuar o toque de ironia no trágico com  que enxerga as relações humanas, como tão bem disse Ronaldo Costa Fernandes. Isto acaba por aproximá-lo, em nossa tradição poética moderna, entre outros, de Carlos Drummond de Andrade. Será por aí mesmo? Carlos Drummond de Andrade é o poeta que levou a poesia à onipresença. Sua obra é variada. Há, em poemas e dentro de muitos poemas, lugares para todos nós. Um nome e uma obra que se conhece para além da preferência por prosa ou poesia e cuja referência, querendo ou não, apreendemos como parte de nossa tradição. Mas, sim, a ironia é um traço marcante na produção poética drummondiana. É recurso que ele absorve do romantismo e como ferramenta valiosa de expressão. A ironia é figura que vai do teatro à televisão, ao cinema, e encontra campo fértil na poesia, onde dizer mais do que se escreve (ou se pode escrever) é o ofício. Procuro usá-la como figura de linguagem. Embora possa chegar a tanto, ironia não se confunde com humor gratuito ou sarcasmo e, pelo menos sob consulta rápida à memória, espero não ter abusado, em meus poemas, de um ou outro extremo.

Além da poesia, tem se dedicado à prosa, com publicações em diversos periódicos literários. Pensa em reunir em livro a produção em prosa? Minha produção em prosa é muito pequena. Mentiria se respondesse nunca ter pensado nisso. Mas também não posso deixar de assumir que, hoje, não tenho textos em quantidade ou com qualidade suficiente para um livro. Pode ser, quem sabe, um desafio para o futuro.

A leitura ainda é privilégio de poucos no País. Algo a fazer para superarmos isso? Com certeza. Há muito a fazer. A leitura é chave não só para uma existência mais rica, como para o exercício da cidadania plena. A falta de interesse pela leitura, sabemos, não é um pecado moderno. No Brasil, é fruto de longa cultura. Visitando o País, entre 1842 e 1843, quando veio buscar a Princesa Francisca, irmã de Pedro II, para se casar com o Príncipe de Joinville, Victorine de Langsdorff anotava a surpresa de perceber que os brasileiros pareciam orgulhar-se de seu pouco conhecimento. E sua observação foi colhida entre a elite da época, com a qual se relacionou. Percebo que mesmo boa parte dos professores, ainda hoje, não tem experiência de leitura. Fazem parte de um círculo que principia pela falta de estímulo à leitura nas escolas, nas primeiras séries. Embora as grades curriculares prevejam leitura de determinadas obras, isto se faz sob quase pressão, ausente o verdadeiro gosto de ler. Em seguida, sem maiores debates, parte-se para avaliações em provas. Está terminada a utilidade do livro. Talvez, se pudesse favorecer maior inserção dos alunos no processo, pela sua colaboração na construção de bibliotecas, escolha dos títulos para as atividades pedagógicas, criação de clubes de leitura, inclusive com convites a escritores locais para que se apresentem e falem sobre seu trabalho. Há outras iniciativas muito interessantes, como as pequenas bibliotecas em pontos de ônibus ou nos próprios ônibus.  Ainda, a criação de espaços para leitura nos órgãos públicos, onde livros são emprestados sem maiores formalidades, a doação de livros a presídios.

A leitura é chave não só para uma existência mais rica, como para o exercício da cidadania plena. A falta de interesse pela leitura, sabemos, não é um pecado moderno. No Brasil, é fruto de longa cultura. Visitando o País, entre 1842 e 1843, quando veio buscar a Princesa Francisca, irmã de Pedro II, para se casar com o Príncipe de Joinville, Victorine de Langsdorff anotava a surpresa de perceber que os brasileiros pareciam orgulhar-se de seu pouco conhecimento.

Darcy Ribeiro dizia que “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. O que dizer dos baixíssimos níveis educacionais brasileiros e de suas consequências desastrosas para nosso desenvolvimento? Darcy Ribeiro tinha razão não só quando se referia a um ‘projeto’, mas também quando creditava a permanente crise a fatores históricos e sociológicos poderosos. A colônia nunca foi educada pela metrópole, a não ser quanto às necessidades mínimas para a gestão do país. O Império não se interessou pela educação de seus súditos. A República não fez o necessário para o crescimento de seus cidadãos. Não se pode perder de vista, por outro lado, que o Brasil ainda é um país de contrastes abissais. Contrastes que vão da geografia, com todas as suas decorrências, à distribuição de renda e condições de vida no campo e nas cidades. Em um país de proporções continentais e com todos os seus maus antecedentes, a empreitada não é fácil. Sabemos que, por muito que se tenha investido no setor, um dos piores índices do Brasil, nos marcadores internacionais, continua sendo a educação. E não se precisa recorrer a marcadores para se perceber o quadro terrível. A maneira pela qual se oferece e se aceita e exerce a cidadania é prova suficiente. Com relação às desigualdades históricas, acredito no cabimento, por prazo necessário, das medidas de discriminação positiva, como o estabelecimento de cotas para instituições de ensino, e na criação de metodologias que reconheçam desigualdades efetivas entre seguimentos da sociedade.  Vejo que muito se fala em valorização do trabalho do professor. É discurso que não se converte em ação. E não se trata apenas de culpar a escola pública. A ninguém passa despercebido o quanto pode ser desgastante o trabalho de um professor. Prazeroso, por certo, mas também desgastante. Os salários praticados pelo mercado são justos? Com raríssimas exceções, professores de ensino fundamental são muito mal remunerados. Muitas vezes, a mensalidade de um aluno basta para lhes pagar o salário mensal. Isto obriga à manutenção, pelo professor, de mais de um emprego, à dedicação a aulas particulares e outras atividades, impede que possa melhor preparar-se, leva ao desgaste da saúde, desestimula. Falando apenas de remuneração, sem cogitar de outras condições de trabalho. É preciso que isso mude. E rápido, porque o momento ideal parece ter passado há muito.

A poesia pode funcionar como antídoto ao perigoso discurso moralista que tem sido propagado em larga escala entre nós, nos últimos tempos? A poesia sempre contou com salvo-conduto para a contravenção, para a delação do mundo pelos seus reflexos mais alterados – e reais – , para a liberdade de expressão. Trafega livre pela contramão. Não pode ser cortada por discursos moralistas, os de plantão, sejam quais forem. Gregório de Matos, no Brasil colônia, soube tirar proveito de sua arte. Sempre haverá vozes que, na poesia, combatendo o que houver de mal ou excesso em discursos de poder, contribuam para a decantação da razoabilidade. Se vem propriamente como antídoto, não sei. Mas traz a possibilidade de incomodar, criar anticorpos para a infecção. A poesia não conhece mordaça.

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Angelo Mendes Corrêa é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), professor e jornalista. Itamar Santos é mestrando em Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), professor, ator e jornalista

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