Um livro feito de climas

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Por Viviane Ka *

Só a exaustão traz a verdade, terceiro livro de Ismael Caneppele vai ser lançado no dia 29 de outubro, em Porto Alegre. O autor de Os famosos e os duendes da morte – segundo Caetano Veloso tem “correnteza de metonímias, condensações, sinestisias dignas de Oswald de Andrade” – faz uma literatura de climas, como sugere o parágrafo abaixo, do novo livro:

“Às vezes, escrever é só um subterfúgio para fugir da morte…eu dentro do carro olho para os primeiros metros de uma estrada que nem os faróis querem iluminar.Parece não haver luz para dar conta de tanta escuridão.”

Colunista do caderno PrOA, autor do romance Música para quando as luzes se apagam (ed. Jaboticaba) e do roteiro cinematográfico de Os famosos e os duendes da Morte (a adaptação para o cinema foi feita por Esmir Filho), Caneppele reúne neste volume, organizado por Kelli Pedroso, contos sem título que abordam, em linguagem lírica e tensionada ao limite da poesia, a solidão do indivíduo no universo urbano. Histórias que retratam o feminino, o olhar da mulher sob as mais variadas perspectivas. Há também textos sobre Berlim, onde o autor morou em 2011. No inverno.

O titulo desse livro(e) não é a toa. Buscar o âmago das coisas, viver sem ornamentos e amar isso, é puxado. Mas não se trata de escassez ­–– e sim de uma meta muito bem traçada. ‘Há um turno para ser livre’, ele diz, sobre uma mulher atormentada”, diz o texto da cantora e compositora Marina Lima, na orelha do livro.

Ismael formou seus leitores por meio da internet quando ainda morava em Lajeado, pequena cidade do Rio Grande do Sul. Lá, atingiu um mundo de garotos e garotas também sozinhos na frente dos seus computadores. “Estar na internet é criar. É criar um novo ‘eu’, e por mais que seja um outro ‘eu’, você está se revisitando e elegendo o que você quer que permaneça na internet. E é por isso que eu acredito nessa imortalidade que a internet vai trazer, porque as pessoas vão todas passar, mas as ideias estarão todas ali”, diz o autor.

A primeira e pequena edição do seu primeiro livro Música para quando as luzes se apagam, editada por Cristiana Lisboa, primou pela delicadeza e simplicidade. Trazia um envelope contendo pequenas borboletas, que depois voaram e atingiram voos maiores, de edição em edição. Estar perto não é físico, frase emblemática do livro, foi tatuada muitas e muitas vezes nos braços de seus jovens leitores.

Para lançar Só a exaustão traz a verdade, fez um vídeo (veja aqui: https://www.youtube.com/watch?v=kcY-4oZn1sU) com imagens e narrativa de trechos da obra que provocam estado onírico: uma estrada, uma voz feminina, sensação de solidão, um casulo que se movimenta e deixa algo para trás. Um livro que não é apenas feito de palavras mas de um mood, como uma paisagem de Edward Hopper. Climas frios, neblinas. Tristeza sim.

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Viviane Ka é escritora e editora da São Paulo Review