* Por Bruno Inácio *
Brancura, livro do recém-laureado com o Nobel de Literatura, Jon Fosse, chega em breve ao Brasil pela Fósforo Editora, com tradução de Leonardo Pinto Silva. Com produções consideradas intimistas, o norueguês costuma abordar a angústia em suas obras, além de explorar a introspecção, o silêncio e aquele tipo de absurdo que consagrou o teatro de Beckett e Ionesco. Aliás, vale dizer, Fosse também é um dramaturgo bastante prestigiado, com dezenas de peças encenadas no mundo todo.
Na obra em questão, um homem dirige sem destino para se livrar do tédio, até que adentra uma floresta e seu carro deixa de funcionar. Após se dar conta de que está em um lugar isolado e que não faz ideia de como exatamente foi parar ali, o personagem-narrador é acometido por um vazio súbito e intenso.
Rapidamente, seus pensamentos passam a se alternar entre divagações e a busca por respostas para grandes questões existenciais. Todo o fluxo ocorre enquanto ele caminha à procura de ajuda, em um cenário marcado pela escuridão do céu, a densidade da floresta e a neve que forra o chão.
Após se perceber isolado e com poucas perspectivas, o homem se depara com uma criatura branca e luminosa, capaz de desaparecer com a mesma facilidade com que reaparece. O protagonista até tenta estabelecer um diálogo, mas o ser misterioso é vago e evasivo em cada uma de suas repostas. Mais tarde, os pais do personagem também aparecem, com passos lentos e inseguros e frases enigmáticas.
A situação incomum leva o homem a perceber que talvez esteja delirando por conta do medo e da solidão. Por outro lado, as presenças da criatura branca e de seus pais parecem bem convincentes dentro daquela floresta, especialmente em algumas interações. Pouco a pouco, o narrador é acometido pelo cansaço e se vê sem opções, a não ser lidar com tudo que vê, sente e pensa naquele lugar que agora já não lhe parece tão estranho.
Numa narrativa curta, mas bastante profunda, Jon Fosse constrói uma atmosfera enigmática que passeia entre o onírico e o terror psicológico sem deixar de lado grandes questões da humanidade. Há uma boa construção de suspense e uma complexidade intrigante nos pensamentos acelerados do protagonista, algo reforçado pela pontuação e pelas frases curtas.
“Brancura” aborda o desespero subjetivo da existência por meio de alguém que percebe estar perdido e já não sabe se tem esperança de ser salvo, seja por uma figura enigmática e iluminada ou por aqueles que nos ensinam sobre o amor incondicional.
Mais que uma densa história sobre o desespero, a novela provoca reflexões pertinentes sobre a solidão e apresenta subtextos tão interessantes quanto a narrativa em si. Além disso, evidencia o poder de síntese de Jon Fosse e presenteia leitores e leitoras com uma trama marcada por nuances, inteligência e sensibilidade.
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Bruno Inácio é jornalista, mestre em comunicação e pós-graduado em literatura contemporânea. É autor de “Desprazeres existenciais em colapso” (Patuá) e “Desemprego e outras heresias” (Sabiá Livros) e colaborador da São Paulo Review e do Jornal Rascunho.