* Por Corinne Klomp *

 

Um dia o Brasil decidiu

fazer uma pesquisa

para conhecer melhor o seu povo.

Pediu a cada habitante para definir

a cor da pele

com suas próprias palavras.

Lógico.

A história do país

é uma história de peles.

 

Os Brasileiros toparam

as Brasileiras se olharam.

Mulheres homens crianças

grandes e pequenos

feios gentis canalhas

todos unidos

na mesma viagem

pele contra pele.

 

Os ricos nos carros

blindados

os sem-teto nas ruas

medrosas

favelas

quebradas

prédios pomposos

os ignorantes

os instruídos

todos viajantes

sem malas

ciganos amadores

soltando verdades encafifadas

novos pioneiros

explorando o couro

com calma

e afinco.

 

Uns meses depois o resultado

o Brasil atônito seu povo sortudo

a pele dele é a pele do mundo.

Íntima fonte

tesouro visceral

136 cores indeléveis

uma pele de bateria gigante

uma pele de carnaval!

 

Nuances de branquitude

detonam a imaginação.

Branca suja branca pálida branquinha

branca morena queimada branca bem…

branca

branca avermelhada melada sardenta

puxa para branca.

 

Seja de bom tom

escolha a pele certa.

 

A pele morena cor de canela

a pele queimada de praia

a pele trigueira a pele mista cobre alva

a pele queimada de sol

a pele cor de ouro

a pele polaca crioula sarará

a pele chocolate

a pele carvão a pele jambo

a pele café com leite

a pele quase negra

a pele vermelha laranja ruiva

a pele morena bem chegada

a pele cor de cuia a pele roxa a pele lilás

a pele azul marinho a pele verde

a pele que exala

um hálito de chuva

a pele cor de burro quando foge.

 

É todo o universo

na ponta do pincel

a paleta de um artista

mimado.

Infinitos ensejos

esboço Salvador

136 toques de vida

à flor da pele

sorvendo a mesma cor

de sangue.

*

Corinne Klomp é autora francesa e mora em Paris, França. Escreve peças de teatro, roteiros (televisão e cinema), e ficções para a rádio francesa France Inter. Faz parte do Conselho de Administração da Sociedade de Compositores e Autores Dramáticos (SACD) do seu país. Tem grande paixão pelo Brasil e pela língua portuguesa. Começou a aprendê-la ao fim do 2014, depois de ter dado sua segunda oficina de roteiros, no Rio de janeiro, no Festival Varilux do Cinema Francês. Desde então escreve crônicas e contos em português

*

Foto ilustrativa de Pierre Verger

Tags: ,