* Por Helder Thiago Maia *

Com o seu terceiro livro, a novela Conectados e desconectados, Daniel Manzoni aproxima a discussão sobre cancelamento na internet às discussões sobre amor e desejo entre homens. Ao apostar em experiências estéticas que aproximam a novela das redes sociais, o que inclui não só a publicação dos textos, mas também das caixas de diálogo com seus leitores, Daniel termina por conectar seus personagens ao mundo dos juízes e canceladores da internet, ao mesmo tempo em que a obra vai revelando as tramas e a intimidade de Serafim e Paulo.

A novela está assim, todo o tempo, modulada por muitas vozes, seja os diferentes narradores que nos contam a história de amor e morte de Serafim e Paulo seja os diferentes leitores que se tornam igualmente narradores e vão comentando a trama, e tomando partido diante dela, o que significa cancelamentos e campanhas de apoio, à medida em que o amor romântico e heteronormativo de Serafim e Paulo vai se transformando em caso policial.

É nesse jogo, entre vida online e vida off-line, que o autor vai problematizando as repetições normativas da heterossexualidade, e os seus sonhos-pesadelos de casamento e monogamia, e vai desvelando como tais estruturas podem funcionar como um veneno às relações dissidentes da heterossexualidade, especialmente quando o compromisso com as expectativas sociais se sobrepõe aos desejos e afetos. A obra também chama atenção pelos diferentes finais, deixando aos leitores, escritos na obra ou não, a escolha sobre como terminar a obra.

Conectados e desconectados é sobre o agora, por isso alia a polifonia e suas experimentações estéticas ao mundo pop e à internet. Partindo dessa perspectiva estética, produz uma ética capaz de perturbar os sonhos de taco e samambaia de gays paulistanos. Entre Paulo, Serafim, Ângelo e Diego há uma força erótica que extrapola os pesadelos da heteronormatividade.

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Conectados e desconectados, Daniel Manzoni (Amazon)

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Helder Thiago Maia é mestre e doutor em literatura comparada, e professor da Universidade de São Paulo.

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