O caderno da avó Clara, de Susana Ventura (Sesi). Descobrindo neste texto delicioso a narrativa sincera de uma menina obrigada a ficar um tempo na companhia do pai, quando a mãe precisa fazer uma viagem de trabalho. A mudança traz o confronto não só com a presença inusitada de uma pessoa que era quase um estranho, como também a descoberta de um caderno, onde ela encontra as histórias de sua avó que são um convite para outros mundos. O livro se organiza com vários mundos um dentro do outro. E dizer que as descobertas se fazem porque um dia Mari trocou a rotina por uma vida diferente! Sensacional o trabalho de Susana Ventura.

Persépolis, de Mariane Satrapi (Quadrinhos na Cia.). Prêmio de melhor história em quadrinho na Feira de Frankfurt de 2004, conta a história de Marjane Satrapi, que nasceu no Irã (vive em Paris) e escreve em francês. Ela narra como, aos 10 anos, viu-se obrigada a usar véu islâmico em uma sala de aula só para meninas. Nascida em uma família moderna e politizada, bisneta de um imperador do país, Marjane teve uma educação que combinou vários elementos curiosos. Entre as passagens, está o momento em que assistiu ao início à ditadura islâmica. As ilustrações são expressivas, e a escrita concisa tem bastante acidez e humor.

A estação das pequenas coisas, João Anzanello Carrascoza (Positivo). Leio simplesmente tudo de Carrascoza. Estes contos, primorosamente editados em um projeto lindo desenvolvido por Fabíola Farias, perpassam as estações que são caras ao universo do autor, como o apreço pelas miudezas do cotidiano (a capa fala por si) e a atenção e aos afetos familiares à arte que se esconde no cotidiano. Fundamental, sensível e apaixonante.

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Claudia Nina é jornalista e escritora, autora, entre outros, de Paisagem de porcelana (Rocco)

 

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