Viviane Ka *

Sou daquelas pessoas capazes de comprar até margarina se a propaganda for boa e o design da embalagem, bonito. E olha que margarina é um produto abjeto.

No caso do filme “Love”, do francês Gaspar Noé, fiquei seduzida pelos posters, teaser e comentários sobre a temática sexo com sentimento em 3D e estava louca para assistir.

Não ouvi nem li nenhuma opinião desancando o filme, afinal a produção é do Rodrigo Teixeira, midas brasileiro do cinema. Ninguém quer mexer com ele, o homem da grana. Mas se havia dinheiro porque não contratar um bom roteirista em vez de um equipamento tosco de 3D?

Gaspar Noé tenta fazer uma metáfora inteligente sobre o amor ao cinema. Para isso, filmou em Paris. Estamos no território do sonho, mas Woody Allen já fez isso muito melhor e Hemingway e tantos outros… O sonho acaba quando Murphy, um cara mimado, estudante de cinema vê suas ambições artísticas irem por água abaixo, quando vira pai de família. É um pai sem noção e nervosinho, afinal a culpa da gravidez indesejada é da mulher. O bebê chora e ele reclama, a mulher fala e ele não ouve. Vive em seu mundo interior dentro de um apartamento claustrofóbico e não se vê mais Paris, só se ouve o barulho de um personagem em construção, um homem chato e de saco cheio de sua vida.

Tamanho mau humor faz com que mulher e filho saiam de cena para voltar só no final. Murphy entediado de sua manhã ociosa, encontra um pacotinho de ópio. Enquanto a mulher rala cuidando da criança, ele viaja em suas fantasias heterossexuais de sempre. Em cima de sua cama, Murphy, chapadão, passeia pelas ruas de Montmartre como o típico americano sonhador e encontra, por acaso, uma garota francesa que recita poemas ocos. Na primeira transa já promete proteger para sempre a francesa gostosinha como se fosse um vampiro de “Crepúsculo”.

E as fantasias continuam. Sexo com duas mulheres. Cena delícia, os corpos posando em lençóis vermelhos como as fotos de Marilyn Monroe nua em sua fase pinup. E mais fantasia masculina: sexo com drogas, joguinhos sexuais com a francesa que deixam o cara louco de ciúme, orgia em casa de  swing, transa com travesti. Ninguém é obrigado a contar, mas os homens têm curiosidade. Normal. Para realizar suas fantasias imaginárias, Murphy é cuzão com quem ama. Mas ele ama? Ou ama só a si mesmo? Ah, a vida é difícil, filosofa ele. E assim vai aprendendo a jogar o jogo do amor.

Chega até a descobrir a origem da vida numa viagem de ayuhasca e esporra na cara da gente de um jeito chocho. Mas parece que o ópio não era dos bons. Murphy entra na banheira e sofre e chora.

Quem assiste ao filme também imagina estar numa bad trip e torce para acabar logo a choradeira e ir pra casa fazer sexo de verdade. A coitada da mulher chega com o bebê, vê a cena patética, manda a criança abraçar o pai, e Murphy se toca que o verdadeiro amor está na família. FIM.

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Viviane Ka é diretora executiva da São Paulo Review

 

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