A o olhar para a capa do livro de contos O que não existe mais (Tordesilhas, 2015), de Krishna Monteiro, é provável que se tenha uma ideia diversa do que de fato se encontrará em suas páginas. Não que seja possível chegar a uma conclusão exata, mas há aí a união de um título poético e uma capa relativamente simples.

Em um primeiro momento, é possível se espantar com a escrita de Monteiro. Não por ser um tanto complexa, tampouco por ser incomum para o que podemos considerar padrão num mundo em que grande parte das pessoas busca facilidades e fluidez. O espanto se deve exatamente pelo fato de estarmos acostumados a um estilo que se preocupa muito mais com futilidades do que com o que vale a pena.

A cada novo texto, o autor não está explorando apenas um enredo qualquer, mas sim o que existe de mais profundo dentro de cada narrador. Desta forma, a sensação de aproximação e identificação com as personagens acaba acontecendo naturalmente.

Dos sete contos, em pelo menos dois, identifiquei-me a ponto de colocar-me no lugar do protagonista. Um dos casos é exatamente o conto que abre e dá título ao livro. Ao trabalhar com o luto, o autor está na verdade retratando sentimentos que todos nós enfrentamos ou enfrentaremos em algum momento de nossa trajetória.

É bem verdade que existem contos que exigem grande atenção. Até mesmo uma provável releitura. É o caso de “As encruzilhadas do doutor Rosa”. No entanto, a maioria pode ser vista como original e isso faz toda diferença. É o caso de “Quando dormires, cantarei” e “Um âmbito cerrado como um sonho”, dois exemplos que ressaltam o poder criativo de Krishna Monteiro ao dar voz aos mais improváveis tipos de narradores: um galo de briga e um gato.

O que não existe mais talvez seja um livro para poucas pessoas. Mas é para todos os leitores. Seus contos nos levam aos mais diversos tipos de reflexão, desde o relacionamento com o próximo até o modo como encaramos determinados temas, como o suicídio em “O sudário”. Só é necessário estar preparado para o que o livro pode oferecer e, mais do que isso, saber o exato momento de encarar cada conto. Se não hoje, amanhã ou quem sabe depois. Mas é bom encará-los!

O Que Não Existe Mais, de Krishna Monteiro (Tordesilhas, 112 páginas)

Avaliação: bom

9788584190270-alta

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Ricardo Biazotto é blogueiro literário do Over Shock (www.overshockblog.com.br). Já participou de diversas antologias, entre elas, Dias Contados – Vol. 2, Moedas para o Barqueiro – Vol. 3, Amores (Im)possíveis, Amor nas Entrelinhas e Ponto Reverso, todas da Andross Editora