Por Ricardo Bellissimo *  

 O programa literário Super Libris, que teve a exibição de seu primeiro episódio pela TV Sesc, em setembro deste ano, inova ao dar um tratamento bem mais íntimo ao universo dos livros.

Atento, também, à dinâmica das mídias sociais, o Super Libris tem ainda como objetivo criar um programa que deve chamar atenção até de pessoas com pouco hábito da leitura. Tal desafio pretende ser conquistado na medida em que a produção do programa optou por seções temáticas como, por exemplo, biografias, pois, de uma maneira ou de outra, muitas pessoas já tiveram contato com alguma, mesmo que não fossem as notórias biografias de Ruy Castro.

Com direção do escritor, roteirista e cineasta José Roberto Torero (autor de O Chalaça, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995), e que trabalha em equipe com a produtora de cinema e televisão Ana Dip, Super Libris contabiliza um total de 52 episódios, com 26 minutos cada um, tendo inclusive o compromisso de apresentar escritores de todas as regiões do Brasil. A série possui um portal na internet com recortes de todos os quadros e depoimentos.

Nesta entrevista à São Paulo Review, Torero fala também de seu novo projeto literário, suas expectativas com o Super Libris, a crítica literária, a educação no Brasil, entre outros assuntos.

Como surgiu a ideia de fazer o programa Super LibrisEu estava conversando com Ana Dip, com quem dirijo a direção geral do programa, sobre qual o programa que mais gostaríamos de fazer. Acabamos pensando em literatura. Mas teria que ser um programa diferente, que poderia ser visto aos pedaços e inteiro, na tevê (no canal 138 da Oi TV) e na internet (superlibris.sesctv.org.br).

Qual formato visual, e também de conteúdo, você e a sua equipe optaram para que o Super Libris tivesse um enfoque diferenciado de outros programas literários até então existentes? Sempre achei que os programas de literatura focados num autor eram meio excludentes. Se você não tivesse curiosidade sobre o autor entrevistado, o programa teria grande chance de ser abandonado. Então decidimos, eu e Ana Dip, fazer programas temáticos. Por exemplo, o Luis Fernando Veríssimo não fala de suas obras, mas de humor e literatura. Ferreira Gullar não fala de suas poesias, mas de poesia em geral. E há seis ou sete outros quadros que também cercam o tema.

Acredita que um programa televisivo voltado à literatura possa despertar interesse em pessoas que não tem muito o hábito de ler? Acho que sim. E creio que quem já lê terá vontade de ler mais e buscar outros autores.

Sua experiência como cineasta e roteirista influenciou, de alguma maneira, na criação do Super LibrisTotalmente. As partes de mim que fizeram o programa foram o eu-roteirista e o eu-diretor. O eu-escritor só ajudou nas entrevistas.

Essa mesma experiência como roteirista influencia em sua narrativa literária? Pode-se dizer que essa influência também ocorre em virtude de sua familiaridade com anos elaborando textos jornalísticos? Tudo influencia o seu jeito de escrever. Tanto ter sido jornalista como gostar de história ou de futebol.

Em sua opinião, como analisa a crítica literária no Brasil nos dias de hoje? Ela já foi melhor e mais abrangente? E quais os principais aspectos, em seu entendimento, que uma crítica sensata deve saber abordar? A crítica já foi melhor e maior. O espaço diminuiu muito. É só ver o desaparecimento dos cadernos de literatura. Eles deviam ser protegidos pelo Ibama, pois são uma espécie em extinção. E acho que uma crítica tem que ser uma opinião sincera, baseada numa elaboração racional, mas que se assuma como opinião.

O universo da crítica hoje estendido a blogs e sites literários independentes está tendo ampla repercussão nas redes sociais. Acha que esse universo autônomo, desvinculado muitas vezes da grande mídia, é onde boa parte do público leitor vem mantendo um contato mais assíduo com o que está sendo produzido literariamente no Brasil e também no mundo? Acho que sim. Tanto que no Super Libris instituímos um quadro fixo com booktubers. Ou seja, alguém, que já tenha um canal de crítica literária, está sempre falando de um livro referente ao tema do programa. E vieram coisas muito boas.

Como vê atualmente as adaptações de obras literárias para o cinema? Em sua concepção, o que é necessário ter como objetivo para se fazer uma adaptação que não desmereça o livro em que um filme será baseado? Há boas e ruins, como sempre. E acho que o objetivo de uma adaptação deve ser fazer um bom filme. O livro é só o ponto de partida. O roteirista e o diretor têm que ter liberdade para irem para onde quiserem. O livro não pode ser uma âncora, tem que ser um trampolim.

Da mesma forma, a tradução de um romance é algo extremamente difícil e delicado. Uma má tradução pode exterminar a originalidade literária de um autor. Como vê, por isso, o panorama da tradução que está sendo realizada no Brasil? Infelizmente não tenho a menor capacidade para julgar isso. Sou um reles monoglota.

Como vê, ainda, o panorama da literatura que está sendo atualmente produzida em nosso país? Temos uma boa biodiversidade. O leitor é que precisa caçar um pouco para achar o animal, digo, escritor, que mais aprecia.

E quais são as suas principais influências literárias? Quando crescer gostaria de ser como Machado de Assis, Laurence Sterne, Luis Fernando Veríssimo, Kurt Vonnegut Jr., José Saramago e Ítalo Calvino.

Está escrevendo atualmente algum livro? Acabei por estes dias o Almanaque ilustrado e ilustrador sobre sacis e sacisas.

Para finalizar, como pensaria em um programa pedagógico realmente efetivo para se incentivar a leitura nas escolas brasileiras, sobretudo para que ela não se torne uma obrigação tediosa? Essa pergunta é dificílima, ainda mais para mim, que não sou um educador. Mas acho que uma diretriz seria aprender a ler literatura com prazer. Hoje o ensino de literatura passa por uma chave histórica. Ou seja, você estuda o classicismo, depois o barroco, aí o parnasianismo, o romantismo, o realismo, etc… Mas você não estuda matemática ou biologia deste jeito cronológico. Isso é uma maldade com o aluno. Ele lê livros agradáveis na infância e, de repente, tem que começar a aprender a história da literatura. E ler José de Alencar com quinze anos não faz bem a ninguém. Nem ao leitor, nem ao José de Alencar, que acaba sendo odiado pelos adolescentes.

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Ricardo Bellissimo é escritor, jornalista e historiador, autor dos livros Sufoco e Negro amor, entre outros

 

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