Três poemas moçambicanos

moça

Cobertura 

A noite sussurra

triste provérbio lunar

Os gritos tristes dos dedos

vestem devagar

a nudez da solidão

Não há sequer

um chão no pensamento humano

Só ouço o canto de um exílio

na meditação da palavra.

 

Cercos

Dentro da insónia

os movimentos da idade descobrem

os desenhos profundos da geometria

nas sombras dos lábios

a boca suporta o peso da voz

e as flores da música navegam sorrisos.

 

Confidência

Aprendi com a chuva

a ler os antónimos da água.

Só existe neste mundo

uma sombra:

A noite que esquiva

o suor da lua.

*

 Jaime Rafael Munguambe Júnior nasceu em Maputo, Moçambique. Estuda na Universidade Eduardo Mondlane. É membro do movimento literário Kuphaluxa e do Clube de leitores dos estudantes de Literatura e Linguística da Faculdade de Letras e Ciências Sociais. Tem colaboração dispersa em alguns espaços de publicação literária lusófona, a destacar a Revista de literatura Moçambicana e Lusófona-Literatas, a Revista Soletras, o Jornal Literário Pirâmide (Moçambique) a Revista de Artes e Letras Pi2 (Brasil), participou na antologia A Ponte da Palavra organizada pelo Circulo dos Escritores Moçambicanos na diáspora (Portugal). Organizou A Hermenêutica do Silêncio (2014): poesia em diálogo com a linguagem das tintas ou a inquietação do verbo e os gestos camuflados das cores.