Quem é Paulliny Tort? Minha consciência responderia a essa pergunta melhor do que eu. Sei as coisas de que gosto e as coisas de que não gosto (e que às vezes mudam ao longo do tempo), mas quem eu sou realmente, por baixo disso tudo, não tenho claro. Gostaria de ser uma pessoa fiel aos meus princípios, interessada no conhecimento, feitora da arte, amável, defensora da vida, no entanto, ninguém é o que gostaria o tempo inteiro.

Quais são os cinco livros da sua vida? Não teria como defender apenas cinco livros como sendo os da minha vida. Todos os livros que aprecio entram nesse rol e felizmente são muitos, de autores bastante diferentes entre si. Mas, para não deixar de dar uma resposta, listarei algumas memórias marcantes de leitura (lembrando que isso é circunstancial; se eu responder à mesma pergunta amanhã, me registraria de outros títulos). Na infância, me impactei com Os melhores contos de Charles Dickens e com Poemas dos becos de Goiás e estórias mais , de Cora Coralina, publicados pelo saudoso Círculo do Livro. Na adolescência, desenvolvi uma fixação pela obra de Hermann Hesse a partir da leitura do Sidarta . Em seguida, O velho e o mar me levaram à obra de Hemingway e seguimos lendo tudo dele. Agora, sobre um livro publicado recentemente, amei Escute as feras , da Nastassja Martin. Só não posso dizer que esses são os cinco livros da minha vida.

Qual livro da literatura brasileira ou mundial você gostaria de ter escrito? Metamorfoses , do Ovídio. Com certeza! Como o autor afirma no epílogo é uma obra que “nem a cólera de Júpiter, nem o fogo, nem o ferro, nem a voracidade do tempo poderão destruir” (embora eu entenda que a matéria é finita e que acabaremos mais cedo ou mais tarde ).

Qual livro você ainda quer escrever? O que estou escrevendo agora. Dá um trabalho absurdo e acho que ainda vai demorar, mas quero muito ver o escrito.

Por que você escreve? É claro que tem a ver com meu gosto pela leitura, mas também com motivações profundas que não são claras. Histórias surgem na minha cabeça e preciso dar vazão a elas em uma forma específica, basicamente é isso. Para ser honesto, se a minha necessidade expressiva é por meio de outras linguagens, como a dança ou a música, acho que seria menos sofrido. O processo da escrita de ficção exige uma rotina esmagadora em vários aspectos: muitas horas sentadas (se bailarinos ganham lesões pelo movimento, escritores ganham lesões pela inércia), muitas horas sozinhas, muitas horas em busca de uma palavra que nunca se deixa encontrar. É seria uma idiotice fazer isso contando com a certeza do reconhecimento, pois os louros são sempre incertos – a literatura não é algo que se deixa medir com a precisão de um esquadrão. A meu ver, escritores escrevem apesar de tudo. Missão? Propósito? Amor? Doença? Loucura? Masoquismo? Quem sabe um pouco de cada?

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Foto: Renato Parada

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