* Por Daniel Manzoni-de-Almeida *

O oceano que habitamos

O nome é um livro de literatura obrigatória que ninguém escapa de carregar de si. O nosso nome é a expressão literária ficcional mais sintética da nossa existência, da nossa identidade. É a literatura íntima de cada um que se apresenta primeiro. Nosso nome traz uma biblioteca de História e de outras literaturas dos antepassados que contam não apenas sobre nossa família, mas sobre o mundo. 

Diversos estudos mostram que pessoas imigrantes, em vários países ocidentais, são discriminadas pela origem étnica dos seus nomes ao tentar alugar um imóvel (Martiniello & Verhaeghe, 2023), ao tentar uma vaga de trabalho (Blommaert, 2014), ao tentar entrar em atividades sociais (Nessler & Dietl, 2019)e etc. A única saída, então, para assimilação do estrangeiro à uma nova sociedade é um incêndio simbólico dessa biblioteca, como um incêndio da biblioteca de Alexandria, para apagar o nome? 

Eu proponho a bruxaria da literatura como quebra do feitiço dominante. Uma poção da bruxaria feita com ingredientes das palavras. Nesse sentido que vou aqui com ajuda de Xavier Le Clerc.

Começo esse texto depois de uma pequena xícara de café, na minha sala da universidade, tomado por um silêncio avassalador de uma manhã barulhenta de palavras. Sobre a mesa está o livro “Un homme sans titre”, de Xavier LeClerc, que eu havia terminado no dia anterior. 

 Acordei depois de um sonho com palavras em português. Respondi dois e-mails em inglês. Escutei uma notícia na rádio italiana. Li um artigo de uma revista da minha área de trabalho, em espanhol. Tive uma reunião com dois  estudantes de mestrado, em francês. Há momentos no cotidiano que sou reconhecido como “o brasileiro”, em outros momentos como “o italiano” e em outros momentos como alguém da península ibérica – Portugal ou Espanha. O que liga todas essas situações é que sou estrangeiro. E já era assim antes de sair do meu país, acho que todos nós somos estrangeiros em si.  Trago essa condição, não apenas de ordem material ou política, mas existencial: somos todos estrangeiros em vida. Estar vivo é ser estrangeiro e tal condição nos é dada já a partir do nosso nascimento. Desde que viemos ao mundo já somos estrangeiros, a partir de um primeiro lugar que já não habitaremos mais: o ventre materno. Dessa forma, minha língua materna não é a francesa, a espanhola, a inglesa, a italiana, muito menos é a portuguesa, mas é a língua-mãe, da minha mãe: o primeiro lugar que habitei no mundo. 

A língua-mãe que chamo é a do amor, da solidariedade e da empatia ao outro desconhecido que está ali hospedado como parte de si e do mesmo mundo que tantos outros. Todas as outras línguas que usamos para nos comunicar são apenas capazes de me fazer falar com os outros o que sinto. Cada vez que tenho que usar uma língua é como se eu nascesse novamente para tentar falar do mundo, do meu mundo, que eu não deixei, mas saí por uma questão da natureza, da vida. A vida é uma eterna tentativa de volta à língua-mãe. De alguma forma a escrita de literatura, o colocar palavras imaginárias no papel, é uma tentativa de voltar, recontar uma história, voltando ao nosso passado. É resgatar esse “país” do qual nascemos. Estar no mundo pós-nascimento é lidar com as diferenças que temos, em um eterno jogo de sermos estrangeiros, uns para os outros. O desafio nosso de cada dia, como intrinsecamente estrangeiros de existência, é transformar a xenofobia que construímos no mundo, como uma forma de negar nossa condição estrangeira e a do outro, seja apenas uma questão de um problema pedagógico e não psicológico para nós.

Eu não consigo pensar a condição de estrangeiro sem pensar em uma fábula que rola no imaginário humano já faz muitos anos: a da pequena sereia. Escrita por Hans Christian Andersen [1805-1875], resumidamente, faz uma metáfora, que interpreto, como a do estrangeiro. Essa fábula conta a história de uma pequena sereia que vive nas profundezas do mar, e um dia, ao visitar a superfície do mar, se apaixona por um humano. Tomada pela vontade de viver na terra, fora das profundezas do mar, faz um pacto com a bruxa do mar para virar humana, ou seja, ao invés de um rabo de peixe ter pernas e viver na terra. Em troca, a bruxa exige a voz da pequena sereia como pagamento. No contrato feito entre a sereia e a bruxa do mar, no período em que a pequena sereia estiver na aventura da superfície, ela não conseguirá se comunicar, pois a bruxa do mar exige sua voz como pagamento pelo feitiço: uma estrangeira sem saber a língua com a difícil missão de ser assimilada àquele mundo em um período curto. Para conseguir realizar seu desejo, a pequena sereia perde sua real identidade e terá que reconstruir sua nova forma de viver, em um mundo que não consegue se comunicar direito, diferente de tudo que conhecia no passado. 

Na fábula, a sereia escolhe sua condição de estrangeira. Em muitos casos, no nosso mundo real, essa condição não é de escolha, mas é uma condição forçada de migração para sobrevivência em situações de fome e guerra. Porém, ainda podemos manter a imagem da sereia que vira humana, sem voz, para buscar uma nova existência como a de um estrangeiro. Com a devida licença para a metáfora, seria todo imigrante uma pequena sereia submetida a um pacto com a bruxa do mar? Ou seja, para conseguir ser assimilado à nova sociedade é preciso perder elementos importantes da sua própria identidade, em um movimento forçadamente universalista, em detrimento de um possível multiculturalismo?

Além da minha condição de estrangeiro, o que me levou a pensar sobre isso foi“Un homme sans titre”, o potente livro que o escritor Xavier LeClerc publicou em 2022, pela Editora Gallimard na França e que tem como pano de fundo a condição do ser imigrante.

O feitiço 

Em “Un homme sans titre” Xavier Le Clerc faz uma análise autobiográfica poderosa sobre sua existência e seu papel como escritor no mundo em reconstruir histórias para uma justiça social, e antes de mais nada, pessoal.

O diferencial da análise de Le Clerc da sua própria história, como uma etnografia, não parte dela, mas da trajetória de seu pai, Mohand-Saïd que aos 25 anos de idade, sem qualquer educação, deixa uma vida miserável e opressora na Algéria para buscar trabalho e uma vida melhor na França. Mais precisamente, Xavier Le Clerc, como em uma autoetnografia de uma leitura parte do consagrado escritor Albert Camus que ao visitar Kabylie e constatar a situação de miséria da população, escreve o “Misère de la Kabylie”, um relatório publicado em 1939.  O texto permite que Le Clerc, anos mais tarde,entenda a situação de miséria que força seu pai e a família a emigrar para França. O autor se vale da partida de leitura desse texto para entender, apresentar e reconstruir sua história e explicar sua tomada de identidade como sujeito e escritor no mundo, ou seja, sua identidade enquanto escritor da língua francesa está intimamente ligada ao processo da história de sofrimento e assimilação da imigração do seu pai à França.

Para compreender sobre, Xavier nos conta que seu pai ao chegar na França vai trabalhar na SMN (Société Métallurgique de Normandie) e passa a ter uma vida nada fácil. Ele constitui uma família com 9 filhos, sendo um deles Hamid Aït Taleb. Curioso e sem livros em casa, foi graças a uma biblioteca comunitária que o pequeno Hamid descobriu os livros. Com a ajuda e apoio da sua professora de francês, toma gosto pelas palavras e vê na educação uma maneira emancipatória de superar a miséria. Entretanto, não é apenas o poder da educação que o fará ser totalmente assimilado pela sociedade francesa como filho de um imigrante. Era preciso um outro “truque” de linguagem: a mudança do nome próprio. Um nome ocidental facilitaria a vida de Hamid na França? Sim, e foi o que aconteceu ao escolher o nome de Xavier LeClerc. Anos depois, Hamid troca seu nome por Xavier LeClerc em um gesto de assimilação à cultura. A mudança no nome é significativa para obter “passabilidade” e conseguir um trabalho sem o pré-julgamento do seu nome que marca sua origem étnica. A partir de então, o “diferente”passa a ser o “igual”. Porém, diferente da história da pequena sereia que perdeu a voz, Xavier deixa sua voz ainda mais alta ao escrever “Un homme sans titre”, que podemos tomar como um livro-denúncia dos processos violentos de assimilação ao qual imigrantes estão submetidos aos países do ocidente.

         Eu vivo em um outro país e estou cotidianamente encontrando outras “pequenas sereias”. A literatura é uma forma importante em que encontrei acolhimento, como relatei na conversa com Abdellah Taïa. Um outro encontro com Brigitte Giraud, que acolheu delicadamente as minhas palavras sobre análise da memória e literatura, me levou até Xavier LeClerc que me proporcionou com “Un homme sans titre” uma das experiências de leitura literária mais comoventes que eu tive na França. Seu livro , para mim, funcionou como um abraço apertado afetuoso entre dois imigrantes. A cada página de “Un homme sans titre”, LeClerc nos leva a compreender que somos seres em constante construção e desenvolvimento das nossas identidades. E que identidade não é algo estático, mas um processo dinâmico e em constante diálogo com a cultura, ou seja, “identidade é uma ficção”, como nos traz Kozakai & Wolter (2007), em que precisamos sair da tentativa de construção universal para um diálogo multicultural.

       Eu tive o prazer de conversar com Xavier LeClerc:

Viver em outro país significa renascer: reaprender a falar, escrever e ler; criar novos relacionamentos de amizade, trabalho e afeto. Como podemos preparar uma sociedade receptiva à imigração? A imigração, geralmente pensada em termos transfronteiriços, é, na realidade, a tradução da experiência humana mais essencial. Com isso, quero dizer que o encontro é uma emigração em direção ao outro. Uma acolhida mútua e igualitária. Conhecer o outro, seu idioma, sua gramática comportamental, sua visão de mundo, suas contradições, suas vulnerabilidades, suas áreas de luz e feiura, de coragem e resignação, como tantas paisagens, às vezes sublimes, às vezes desoladas. Rejeitar o imigrante é recusar o encontro, recusar o risco de se abrir para as mudanças edificantes que o questionamento e a descoberta nos oferecem. Portanto, tenho esperança de que possamos nos afastar das estatísticas desumanas, de que possamos olhar para a outra pessoa com dignidade e curiosidade e parar de encará-la. Esse é o desafio da minha escrita em um nível humano, para evitar a armadilha do coletivo, que só leva a listas intermináveis de “Homens sem título”.

Qual é a maior dificuldade no processo de assimilação de um imigrante em uma nova cultura, para aqueles que chegam e para aqueles que recebem um imigrante? Nos últimos nove meses, tenho viajado pela França e por outros países para discutir os temas transversais do meu último livro, “Un homme sans titre”. A questão da colonização mascara a questão mais profunda da consideração e da hierarquia dos homens. A coisa mais difícil é encontrar estima, consideração, respeito e benevolência aos olhos dos outros. Tudo depende desse acolhimento. Seria ingênuo pensar apenas em termos de logística, moradia e trabalho, por exemplo. A histórica formação de guetos nos subúrbios, por exemplo, não se baseia no desprezo por uma população que é relegada e julgada de menor valor? Quantas crianças de famílias de imigrantes foram enviadas para os chamados ofícios manuais (os chamados trabalhos braçais) com base em critérios aleatórios que eram muito mais uma questão de preconceito inconsciente do que de avaliação séria? Quanto à moradia, o que podemos dizer sobre o corte discriminatório com base em raça e sobrenome? Isso é mais uma vez o câncer da cegueira, do preconceito e, muitas vezes, do ódio. Eu só acredito em um tango que é dançado a dois e com respeito mútuo. A alternativa não seria nada além de atropelamento.

 De que forma a literatura pode ser importante para os processos de integração e assimilação no processo de imigração? “A arte é um anti-destino”, disse Malraux. A literatura nos permite escapar do arame farpado do gueto mental. Ela permite que os leitores rejeitem o fatalismo, o dogmatismo, o ressentimento e as limitações. Ela destaca uma humanidade sem limitações, um horizonte distante, possibilidades. A empatia que a literatura desenvolve é inestimável para o desenvolvimento da inteligência emocional, da qual depende nossa capacidade de adaptação, por exemplo. É também, é claro, o domínio da palavra falada, uma condição essencial para o diálogo e o intercâmbio, mas também para a troca e o enriquecimento mútuos, tão bem ilustrados pela literatura de língua francesa em todo o mundo.

A quebra do feitiço

A fábula de Andersen termina de uma maneira trágica: a sereia, impossibilitada de falar, não consegue se adaptar, conquistar o amor do príncipe e conseguir realizar seu desejo no novo mundo. A punição da bruxa do mar acontece em transformá-la em espuma do mar, ou seja, aniquilá-la por completo. O prêmio Nobel de literatura, Albert Camus, ao escrever “Misère de la Kabylie” em 1939, rebelou-se e, por meio do seu potencial literário, sua voz de indignação contra as condições de vida miseráveis de um povo, registrando o horror. Anos mais tarde ao expor sua história, Xavier Le Clerc quebra o silêncio da voz de muitos imigrantes no mundo ocidental. A quebra do feitiço está aí: a capacidade de falar que a literatura proporciona denúncias e também outros feitiços. “Un homme sans titre” nos possibilita pensar uma emancipação na condição de estrangeiro em um mundo que, na verdade, é de todas as pessoas. E no qual não precisamos perder nada para pertencer. 

Referências

Lieselotte B. and others (2014). Discrimination of Arabic-Named Applicants in the Netherlands: An Internet-Based Field Experiment Examining Different Phases in Online Recruitment Procedures, Social Forces, (92), Issue 3, pág. 957

Martiniello B, Verhaeghe P.P. (2023). Different names, different discrimination? How perceptions of names can explain rental discrimination. Front Sociol, 2;8:1125384. 

Nesseler, C., Gomez-Gonzalez, C. & Dietl, H. (2019). What’s in a name? Measuring access to social activities with a field experiment. Palgrave Commun, 5, pag. 160. 

Kozakai, T. & Wolter, R. P.. (2007). Armadilhas do multiculturalismo: análise psicossocial da integração à francesa dos estrangeiros. Aletheia, (26), pág. 11-26

 

La fable de la petite sirène et la vie étrangère

Un homme sans titre de Xavier Le Clerc (Gallimard)

 Daniel Manzoni-de-Almeida

Écrivain et docteur en théorie littéraire.

Contact : danielmanzoni@gmail.com

Université Bretagne Occidental, Brest, France

Relecture et corrections : Hervé Jacolot

Enseignant FLE (français langue étrangère) d’Association Brestoise pour l’Alphabétisation et l’Apprentissage du Français pour les Étrangers (ABAAFE)

L’océan que nous habitons

Le nom me semble un livre auquel personne n’échappe. Notre nom est l’expression la plus synthétique de notre existence, de notre identité. C’est par ce biais une sorte d’amorce de littérature intime qui se présente à chacun. Notre nom porte les histoires , la bibliothèque de nos ancêtres mais aussi du monde.

Plusieurs études montrent que les personnes immigrées, dans plusieurs pays occidentaux, sont discriminées en raison de leurs origines, de leur patronyme lorsqu’elles tentent de louer un bien (Martiniello & Verhaeghe, 2023), lorsqu’elles cherchent un emploi (Blommaert, 2014) ou tentent de participer à des activités sociales (Nesseler & Dietl, 2019), ainsi de suite. La seule issue, alors, pour l’assimilation de l’étranger dans une nouvelle société est-elle l’incendie symbolique de cette bibliothèque intérieure, comme l’incendie de la bibliothèque d’Alexandrie, qui résulte par l’effacement du nom ?

Je propose la sorcellerie de la littérature pour rompre le charme dominant. Une potion magique de mots. C’est que je vais faire ici avec l’aide de Xavier Le Clerc.

Je commence ce texte après une petite tasse de café, dans ma chambre universitaire. Sur la table se trouve le livre Un homme sans titre de Xavier Le Clerc, que j’ai terminé la veille. Je me suis réveillé après un rêve avec des mots en portugais. J’ai répondu à deux e-mails en anglais. J’ai écouté une nouvelle à la radio italienne. J’ai lu un article dans  un  magazine en espagnol. J’ai eu une réunion avec deux étudiants en Master de français. Dans la vie quotidienne, il y a des moments où l’on me reconnaît comme “le Brésilien”, d’autres comme “l’Italien” et d’autres encore comme quelqu’un de la péninsule ibérique – du Portugal ou de l’Espagne.

Ce qui relie toutes ces situations, c’est que je suis un étranger. Et j’étais déjà comme cela avant de quitter mon pays, je pense que nous sommes tous des étrangers en nous-mêmes.  Je porte cette condition, non seulement matérielle ou politique, mais aussi existentielle : nous sommes tous étrangers dans la vie. Être vivant, c’est être étranger et cette condition nous est donnée dès notre naissance. Dès que nous venons au monde, nous sommes déjà des étrangers, depuis un premier lieu que nous n’habitons plus : le ventre de notre mère. Ainsi, ma langue maternelle n’est ni le français, ni l’espagnol, ni l’anglais, ni l’italien, encore moins le portugais, mais  le ventre de ma mère : le premier lieu où j’ai habité.

Une langue nourricière de l’amour, de la solidarité et de l’empathie qui reste là comme une partie de vous. Chaque fois que je dois utiliser une langue, c’est comme si je renaissais pour essayer de parler du monde, de mon monde, que j’ai quitté par le cours de la nature, par la vie. La vie est une éternelle tentative de retour à la langue maternelle. D’une certaine manière, la littérature c’est mettre des mots imaginaires sur le papier, c’est tenter de revenir, de raconter à nouveau une histoire, de revenir à notre passé, ce “pays” originel. Être dans le monde de l’après-naissance, c’est faire face aux différences que nous avons, dans un jeu éternel de l’altérité. Notre défi quotidien, en tant qu’étrangers intrinsèques à l’existence, est de transformer la xénophobie que nous construisons dans le monde, comme une manière de nier notre condition étrangère et celle de l’autre, pour qu’elle ne soit pour nous qu’une question de problème pédagogique et non psychologique.

Je ne peux pas penser à la condition d’étranger sans l’associer à une fable si édifiante : la petite sirène. Écrite par Hans Christian Andersen [1805-1875], elle constitue en somme une allégorie de l’étranger. Cette fable raconte l’histoire d’une petite sirène qui vivait dans les profondeurs maritimes et qui, un jour, lors d’une visite à la surface, tombe amoureuse d’un homme. Elle fait un pacte avec la sorcière de la mer pour devenir humaine, renonçant à sa queue de poisson pour des jambes et une vie sur terre. En échange, la sorcière exige de capturer sa voix. À cause de ce contrat, la petite sirène ne pourra plus communiquer, privée de sa voix : elle devient une étrangère sans connaissance de la langue avec la difficile mission de s’assimiler à ce monde terrestre. Pour réaliser son souhait, la petite sirène perd sa véritable identité et devra reconstruire son nouveau mode de vie, dans un monde différent de tout ce qu’elle avait connu dans le passé.

Dans la fable, la sirène choisit sa condition d’étrangère. Bien souvent, cette condition n’est pas un choix, mais une migration pour la survie dans des situations de famine et de guerre. Cependant, nous pouvons encore conserver l’image de la sirène qui devient humaine et étrangère, au prix de sa voix. En filigrane, chaque immigré serait-il soumis à un pacte avec une sorte de sorcière des mers ? En d’autres termes, pour être assimilé à la nouvelle société, faut-il perdre des éléments importants de sa propre identité, renoncer au multiculturalisme ?

Outre la condition d’étranger, ce qui m’a fait réfléchir, c’est Un homme sans titre, le livre puissant que l’écrivain Xavier Le Clerc a publié en 2022 chez Gallimard en France, et qui raconte le parcours de son père immigré.

Le sortilège

Dans Un homme sans titre, Xavier Le Clerc livre une puissante analyse de son existence et de son rôle d’écrivain en reconstruisant son parcours familial en proie à  bien des injustices. Une auto-ethnographie qui ne part pas de sa vie, mais de la trajectoire de son père, Mohand-Saïd Aït-Taleb qui, à l’âge de 25 ans, sans aucune instruction, quitte l’Algérie pour travailler en France. Plus précisément, Xavier Le Clerc, tisse son récit avec le témoignage du célèbre écrivain Albert Camus [1913-1960] qui, après avoir visité la Kabylie et constaté l’agonie de la population, écrit “Misère de la Kabylie”, une série d’articles publiés en 1939 dans l’Alger Républicain.  Ce texte permet à Leclerc, 80 ans plus tard, de comprendre l’enfance de son père. L’auteur dialogue avec ce texte pour comprendre et reconstruire l’histoire de ses origines en tant que sujet et écrivain dans le monde, autrement dit une identité en tant qu’écrivain de langue française hérité du déracinement de son père.

Pour le comprendre, Xavier raconte que son père arrive en France pour travailler à la SMN (Société Métallurgique de Normandie). Il fonde une famille de neuf enfants, dont l’auteur né Hamid Aït-Taleb. Curieux et sans livres à la maison, c’est grâce à la bibliothèque municipale que le petit Hamid découvre les livres. Il prend goût aux mots et voit dans l’éducation un moyen d’émancipation pour sortir de la pauvreté. Mais ce n’est pas seulement le pouvoir de l’éducation qui lui permettra de s’intégrer pleinement à la société française. En grandissant, face aux discriminations, les diplômes ne suffisent pas hélas. Hamid Aït-Taleb devient alors Xavier Le Clerc. La traduction de son nom de naissance s’avère vitale pour survivre aux préjugés racistes. Dès lors, le “différent” devient “l’égal”. Cependant, contrairement à l’histoire de la petite sirène qui sacrifiait sa voix, Xavier lui rend sa voix encore plus forte en écrivant Un homme sans titre, que nous pouvons considérer comme un livre-dénonciation des processus violents d’assimilation auxquels sont soumis les immigrés dans les pays occidentaux.

Je vis dans un autre pays et je rencontre quotidiennement d’autres “petites sirènes”. La littérature est une forme importante dans laquelle j’ai trouvé un accueil, comme je l’ai rapporté dans la conversation avec Abdellah Taïa. Une autre rencontre avec Brigitte Giraud, qui avait accueilli avec douceur mes propos sur l’analyse de la mémoire et de la littérature, m’a conduit à la recommandation de Xavier Le Clerc qui, avec Un homme sans titre, m’a offert l’une des expériences littéraires les plus émouvantes que j’ai vécues en France. Son livre a été pour moi comme une étreinte serrée et affectueuse entre deux immigrés. À chaque page d’Un homme sans titre, Le Clerc met en relief le développement constant de nos identités, un processus dynamique en dialogue avec la culture, que « l’identité est une fiction » comme nous l’indiquent Kozakai & Wolter (2007), de laquelle nous devons nous affranchir pour un véritable dialogue multiculturel.

    J’ai eu le plaisir de m’entretenir avec Xavier Le Clerc :

DANIEL : Vivre dans un autre pays signifie qu’il faut renaître : réapprendre à parler, à écrire, à lire ; créer d’autres relations d’amitié, de travail, d’affection. Comment penser à préparer une société réceptive à l’immigration ? 

XAVIER: L’immigration, souvent pensée de manière transfrontalière,  est en réalité la traduction de l’expérience humaine la plus essentielle. Je veux dire par là, que la rencontre est une émigration vers l’autre. Un accueil mutuel et égalitaire dans le fond. Apprendre à connaître l’autre, sa langue, sa grammaire comportementale, sa vision du monde, ses contradictions, ses vulnérabilités, ses zones de lumière et de laideur, de courage et de résignation, comme autant de paysages tantôt sublimes tantôt désolés. Refouler l’immigré, c’est refuser la rencontre et le risque des basculements pourtant si édifiants que nous offrent les découvertes. Alors, me vient à l’esprit l’espoir de sortir des statistiques déshumanisantes, d’envisager la figure de l’autre avec dignité et curiosité pour ne plus le dévisager. C’est l’enjeu de mon écriture à hauteur d’homme, d’éviter l’écueil du collectif qui ne conduit qu’à des listes interminables d’Hommes sans titre.

DANIEL : Quelle est la plus grande difficulté dans le processus d’assimilation d’un immigrant dans une nouvelle culture – de ceux qui arrivent et de ceux qui reçoivent un immigrant ? 

XAVIER: Depuis neuf mois, je suis en tournée partout en France et à l’étranger pour évoquer les thèmes transversaux de mon dernier livre Un homme sans titre. L’enjeu de la colonisation masque celui plus profond de la considération, de la hiérarchie des hommes. Le plus difficile est de trouver dans le regard de l’autre, l’estime, la considération, le respect et la bienveillance. Tout dépend de cet accueil.  Il serait bien naïf de réduire tout cela à des points logistiques, de logements et de travail par exemple. Prenons la question de la ghettoïsation historique des banlieues par exemple; ne repose-t-elle pas sur le mépris d’une population reléguée et jugée de moindre valeur? L’exemple de la scolarité aussi; combien d’enfants issus de l’immigration furent envoyés dans les filières dites manuelles sur des critères hasardeux qui relevaient beaucoup plus de biais inconscients que d’une évaluation sérieuse. Le logement, que dire de sa cohorte de discriminations au faciès et au patronyme, c’est encore là le cancer des préjugés et si souvent de la haine. Je ne crois qu’à un tango qui se danse à deux et dans le respect de l’autre. L’alternative ne serait que piétinement.

DANIEL : En quoi la littérature peut-elle être importante pour les processus d’intégration et d’assimilation dans les processus d’immigration ?

 XAVIER : “L’art est un anti-destin” disait Malraux. La littérature permet de s’extraire des barbelés du ghetto mental. Elle autorise le lecteur à refuser la fatalité, le dogmatisme, le ressentiment et les limitations. Elle met en relief une humanité sans limitation, un horizon lointain, des possibilités. L’empathie que développe la littérature est précieuse pour développer l’intelligence émotionnelle, dont dépend notre capacité d’adaptation par exemple. C’est aussi bien sûr la maîtrise du verbe, condition essentielle du dialogue et de l’échange, mais aussi l’échange et l’enrichissement mutuels qu’illustre si bien la littérature francophone partout dans le monde.

 La rupture du sortilège

La fable d’Andersen se termine de manière tragique : la sirène, incapable de parler, ne parvient pas à s’adapter, à gagner l’amour du prince et à réaliser son désir dans ce nouveau monde. Le châtiment de la sorcière des mers est de la transformer en écume, c’est-à-dire de l’anéantir complètement. Le prix Nobel de littérature Albert Camus, en écrivant Misère de la Kabylie en 1939, s’est rebellé et a fait entendre son indignation que suscitait la misère d’un peuple. Des années plus tard, en partageant son histoire, Xavier Le Clerc rompt le silence, offre une voix et des mots aux nombreux immigrés du monde occidental. L’envoûtement est là. Un homme sans titre nous permet de s’émanciper de notre condition d’étranger dans un monde qui devrait appartenir à tous.

 Références  

Lieselotte B. and others (2014). Discrimination of Arabic-Named Applicants in the Netherlands: An Internet-Based Field Experiment Examining Different Phases in Online Recruitment Procedures, Social Forces, (92), Issue 3, page. 957

Martiniello B, Verhaeghe P.P. (2023). Different names, different discrimination? How perceptions of names can explain rental discrimination. Front Sociol, 2;8:1125384. 

Nesseler, C., Gomez-Gonzalez, C. & Dietl, H. (2019). What’s in a name? Measuring access to social activities with a field experiment. Palgrave Commun 5, page. 160. 

Kozakai, T. & Wolter, R. P.. (2007). Armadilhas do multiculturalismo: análise psicossocial da integração à francesa dos estrangeiros. Aletheia, (26), page. 11-26

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Daniel Manzoni-de-Almeida é escritor e doutor em teoria literária. Université Bretagne Occidental, Brest, França. danielmanzoni@gmail.com 

 

 

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