19 de outubro (quarta-feira)

Jesus também passou pelo que estou passando e depois deu a volta por cima para cuidar do ser humano. O que está sendo posto em cheque agora, nessa nação abençoada por Deus, é o meu equilíbrio. Mas é ingênuo colocar em cheque o que eu sempre tive de melhor.

Conselho 1: A gente sempre tem que confiar no que tem de melhor. Algumas coisas eu preciso colocar em ordem. “Deus meu, em ti confio, não me deixeis confundido, nem que os meus inimigos triunfem sobre mim.” (Salmos 25:2) Vou organizar meu livro. Também preciso olhar todos os jornais para entender o que fazer. Meus arquivos vão me salvar.

As denúncias contra mim são absurdas e requentadas. Vou contestá-las na justiça. Estão todos com medo. Deus ensina que o justo não tem do que temer. Minha família tem sido constantemente atacada. A Globo me pede declaração apenas alguns instantes antes do Jornal Nacional começar. Jornalistas desafetos insistem em notícias plantadas. Mas todos terão que provar tudo em juízo. Quem com ferro fere com ferro será ferido.

Se estão querendo me isolar, não vão conseguir. Nesses anos todos de política, fiz muitos amigos, me aproximei de muita gente. Na batalha contra os do PT, estive com o que existe de melhor nesse país. Continuarei dialogando. Receberei visitas com a mesma disposição de antes e não vou deixar de lado todo o trabalho que conduzi até aqui. Meus advogados se comprometeram a me ajudar com a comunicação, agora que já não conto com uma assessoria especializada. Eles levarão e trarão minha correspondência.

Prezado Kim Kataguiri e amigos do Movimento Brasil Livre

Mais uma vez eu os cumprimento pela grande obra que foi ter tirado o PT do poder e evitado que o Brasil virasse uma grande Venezuela. Foi um prazer termos trabalhado juntos, eu recebi vocês com muita alegria durante o processo de impeachment. A alegria e a juventude de vocês me inspiraram, me deram energia e força. Agradeço a confiança mútua.

Escrevo para comunicar minha mudança temporária de endereço. No entanto estou com as portas abertas para, como sempre, receber vocês. Tenho certeza que, como durante o processo de impeachment, nosso diálogo será rico e intenso. Vocês estão desde já convidados para vir até Curitiba para continuarmos nossas articulações. Por favor marquem com o meu advogado.

Com a amizade do Eduardo Cunha.

20 de outubro (quinta-feira)

É uma sala pequena em que de fora ninguém pode me ver, só se me chamar e eu for para a esquerda na frente do vaso, que também está coberto por um tapume. É um lugar pequeno. Colocaram uma câmera aqui, é claro, mas eu não sei onde. Olhei bastante do lado da luz, não tem nada.

No teto não tem nada também. Era bom eu saber se essa câmera enxerga o que eu estou escrevendo.

As salas estão distribuídas por um corredor, uma ao lado da outra. Segundo me explicaram, pelo regulamento posso andar em alguns lugares, mas não em todos os horários. Sempre tem um rapaz de serviço, se eu precisar de alguma coisa. O de hoje parece estar de mau humor.

Algumas pessoas pelo que vi andam bastante daqui para lá. Eu não quis sair hoje. A refeição pode ser entregue aqui ou tem um lugar para ir. Olharam todas as minhas coisas e as minhas roupas. Não tiraram nada, mas olharam tudo. O doutor Marlus disse que vão olhar o que entrar, até o que ele traz na pasta e o que sair, mas não devem invadir minha sala. Por isso mesmo deve ter uma câmera aqui.

Eu preciso ter certeza dessa câmera e se ela enxerga o que eu estou escrevendo.

EU SEI QUEM MATOU O PC FARIAS

Não é a primeira situação difícil que eu passo. As coisas estão em ordem e eu sinto que elas vão estar do meu lado. Hoje é comigo. Eu avisei a todos, mas estão todos se sentindo superiores. O PT tomou conta da cabeça de todos. É mais fácil tirar os do PT do governo do que da cabeça de todo mundo. Ninguém é melhor do que Deus, eu também avisei.

*

O livro Diário da cadeia, de Eduardo Cunha (pseudônimo) foi escrito por Ricardo Lisias. O trecho acima foi cedido pela editora Record

 

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