És pedra.
Sou estrela.
Somos semelhantes.
Por ti passam os rios
num movimento que perdura.
Por mim passam as nuvens
como se fossem rios.
Se me projeto em ti,
porém,
és diamante.
VI
Sou livre para estar só
e acariciar tua sombra
e ouvir a melodia que soa rascante
pelo corpo elétrico do dia
Para nada dizer, para contemplar
o sonho que viaja luminoso
por todo o meu corpo, fluido como os outros
misturado ao suor, ao sangue, à saliva,
à lágrima, contido no ar que inspiro e expiro
ansiosa por sorver o que restar de vida
Sou livre para me entregar
ao orgasmo solitário, único
sol a preencher a manhã
livre para o delírio e o desvanescimento
o desmaio da realidade, o sonho labiríntico
a que me agarro, onde me perco, onde me acho
onde te busco ardente e sem descanso
o desejo latejando nas entranhas
como criatura autônoma sem limites
num incêndio raso sobre a cama.
XIX
Tua língua
é chama e pétala
na minha boca
Uma orquídea
rósea e fulva
se alastra no meu ventre
Selvagem e pura
no meu corpo
te enraízas.
***
Os poemas fazem parte da coletânea Vênus em escorpião, de Luíza Mendes Furia (Patuá Editora, 73 págs.)