D urante o processo de impressão do que seria a quarta edição de Paulo Leminski: o bandido que sabia latim, em 2013, a família do escritor se mostrou contrária à publicação da obra, que sairia na época pela editora Nossa Cultura. Dois anos depois, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo afastamento da exigência de autorização prévia do biografado ou de suas famílias, em casos de pessoas já falecidas, o que finalmente possibilitou que o material escrito pelo jornalista Toninho Vaz voltasse a circula.

Depois de nove anos fora do mercado, a obra retorna às livrarias, integrando agora o catálogo da Tordesilhas Livros. Publicada originalmente em 2001, o livro revelou, em abordagem surpreendente, que Paulo Leminski tinha um filho, até então, desconhecido. Para a nova edição, além do texto original, foi criado um capítulo inédito e atualizado que aborda o assunto e um caderno de fotografias do poeta com amigos e familiares.

Unindo a experiência de jornalista aos anos de amizade com Leminski, na obra, Toninho Vaz se propõe investigar o mistério que foi o poeta do Pilarzinho. De maneira íntima, após um ano de pesquisas e 81 entrevistas realizadas com parentes, parceiros, alunos, ex-mulheres, professores, amigos e até desafetos, o autor reuniu histórias, escritos, poemas, fotos inéditas e rascunhos de textos inacabados.

Personagem inesquecível da contracultura da década de 1980, Paulo Leminski ganhou espaço na cena intelectual brasileira com o jeito marginal e a alma de judoca. Músico e tradutor, poeta e professor, mestre e lutador, foi acolhido por grandes personalidades da época, como Caetano Veloso, Waly Salomão, Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari, entre outras.

Em Paulo Leminski: o bandido que sabia latim, Toninho Vaz traduz ao leitor quem realmente foi Paulo Leminski Filho, com todas as suas grandezas e contradições. Para o autor, a obra é “o retrato de um poeta brasileiro sem disfarces, o ex-estranho Paulo Leminski.”

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Lançamento da editora Moinhos, O que pesa no Norte, de Tiago Germano, foi finalista do Prêmio Nacional CEPE de Literatura e rendeu ao autor a aprovação de alguns editais, a exemplo da Caravana Agosto das Letras e dos editais de ocupação da Usina Cultural Energisa e da Casa da Pólvora.

Guilherme, o personagem, é procurado pelo pai neste livro que, segundo Rinaldo de Fernandes (que assina a orelha), é “uma narrativa que põe o dedo na feridas de práticas que perduram, que passam de geração a geração” e se inspirou também no cancioneiro de Belchior. “Quando eu comecei a escrever, Belchior estava sumido, em seu ostracismo voluntário”, explica Tiago. “Achei que a questão do desterro, que ele trabalha tão bem em sua obra, podia ser uma moldura pros traumas que eu queria explorar, que tinham muito a ver com o choque cultural que sofri ao deixar o Nordeste pra estudar e trabalhar no Sudeste e no Sul.”

Mestre e doutor em Escrita Criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), com estágio na School of Literature, Drama and Creative Write da University of East Anglia (UEA), onde passaram nomes como o Nobel de Literatura Kazuo Ishiguro, Germano nasceu em Picuí (PB), no Seridó, e já trabalhou em veículos de imprensa de São Paulo e da Paraíba antes de se estabelecer em definitivo em João Pessoa, onde fundou com a esposa (a também escritora Débora Ferraz) o escritório de autores Edícula Literária.

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Na virada para o século XX, Jacov Reinhardt está escrevendo o tratado definitivo sobre a melancolia, esta doença que se mostrou epidêmica na modernidade. No entanto, seu trabalho só estará completo quando localizar a fonte dela, quando encará-la de frente. Para isso, precisa ser como um Fitzcarraldo de Herzog, e mergulhar na selva sul-americana em busca de Emiliano Gomez Carrasquilla, o filósofo perdido da melancolia.

 Partindo dessa premissa absurda, Mark Haber constrói um romance delirante, repleto de angústias cômicas e obsessões hilárias. Narrado em apenas um parágrafo, como um monólogo febril, à moda dos livros de Thomas Bernhard, O jardim de Reinhardt (DBA Literatura)  oferece reflexões sobre a maneira como cada cultura lida com a tristeza e os esforços do conhecimento das ciências em tentar estabelecer limites para esse conceito tão abstrato e, no entanto, tão presente em nosso cotidiano.

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O espetáculo MACACOS, da Cia. do Sal, está em cartaz no Centro Cultural São Paulo, com entrada gratuita. Em agosto a peça reestreia e faz temporada no Teatro Cacilda Becker. A dramaturgia da peça, escrita por Clayton Nascimento, será lançada pela editora Cobogó no dia 29, após a sessão das 20h. O lançamento conta ainda com uma conversa de Clayton com a atriz, dramaturga, curadora e roteirista Dione Carlos.

Clayton também promove conversas com Lucélia Sérgio (dia 23 de julho, sábado), Pascoal da Conceição (dia 24 de julho, domingo), Valmir Santos (30 de julho, sábado) e Dona Terezinha – mãe do menino Eduardo, morto aos 11 anos no Complexo da Maré, em 2015 – acompanhada por Debora Silva Maria, do Movimento Mães de Maio (31 de julho, domingo); as conversas são sempre após as sessões de MACACOS.

 Monólogo criado e interpretado por Clayton Nascimento, MACACOS tem dramaturgia criada a partir do caso do goleiro Aranha, do Grêmio, ofendido pela torcida tricolor gaúcha em 2014. Este mote real, transformado para o contexto artístico, sustenta a peça como denúncia do racismo estrutural existente na sociedade.

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“Raíces de América: Drummond, Neruda, Cortázar, Meireles y Galeano”. Foi exatamente com esse show que exaltava a música, a poesia e a cultura latina, que o grupo Raíces de América iniciava sua carreira, há quatro décadas. E para celebrar essa data, a banda volta aos palcos com o mesmo espetáculo, no dia 31 de julho, às 18 horas, no Centro Cultural São Paulo.

O retorno de Raíces de América também marca a estreia de Nicole Bueno, que assume, junto com Fabian Famin, os vocais em substituição à cantora Miriam Miràh, que faleceu em 2022 e esteve à frente do grupo nas últimas duas décadas sendo considerada uma das maiores vozes da música latinoamericana.

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