Poemas simples e domésticos, de Elen Juanini (Edição da autora). Foi uma linda surpresa, um livro que me tocou, que permanece. Os poemas da Elen Juanini falam sobre a mulher, sobre aspectos do feminino e do corpo feminino que costumam ser silenciados, há algo de libertário em suas palavras, a necessidade de romper com estereótipos e criar nesse lugar de escombros, um outro discurso. Belo e necessário.

Assim a vida passa, de Elena Guro (Arte & Letras). Guro (1877-1913) é uma escritora, poeta e pintora russa praticamente desconhecida por aqui, fez parte do cubo-futurismo russo, e tem uma obra literária breve, mas de grande intensidade. Assim a vida passa, em belíssima edição da Arte & Letra e traduzido por Gabriela Soares, tem uma linguagem poética e inventiva, e aborda o mundo das classes menos favorecidas em contraposição a uma literatura até então voltada para a aristocracia. No livro, o que mais me apaixona, são as imagens incomuns que dão grande força à narrativa, por exemplo: “Todo o mobiliário austero do escritório masculino, com cada peça lustrosa de cobre, cravou os olhos nela.” Ou “Estrepitava e fazia calor. Pequenas flores tediosas no papel de parede do mobiliário. Ambos estavam fartos.”

Meninas que vestiam preto, edição do selo Demônio Negro e com tradução de Vanderley Mendonça, apresenta autoras que fizeram parte da geração beat: Anne Waldman, Diane di Prima, Elise Cowen, Marie Ponsot e Denise Levertov. Enquanto os homens alcançaram fama e reconhecimento, as mulheres foram silenciadas pela indústria cultural, pela própria sociedade. A coletânea de poemas nos mostra que não foi por falta de talento. O livro abre com a seguinte citação de Gregory Corso: Havia mulheres, eu as conheci, também estavam lá. Suas famílias as internavam em sanatórios e elas recebiam choques elétricos. […] Algum dia alguém vai escrever sobre isso.”

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Carola Saavedra é escritora, autora de Paisagem com dromedário, entre outros livros

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