Terminei, recentemente, a leitura de O 18 de brumário de Luís Bonaparte (Boitempo), de Karl Marx, sobre o golpe de Estado ocorrido na França em 1851 – que já começa com esse título genial (pois o 18 de Brumário foi um golpe de Estado pregresso, articulado pelo tio de Luís Bonaparte, Napoleão Bonaparte; ou seja: a repetição Tragédia/Farsa da história). E o mais curioso (e assustador) é que ao longo da análise, a respeito da França do século XIX, feita por Marx, pode-se notar muitas semelhanças com o Brasil de hoje, 2018.

 2. Acabo de começar a leitura de K. (Companhia das Letras), de Bernardo Kucinski: romance em que um pai procura a filha, desaparecida durante a ditadura militar no Brasil. Há alguns anos, li Você vai voltar pra mim (Cosac Naify), livro de contos do mesmo autor, e penso com insistente frequência no texto O velório, que narra um velório sem corpo: o filho sumiu – também durante a ditadura militar no Brasil, provavelmente assassinado – e a família precisa cumprir seus rituais de luto, ainda que tardios e com a maior lacuna possível.

3. Motivado por Marx, Kucinski e o Brasil de hoje – separei para reler O processo (Companhia das Letras), de Franz Kafka. Um trecho da apresentação da editora: “Na sua luta para descobrir por que o acusam, por quem é acusado e que lei ampara a acusação, [Josef] K. defronta permanentemente com a impossibilidade de escolher um caminho que lhe pareça sensato ou lógico, pois o processo de que é vítima segue leis próprias: as leis do arbítrio.” Ao leitor inocente, convém alertar: Josef K., o protagonista condenado sem justificativa, sem provas, é executado no final.

 
*

Felipe Franco Munhoz é escritor, autor de Mentiras e da peça Identidades 15 minutos. Sua ficção já foi publicada em inglês, francês e chinês

Tags: