Vencedor do Prêmio Jabuti 2022 na categoria Crônicas com “A lua na caixa d’água”, o escritor Marcelo Moutinho retorna ao gênero com a publicação de “O último dia da infância”. Assim como o livro premiado, a nova obra sairá pela Malê, marcando o primeiro lançamento da editora em 2025, ano em que celebra sua primeira década de fundação. Neste regresso do cronista, Moutinho esbanja intimidade com o texto breve e aparentemente despretensioso, expandindo o mapa afetivo de sua escrita e sem deixar de lado a curiosidade do flâneur na busca por construir uma etnografia original de seu tempo.

Neste livro, caminhamos da morte para a vida, como sinalizam os textos que  abrem e fecham a leitura. As crônicas que integram as outras duas unidades também fazem esse movimento, da clausura da pandemia à fruição afetiva da rua, da experiência forjada na memória ao tempo de hoje, em suas dores e delícias, seu prazer e suas agruras.”, sinaliza Moutinho. 

O cronista percorre as reminiscências das múltiplas geografias de seu habitat mais íntimo, as ruas do Rio de Janeiro, da Zona Sul à Zona Norte, mas se aventura por outras paisagens a fim de descobrir o que elas revelam. Passeia por Salvador, São Paulo, Montevidéu e Buenos Aires. Em cada uma, busca anotar o que permanece como memória e mistério. Mas é a geografia dos sentimentos que se sobressai nesta seleta de textos, ao vasculhar pelas ruas os afetos e a alma dos lugares.

Entre as esquinas da vida real e os entroncamentos onde as emoções são moldadas, o cronista andarilho convoca em seu périplo a companhia de seus pares literários. A interlocução entre a tradição do passado e a contemporaneidade sublinha sua escrita e reafirma a originalidade da crônica nos dias atuais. 

Entra em cena um desfile de diálogos com escritores, com referências dos dias de hoje e nomes eternizados pelo legado de suas obras, como Antônio Maria e Clarice Lispector, convocados, não por acaso, pelo autor para indicar os caminhos que irá percorrer nessas crônicas. Há também Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues e, claro, João do Rio e Rubem Braga.

Na seara contemporânea, a exemplo da crônica “Dicionário amoroso”, Moutinho elenca a palavra preferida de autores como Eliana Alves Cruz, Sérgio Rodrigues, Giovana Madalosso, Luisa Geisler e Luiz Antônio Simas. Nesse balaio cronístico, convoca, entre outros, Tati Bernardi, Henrique Rodrigues, Joaquim Ferreira dos Santos, todos eles sucessores do gênero.

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