‘Pequena Londres’ é palco do primeiro romance de Garcia Lopes

The Burney

Por Redação *

Poeta e tradutor experiente de autores como Sylvia Plath e Walt Whitman, Rodrigo Garcia Lopes estreia no romance com O Trovador, narrativa de gênero polícia que remonta, ficcionalmente, ao período de colonização do Norte do Paraná, mais especificamente, na “fase inglesa” de Londrina.

A “Pequena Londres”, uma Babel erguida a partir dos anos 1930 em função da atividade e dos interesses econômicos da empresa britânica Parana Plantations Limited, é palco de um mistério que envolve figuras históricas e se desdobra em crimes aparentemente sem solução.

Uma canção trovadoresca paira sobre a trama como a poeira vermelha se levanta na região. Como sempre há algo de detetive no ofício de um poeta e de um tradutor, caberá a Adam Blake, tradutor e intérprete escocês, a solução dos enigmas.

Leia, abaixo, trecho do romance:

” — Companhia de terras? – perguntou.

Blake fez que sim.

— Da Inglaterra?

Blake balançou de novo a cabeça.

— Bem-vindo ao fim do mundo… Vai ver em que bela porcaria de cidade o senhor veio parar.

Blake riu.

— Não pretendo ficar muito tempo. Só vim resolver algumas coisas.

— É o que todos dizem. O jeito é se divertir. — A moça arrumou a mecha negra sobre os olhos e concluiu: — Bom, todo mundo é meio estrangeiro. A cidade é nova demais. O senhor fala português muito bem. O que faz da vida?

— Sou tradutor.

A moça continuou sustentando o olhar em direção a Blake. Parecia não ter entendido.

— Eu traduzo o que as pessoas falam ou escrevem — explicou Blake.

Ela deu uma tragada, soprando a fumaça para o teto.

— Ah, então é alguém que vive da palavra dos outros?

Blake fez um olhar surpreso para a moça e deu de ombros.

— Digamos que eu facilito a comunicação entre as pessoas que não falam a mesma língua.

A moça fez que entendia com um gesto de cabeça, bebericou o gim, passando a língua sob os lábios superiores. — Então veio pra cá para nada. Vai logo aprender que em Londrina só se fala uma língua.

— E qual seria?

A prostituta sorriu:

— Dinheiro.”

O Trovador, de Rodrigo Garcia Lopes (Record, 406 págs.)

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