* Por Bruno Ribeiro *

Quando Andy Warhol disse que o seu objetivo era ser uma máquina, ele não imaginava que estaria prevendo uma práxis artística do futuro, uma arte onde o produtor de conteúdo estivesse completamente inserido na sua plataforma, no caso, o computador.

Antes da consolidação de Warhol como artista, ainda no século XX, Walter Benjamin em seu ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” analisou as modificações estéticas a partir do advento da reprodutibilidade técnica, apresentando a perda aurática das obras de arte. Benjamin, nesse ensaio, ainda explicita como a ideia de autenticidade na arte cedeu lugar à sua natureza aberta e fragmentária.

Hoje, nos tempos em que somos todos máquinas ambulantes, tudo é efêmero e se perde em milhões de timelines que circulam nossos computadores. O próprio cérebro se tornou uma timeline disléxica. Qualquer resquício da Aura – de se ajoelhar perante uma obra de arte – morreu de vez nesses tempos líquidos onde tudo é veloz e efêmero.

Nesse contexto, para um escritor, obviamente que a missão de conseguir leitores – eternamente distraídos – tornou-se mais árdua. Apesar dos pesares, também temos mais democracia e meios de expor nossas obras, algo impensável antigamente, onde o escritor era obrigado a passar por milhões de etapas até se consagrar ou para simplesmente ser considerado um escritor.

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Sou 90% integrado e 10% apocalíptico. Por causa da internet, vivemos na democratização absoluta dos espaços e isso é bom. Muitos autores nacionais estão utilizando as redes de maneira inteligente para se divulgar e buscar leitores. Se a Aline Bei nunca tivesse chegado para apresentar seu livro para mim pelo Instagram, eu nunca teria lido o incrível O peso do pássaro morto.

Se eu não tivesse organizado as antologias Língua rara e Cem anos de amor, loucura e morte por meio das redes sociais, nunca teria conhecido o riscado incrível de André Timm, Tiago Germano – que fez uma vaquinha bem sucedida no site Catarse para lançar seu livro de crônicas Demônios domésticos –, Márcia Barbieri, Cristina Judar, Irka Barrios, Nara Vidal, Fabio Fernandes, Matheus Borges, entre outros.

Na Paraíba, onde vivo, Débora Gil Pantaleão se destaca não só pela qualidade da escrita, mas também por fundar a editora Escaleras, inteiramente online. Roberto Menezes é um autor paraibano ativo nas redes sociais e criador da Flipobre – uma feira literária online – em conjunto com outro autor de presença massiva no mundo online, o Diego Moraes.

Outro nome importante é a Appaloosa Books, editora que só lança livros em formato digital (e-books). O editor Felippe Regazio fundou a editora no ano passado e já tem em mãos um excelente catálogo. Fora os diversos críticos literários que divulgam nossa literatura pela web, como Sérgio Tavares, Tamlyn Ghannam, Mateus Baldi e Alfredo Monte.

Sabemos como a literatura pode ser corporativista, logo, a internet surge como uma ferramenta importante para o autor contemporâneo. Com ela, driblamos as imposições, podemos chamar atenção de alguma forma dos distraídos e não precisamos nos preocupar em sair babando o ovo de figurões literários ou políticos. Jogamos nossos trabalhos no ar e produzimos com liberdade para um público vasto.

Podemos – e devemos – quebrar a roda e sacudir os sarcófagos. Provocar e transgredir.

No final das contas, há muitos caminhos para um escritor: estradas, soluções, redes, pontes… E no meio disso tudo, em algum ponto, estão os leitores. Temos que cavar para encontrá-los, talvez estejam do nosso lado – quase sempre estão –, existindo e respirando, habitando nossos meios. Não é fácil despertar a atenção deles, mas temos que tentar.

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Você, artista, escritor, produtor de conteúdo ou espectador – ou tudo junto e misturado –, é quem decide o que fazer com esse mar de linguagem que é a internet. Afinal, ela é um treco morto. Nós enquanto máquinas repletas de gasolina é quem damos a ela vida, movimento, agitação, som e fúria.

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Bruno Ribeiro é mineiro radicado na Paraíba. Escritor, tradutor e roteirista. Autor do livro de contos Arranhando paredes (2014) traduzido para o espanhol pela editora argentina Outsider e do romance Febre de enxofre” (2016). É mestre em Escrita Criativa pela Universidad Nacional de Tres de Febrero (UNTREF) e editor da Revista Sexus. O seu novo romance Glitter (2018) foi pré-selecionado ao Prêmio Sesc de Literatura 2016 e finalista da 1° edição do Prêmio Kindle. www.brunoribeiroblog.wordpress.com

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