* Por Daniel Manzoni-de-Almeida *

A partida

Eu vou me permitir fazer uma metáfora. Como escritor eu sou uma Dorothy do clássico “O mágico de Oz” de L. Frank Baum [1856-1919]: distante de casa, a menina Dorothy tem um objetivo que é de encontrar um passe de mágica que a leve para sua casa de volta com seus tios, por isso vai atrás do famoso mágico do mundo de Oz que dizem ter uma fórmula para ajudá-la. Nessa jornada que ela se lança e vai encontrando amigos que a ajudam a seguir em frente. Mesmo ocupada com o seu objetivo, Dorothy não deixa de tentar ajudar o espantalho que quer um cérebro, o homem de lata que quer um coração e o leão que deseja mais coragem. A turma vai em frente pelo caminho árduo e cheio de desafios juntos, cada um com seu objetivo, em busca de encontrar o tal mágico milagroso. A Dorothy da ficção tem o objetivo de encontrar o caminho de volta para casa, pois segundo ela “não há lugar melhor que a casa da gente”, e eu me transformando Dorothy estou bem confortável andando pelo mundo. Talvez meu objetivo nesse caminho seja apenas de me encontrar. Nesse caminho vou encontrando vários espantalhos, homens de lata e leões. Como na história de Oz, o meu caminho de pedras douradas seja a Literatura, que vou seguindo e encontrando amigos que buscam o mesmo, mas dizem de outra forma que querem um coração, um cérebro ou mais coragem. É sobre ser uma Dorothy na literatura que quero falar por aqui. É sobre, como ir fazendo meu caminho para me encontrar, que eu encontro outros que querem coisas parecidas.

Quando eu ouvia a pergunta clássica, “O que você quer ser quando crescer?”, eu, amedrontado respondia que queria ser escritor. Eu era um menino da periferia do ABC da cidade de São Paulo que tinha uma questão da sexualidade com uma batalha difícil pela frente. Eu vivia em meio aos livros em uma infância e adolescência insegura e cercado de preconceitos, os livros me acolhiam e eram neles que eu recebia empatia via palavras, histórias de homens e mulheres que eu não conhecia, mas que eu sentia acolhimento.

A pergunta clássica, já na vida adulta, era feita de outra maneira, “O que você faz da vida?”, e eu com o mesmo sentimento de medo respondia que era escritor. Eu já havia escrito e publicado algumas coisas que meia dúzia tinha lido. Era o suficiente para os olhares desdenhosos e o canto de boca satírico brotarem em uma tradução de descrença e desmerecimento. Afinal, pelo senso comum e mediano, uma pessoa que se intitula como escritora é só aquele que vende milhões de livros e tem direitos autorais vendidos para o cinema ou televisão. Por outro lado, em verdade, ser uma pessoa que escreve é colocar palavras no papel em uma maneira, quase desesperada, de falar sem ser interrompido. Talvez esse desespero de dizer coisas, de criar e recriar universos, de reescrever dores, de propor caminhos que me rasgou as vísceras e não me fez desistir e resistir.

Nesse caminho, a minha maior professora logo de início, foi a história da escritora Carolina Maria de Jesus [1914-1977], mulher negra, pobre e favelada, que do seu lugar subjugado se empoderou em dizer que era, sim, uma escritora. Essa atitude afrontosa e insubordinada de Carolina de Jesus foi como uma mão estendida a mim e, também, me ajudou a me empoderar e me intitular como escritor. Mais uma vez era acolhido pela literatura. Eu tive a sorte de conseguir, depois de 10 anos persistindo, uma oportunidade de migrar e fazer aquilo que eu mais gosto, que é observar, pesquisar, pensar e escrever. E foi na minha primeira semana no exterior em que uma pessoa me apresentou a outra, de forma muito natural, “Esse é um escritor brasileiro que acabou de chegar”. Era a primeira acolhida que a literatura me oferecia nos primeiros dias degelando o frio do inverno da chegada na França. Eu percebi ali que teria que retomar, naquele instante, a Literatura seria meu acolhimento no mar das palavras da nova língua do meu cotidiano que poderia me afogar.

Já faz 1 ano que estou morando na França e estou as beiras de completar 40 anos. Tem sido uma das experiências mais importantes na minha vida. Eu já havia morado em outros lugares do mundo antes, porém essa experiência tem sido acompanhada de uma maturidade que eu não tinha antes: a de aceitar o acolhimento que a vida me proporcionar. Explico melhor. A experiência de partir da sua terra, da sua cultura e ir viver em outra requer muitas coisas como abandonos, reinvenções, descobertas, adaptações e, etc. Porém, nada disso tem uma dinâmica, que podemos dizer bem sucedida e com poucos danos, se não houve um acolhimento, do outro, pela empatia. Parece uma visão romântica de que o outro, em especial um país poderoso, vai oferecer empatia de graça e facilmente. Essa versão de empatia não é dada, mas tem que ser buscada. Ainda mais, ela precisa ser construída por quem chega. Estranho? Sim, muito. Se olhar de perto até que não soa tão estranho quando a busca pela construção dessa empatia parte de um olhar para o amor próprio, pelo orgulho de si e dos seus semelhantes, do empoderamento do seu potencial de quem você é. Assim como Dorothy, no meu caminho, eu parei primeiro no amor próprio para me dar uma fortaleza maior, em outra parte do caminho eu busquei a nobreza da minha língua portuguesa como importante, e em outra busquei me cercar de pessoas que fossem semelhantes a mim. A literatura foi o meu caminho bem sucedido. Fui estrategista. Me uni a escritores e escritoras do outro lado do oceano que falavam minha língua em 2022. Do lado de cá busquei os que falavam a língua daqui para me apresentar um país nas condições que compartilhávamos. Foi quando encontrei a literatura do escritor Abdellah Taia.

Abdellah Taïa [1973] é um escritor, diretor de cinema marroquino que vive em Paris na França e tem livros importantes (13 títulos ao total) sobre ser homossexual e imigrante em um país como o Marrocos e França. Os meus prediletos são Le Rouge du tarbouche (Séguier, 2004), L’armée du salut (Seuil, 2006) e Celui qui est digne d’être aimé (Seuil, 2017) que de forma autobiográfica faz uma análise refinada sobre sexualidade, identidade e cultura entre ocidente e o mundo árabe. Alguns títulos de Taïa estão traduzidos e publicados pela Editora NOS. Taïa é uma das maiores referencias da literatura contemporânea, em especial por ser o primeiro escritor a se assumir homossexual no mundo árabe, e por trazer à tona o tema da sexualidade não descolada e não escamoteada de uma cultura. Logo de início eu tive uma identificação com esse fragmento biográfico do autor e busquei na sua literatura uma apresentação da vida de um homem gay imigrante na França.

Nesse caminho, está um diálogo entre Taïa e eu…

No percurso

Qual a sua motivação para escrever literatura autobiográfica? Eu acredito que a literatura não venha de Marte, mas das relações que estabelecemos com os outros; através de mim mesmo, do que eu conheço, do que eu vejo, do que eu compreendo, do que não compreendo. Eu não consigo ver uma literatura que não venha do ambiente ao meu redor. Eu não tenho interesse em uma literatura que é apenas um exercício muscular estético de dizer algo que seja altamente culto. Isso não me interessa. O que me interessa em literatura é como a vida me afeta. Eu penso que a minha ambição pessoal, a minha arrogância principal, assim dizendo, seja isso. Eu tenho muitas coisas para dizer, para contar, eu vivi e vivo muitas coisas, há muitas coisas na minha vida e à minha volta que precisam ser ditas. Eu nasci em um mundo muito pobre, que nós não tínhamos nada para comer. Nós falamos a língua árabe, e a língua francesa era apenas para as pessoas muito ricas, que era usada para oprimir e reduzir pessoas como eu. Eu penso que a minha entrada na literatura é por essa irritação, não pela influência da literatura escrita em língua francesa ou inglesa. Eu acredito que as pessoas marroquinas como eu, somos inteiramente capazes de contar nossas histórias, nossas vidas, nosso mundo por nós mesmos, sem a interferência ou influência da linguagem da França ou da Inglaterra, de Oscar Wilde. É algo que me vem desde que eu era pequeno e não foi a partir da entrada na universidade. Quando eu entro na vida adulta, mesmo eu com toda questão da minha homossexualidade, das inúmeras questões delicadas com isso no Marrocos, eu não detestei minha família, minha origem, meu povo, meu bairro. Eu tenho, sim, um problema com os ricos, com o poder, com as pessoas arrogantes que nos desvalorizam. Então, eu penso que contar a minha história gay no mesmo tom que a dos outros, com minha mãe, com meus familiares, com meu bairro, com a prostituição, com os ladrões e criminosos que lá estão, fazem a minha literatura. Eu não posso isolar a minha história gay de tudo isso que estava à minha volta. Não me interessa isolar este mundo da história dos outros e da minha. Então, a minha escrita é uma continuidade do mundo em que nasci, cresci e que chega até a minha capacidade de escrever sobre.

Como é sua forma de escrever, então, sua literatura: é uma denuncia? Isso é importante, pois há uma linha que acredito que a Literatura começa a partir da vida. Há pessoas que se dedicam a escrita sobre a vida, como eu e você por exemplo, que tem a capacidade de dizer as coisas. E a escrita que eu compreendo é a capacidade de dizer coisas, a técnica de dizer, como eu percebo a vida por meio das relações com os outros, como eles falam, como eles vão dizer as coisas, como eu vou falar sobre a vida por meio dos outros. Os outros vão dizer a verdade com um “V” grande, dizem a verdade de literatura a partir da verdade deles, do ponto de vista deles, mas há tantos pontos de vista… mesmo a verdade que vem de uma pessoa gay não é a verdade de todas as pessoas gays, mas é a verdade das pessoas como eu que estão contra o poder, as opressões, ao mundo ocidental. Isso faz uma mistura. Há alguma coisa que vem na literatura que é resultado desse caos, dos corpos, das línguas, dos ventos, dos céus e da terra, do sexo (eu sei que isso é muito forte para nós e para vocês escritores brasileiros como você), e para nós marroquinos também, que as vezes não conseguimos dizer nas línguas ocidentais dominantes, como o inglês ou o francês, e isso é algo que nos precede, e que nos faz continuar a criar. Acredito que para você seja assim, pois para mim é assim. Isso não me faz pensar que eu seja um escritor melhor do que outro… não, absolutamente, não. A denúncia não é apenas para dar prazer as pessoas do ocidente. Pessoas como nós, você brasileiro e eu marroquino, não estamos submetidos e liberados pelas autoridades do ocidente, porque se não vamos ter que dizer que há uma renovação do colonialismo ocidental, então, temos que ter atenção com essa palavra “denuncia”: o que é? A partir de quem está sendo feita? Quem são as pessoas que vão aceitar, ou não, a nossa denúncia? Isso é complicado. Então, denunciar é OK, mas eu não vou fazer o erro de fazer essa denuncia indo contra e marginalizando ainda mais o meu povo, a minha família, não! Mesmo que minha família tenha me feito muito mal, porque ela tem muito problema com a opressão política, social e econômica, eu não posso assumir o lugar que eu sou gay, logo eu sou bom, e do outro lado está aminha família que é o mal. Isso não é possível, porque nós aprendemos com os outros e não posso usar minha família para ser a má e eu construir uma outra imagem. Essa história da denúncia é muito complicada.

Como homossexual você se sentiu acolhido quando chegou em Paris? Eu cheguei na França em 1998, cheguei em Paris, e agora estou com 49 anos. Eu não falava francês, eu não sabia nada do ambiente intelectual, não sabia e não conhecia nenhum dos editores e isso não me impressionou. O racismo, os preconceitos não me afetaram, não afetou no fundo de mim mesmo, eu não deixei. Hoje eu coloco a questão a mim mesmo: onde eu encontrei energia para não acreditar no sistema francês elitista, sobretudo o ambiente intelectual, não me aceitariam. A primeira coisa que me ajuda a entender isso é que eu venho de uma família muito pobre, ou seja, eu tinha uma força que vem das vísceras, da barriga faminta e quando você sente isso, você não deixa a influencia das pessoas, que vão te olhar estranho, que vão te desacreditar. Há uma ambição que te dá uma direção de chegada. Há toda a burocracia dos documentos legais na França que é infernal e a há uma vida cotidiana que você tem que lidar o tempo todo. E é essa energia de chegar e ter que sobreviver, encontrar qualquer coisa para sobreviver, que me fez ter foco. A segunda coisa que me ajuda a entender é enfrentar um sistema elitista na França, em especial de Paris, muito burguês sobretudo o ambiente intelectual, editorial, tudo isso. Há alguma coisa que transpassa toda essa ideia burguesa de Paris que vinha me dizer que as coisas não funcionam assim, que eu iria conseguir romper e passar por essa fenda. Quando eu estava fazendo os estudos acadêmicos em literatura francesa, quando eu li Emilio Zola, percebi que há uma critica profunda ao país, de uma veracidade incrível, que vem das vísceras. Outros escritores passaram por essa fresta e me deram esse suporte para dizer as coisas. Foi onde eu me apeguei.

Qual o seu conselho para um jovem homossexual, como eu, escritor que acaba de chegar na França? Conselho? Não deixe o olhar estranho dos outros afetar você. Deixe-o passar, de lado. A cultura francesa, inglesa, norte-americana não são superiores à nossa, a sua latino-americana e a minha marroquina. Nós somos de países, pessoas desses países, que os suportam, os sustentam. E nossa história tem valor. Seja você mesmo, não queira ser como os outros. Não seja ninguém, apenas você mesmo. Não entre em disputa inútil com os outros que te olham estranho, apenas se proteja para não te fazer mal. Deixe passar de lado, trabalhe pela ideia de ser apenas você mesmo. Isso me faz feliz e acredito que fico feliz por você.

Uma chegada?

A metáfora da Dorothy é bem interessante para esse contexto, pois em literatura, diferente do desejo de Dorothy que tem um objetivo fim, não temos uma chegada. Cada escrito parece se renovar o desejo de voltar ao começo do caminho e iniciar tudo outra vez. Contar outra história, ter outro destino, procurar outro mágico de Oz, encontrar outros amigos pelo caminho. E é viciante, pois pelo meu caminho estou encontrando recepções importantes pelos rastros deixados na literatura. O trabalho com literatura, seja na escrita criativa ou crítica (talvez principalmente) é ser muito mais o espírito de procura de Dorothy que o espírito do objetivo de Dorothy. E ai é que está a beleza, pois cada encontro com alguém, via seu texto literário, é muito mais mágico do que encontrar o famoso “mágico de Oz” ao final da história – que é em verdade um grande farsante…A mágica verdadeira, que faz voltar para casa, ou no meu caso me faz me sentir em casa mesmo andando pelo mundo, é o acolhimento que a literatura do outro pode proporcionar e dar o cérebro com pensamento claros e fortes que tanto queremos, o coração aquecido e aquela coragem gostosa de que tudo sempre dá certo. Esse foi meu acolhimento que a literatura de Abdellah Taïa me proporcionou nesse primeiro ano de França.

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Versão em francês  

La littérature comme accueil

Por Daniel Manzoni-de-Almeida

Le départ

Je vais me permettre de faire une métaphore. En tant qu’écrivain, je suis tel Dorothy du classique “Le Magicien d’Oz” de L. Frank Baum [1856-1919] : loin de chez elle, la petite fille Dorothy n’a qu’un seul but : trouver un laissez-passer magique qui la ramènera chez son oncle et sa tante. Elle se lance donc à la recherche du célèbre magicien du monde d’Oz qui aurait une formule pour l’aider. Dans ce voyage qu’elle entreprend, elle rencontre en chemin des amis qui l’aident à avancer. Même si elle est occupée par son objectif, Dorothy ne cesse d’essayer d’aider l’épouvantail qui veut un cerveau, l’homme de fer blanc qui veut un cœur et le lion qui veut plus de courage. La bande avance ensemble sur le chemin ardu et plein de défis, chacun avec son propre objectif, à la recherche de ce magicien miraculeux. La Dorothy de la fiction a pour objectif de retrouver le chemin de la maison, car selon elle “il n’y a pas de meilleur endroit que sa propre maison”, et moi, je suis les pas de Dorothy pour avancer dans ce monde. Peut-être que mon objectif en avançant sur ce chemin est juste de me trouver mais j’y rencontre également plusieurs épouvantails, des hommes en fer blanc et des lions. Dans mon histoire d’Oz à moi, mon chemin de pierres dorées est la littérature et j’y rencontre des amis qui cherchent la même chose et qui disent eux aussi, peut-être différemment certes, qu’ils veulent un cœur, un cerveau ou plus de courage. C’est ce qu’est être une Dorothy face au chemin de la littérature dont je veux témoigner ici : en poursuivant mon chemin pour me trouver, je trouve d’autres personnes qui veulent des choses similaires.

Lorsque j’ai entendu la question classique “Que veux-tu faire quand tu seras grand ?”, j’ai répondu avec crainte que je voulais être écrivain. J’étais un garçon de la périphérie de l’ABC de São Paulo qui se questionnait sur son identité sexuelle et qui avait une bataille difficile à mener. J’ai ainsi vécu au milieu des livres, dans une enfance et une adolescence hantées par un sentiment d’insécurité et entouré de préjugés. Les livres eux, m’ont accueilli comme personne d’autre n’a su le faire. C’est en eux que j’ai pu trouver de l’empathie. Par leurs mots, leurs histoires d’hommes et de femmes que je ne connaissais pas, mais auprès de qui je me sentais enfin le bienvenu.

Quand la question classique de la vie adulte, m’a été posée : “Que faites-vous dans la vie ?”, c’est avec le même sentiment de peur, j’ai répondu que j’étais écrivain. J’avais déjà écrit et publié quelques trucs qu’une demi-douzaine de personnes avaient lus. C’était suffisant pour attirer les regards dédaigneux et voir les coins satiriques des bouches se lever traduisant l’incrédulité et le dédain. Après tout, selon le sens commun et moyen, une personne qui se dit écrivain est uniquement celle qui vend des millions de livres et dont les droits d’auteur sont vendus au cinéma ou à la télévision. Cependant, en vérité, être une personne qui écrit, c’est mettre des mots sur le papier d’une manière presque désespérée pour parler sans être interrompu. C’est peut-être ce désespoir de dire des choses, de créer et recréer des univers, de réécrire des douleurs, de proposer des chemins qui m’a déchiré les viscères et ne m’a pas fait renoncer et résister.

Sur ce chemin, mon plus grand modèle, dès le début, a été l’écrivaine Carolina Maria de Jesus [1914-1977], une femme noire, pauvre et habitant un bidonville de favela, qui, depuis son lieu d’assujettissement, s’est émancipée en disant qu’elle était, oui, elle était une écrivaine. Cette attitude d’affrontement et d’insubordination de Carolina de Jesus a été comme une main tendue vers moi et m’a également aidé à m’émanciper et à me considérer comme un écrivain. Une fois de plus, j’ai embrassé la littérature. J’ai eu la chance d’obtenir, après 10 ans de persévérance, une opportunité de migrer vers la France et d’y faire ce que j’aime le plus, à savoir observer, rechercher, penser et écrire. Et c’est lors de ma première semaine à l’étranger qu’une personne m’a présenté à une autre, de manière très naturelle : “Voici un écrivain brésilien qui vient d’arriver”. C’est le premier accueil que la littérature m’a offert dans les premiers jours de dégel de l’hiver froid de mon arrivée en France. J’ai alors compris, à ce moment-là, que la Littérature serait mon foyer d’accueil dans la mer de mots d’une nouvelle langue dans laquelle j’aurais pu me noyer.

Je vis en France depuis un an maintenant et je vais bientôt avoir 40 ans, c’est l’une des expériences les plus importantes de ma vie. J’avais déjà vécu dans d’autres endroits du monde auparavant, mais cette expérience s’est accompagnée d’une maturité que je n’avais pas auparavant : celle d’accepter l’accueil que la vie me réserve. Laissez-moi vous l’expliquer. L’expérience de quitter son foyer, sa culture et d’aller vivre dans un autre endroit nécessite de nombreuses choses, comme l’abandon, la réinvention, la découverte, l’adaptation, etc. Cependant, rien de tout cela n’a une dynamique, que nous pouvons dire réussie, si on n’y rencontre pas un accueil de l’autre, son empathie. Il semble que ce soit une vision romantique que l’autre, surtout dans un pays puissant, offre de l’empathie gratuitement et facilement. Cette version de l’empathie n’est pas donnée, mais doit être recherchée. Plus encore, elle doit être construite par ceux qui arrivent. Bizarre. Oui, très. Si l’on y regarde de plus près, cela ne semble pas si étrange lorsque la quête de cette empathie commence par l’amour de soi, la fierté de soi et de ses semblables, la valorisation de son potentiel. Comme Dorothée, sur mon chemin, je me suis d’abord arrêté pour trouver l’amour de soi qui me donne une plus grande force d’âme, dans une autre partie du chemin j’ai embrassé la noblesse et l’importance de ma langue portugaise, et dans une dernière j’ai cherché à m’entourer de personnes qui me ressemblaient. La littérature a été ma voie de réussite. J’étais un stratège. Je me suis associé à des écrivains de l’autre côté de l’océan qui parlaient ma langue en 2022. De l’autre côté, j’ai cherché ceux qui parlaient la langue d’ici pour me faire découvrir d’un pays duquel je partageais les valeurs. C’est alors que j’ai découvert la littérature de l’écrivain Abdellah Taia.

Abdellah Taïa [1973] est un écrivain marocain, réalisateur de films qui vit à Paris en France et qui a écrit des livres importants (13 titres au total) sur le fait d’être homosexuel et immigré dans un pays comme le Maroc et la France. Mes préférés sont Le Rouge du tarbouche (Séguier, 2004), L’armée du salut (Seuil, 2006) et Celui qui est digne d’être aimé (Seuil, 2017) qui, sur un mode autobiographique, offre une analyse fine sur la sexualité, l’identité et les différences de cultures entre l’Occident et le monde arabe. Certains des titres de Taïa sont traduits et publiés par Editora NOS. Taïa est l’une des plus grandes références de la littérature contemporaine, notamment pour avoir été le premier écrivain à assumer son homosexualité dans le monde arabe, et pour avoir soulevé le thème de la sexualité de manière non détachée et non cachée d’une culture. Dès le début, je me suis identifié à ce fragment biographique de l’auteur et j’ai cherché dans sa littérature ce que pourrait être la vie d’un homosexuel immigré en France.

Sur ce chemin, il y a un dialogue entre Taïa et moi-même.

 

Sur le chemin : Un entretien avec Abdellah Taïa

Quelle est votre motivation pour écrire une littérature autobiographique? Je crois que la littérature ne vient pas de la planète Mars, mais des relations que nous établissons avec les autres ; à travers moi-même, ce que je sais, ce que je vois, ce que je comprends, ce que je ne comprends pas. Je ne peux pas concevoir une littérature qui ne viendrait pas de l’environnement qui m’entoure. Je ne m’intéresse pas à une littérature qui ne serait qu’un exercice esthétique musclé consistant à dire les choses de manière très érudite ou très cultivée. Ça ne m’intéresse pas. Ce qui m’intéresse dans la littérature, c’est dire la façon dont la vie m’affecte. Je pense que mon ambition personnelle, ma principale arrogance pour ainsi dire, est la suivante : J’ai beaucoup de choses à dire, à raconter, je vis et expérimente beaucoup de choses, il y a beaucoup de choses dans ma vie et autour de moi qui ont besoin d’être dites. Je suis né dans un monde très pauvre, nous n’avions rien à manger, nous parlions la langue arabe, la langue française était réservée aux gens très riches, elle était utilisée pour opprimer et réduire les gens comme moi. Je pense que mon entrée dans la littérature est due à cette irritation, et non à l’influence, de la littérature écrite en langue française ou anglaise. Je crois que les Marocains comme moi sont tout à fait capables de raconter nos histoires, nos vies, notre monde pour nous-mêmes, sans l’interférence ou l’influence de la langue française ou anglaise, d’Oscar Wilde. C’est quelque chose qui m’accompagne depuis que je suis petit et non depuis mon entrée à l’université. Lorsque je suis entré dans l’âge adulte, même avec toute la question de mon homosexualité, les nombreuses questions délicates à ce sujet au Maroc, je n’ai pas haï ma famille, mon origine, mon peuple, mon quartier. J’ai un problème avec les riches, avec le pouvoir, avec les personnes arrogantes qui nous dévalorisent. Je pense donc que raconter mon histoire personnelle en tant qu’homosexuel sur le même ton que celle des autres, avec ma mère, avec mes proches, avec mon quartier, avec la prostitution, avec les voleurs et les criminels qui s’y trouvent, avec tout cela, fait ma littérature. Je ne peux pas isoler l’histoire de mon homosexualité de tout ce qui m’entourait. Cela ne m’intéresse pas d’isoler ce monde de l’histoire des autres et de la mienne. Mon écriture est donc une continuité du monde dans lequel je suis né, dans lequel j’ai grandi, et cela se reflète dans ma capacité à écrire.

Quelle est donc votre façon d’écrire, votre littérature : s’agit-il d’un dénouement? C’est important, car j’ai une ligne directrice : je crois que la littérature part de la vie. Il y a des gens qui se consacrent à écrire sur la vie, comme vous et moi par exemple, qui ont la capacité de dire des choses. Et l’écriture telle que je la comprends est la capacité de dire les choses, la technique de dire, comment je perçois la vie à travers les relations avec les autres, comment ils parlent, comment ils vont dire les choses, comment je vais parler de la vie à travers les autres. D’autres vont déclarer dire la vérité avec un grand V, ils disent la vérité à partir de leur vérité, de leur point de vue, mais il y a tellement de points de vue… même la vérité qui vient d’une personne homosexuelle n’est pas la vérité de toutes les personnes homosexuelles, mais c’est la vérité de personnes comme moi qui sont contre le pouvoir, les oppressions du monde occidental. C’est un mélange. Il y a quelque chose qui vient dans la littérature qui est le résultat de ce chaos, des corps, des langues, des vents, des cieux et de la terre, du sexe (je sais que c’est très fort pour nous et pour les écrivains brésiliens comme vous), pour nous aussi, Marocains, que parfois nous ne pouvons pas dire dans la langue occidentale dominante, comme l’anglais ou le français, et c’est quelque chose qui nous précède qui nous fait continuer à créer, je crois que pour vous c’est comme ça, parce que pour moi c’est comme ça. Cela ne me fait pas penser que je suis un meilleur écrivain qu’un autre… non, absolument pas, non. La dénonciation ne sert pas seulement à faire plaisir aux Occidentaux. Des gens comme nous, vous les Brésiliens et moi les Marocains, nous ne sommes pas soumis et libérés par les autorités occidentales, parce que sinon nous devrions dire qu’il y a un nouveau renouvellement du colonialisme occidental. Il faut donc être prudent avec ce mot “dénonciation” : qu’est-ce que c’est ? De qui s’agit-il ? Qui va accepter, ou non, notre dénonciation ? C’est compliqué. Alors, dénoncer, c’est bien, mais je ne ferai pas l’erreur de faire cette dénonciation en allant contre et en marginalisant mon peuple, ma famille, non ! Même si ma famille m’a fait beaucoup de mal, parce qu’elle a beaucoup de problèmes d’oppression politique, sociale et économique, je ne peux pas partir du principe que parce que je suis homosexuel, je suis bon, et que d’un autre côté ma famille est mauvaise. Ce n’est pas possible, car nous apprenons des autres et je ne peux pas utiliser ma famille en leur donnant le mauvais rôle et moi me construire une autre image. Cette histoire de dénonciation est très compliquée.

En tant qu’homosexuel, vous êtes-vous senti accueilli en arrivant à Paris? Je suis arrivé en France en 1998, je suis arrivé à Paris et maintenant j’ai 49 ans, je ne parlais pas français, je ne savais rien de l’environnement intellectuel, je ne connaissais pas et je ne connaissais aucun des rédacteurs et cela ne m’a pas impressionné. Le racisme, les préjugés ne me touchaient pas, ils ne m’affectaient pas au plus profond de moi-même, je ne les laissais pas faire. Aujourd’hui, je me pose la question : où ai-je trouvé l’énergie pour ne pas croire que le système élitiste français, surtout le milieu intellectuel, ne m’accepterait pas. La première chose qui m’aide à comprendre cela, c’est que je viens d’une famille très pauvre, c’est-à-dire que j’avais une force qui vient des tripes, du ventre affamé, et quand on ressent cela, on ne se laisse pas influencer par des gens qui vont vous regarder bizarrement, qui vont vous discréditer. Il y a une ambition qui vous donne une direction d’arrivée. Il y a toute la bureaucratie des documents juridiques en France, qui est infernale, et puis il y a la vie quotidienne à laquelle il faut faire face en permanence. Et c’est cette énergie d’arriver et de devoir survivre, de trouver quelque chose pour survivre, qui m’a permis de me concentrer. La deuxième chose qui m’aide à comprendre, c’est de faire face à un système élitiste en France, surtout à Paris, très bourgeois surtout le milieu intellectuel, l’édition, tout ça. Il y a quelque chose qui traverse toute cette idée bourgeoise de Paris qui est venu me dire que les choses ne fonctionnent pas comme ça, que je serais capable de percer et de passer par cette faille. Quand je faisais mes études universitaires en littérature française, quand je lisais Emile Zola, j’ai pu y trouver une critique profonde du pays, une vérité incroyable, qui vient des entrailles. D’autres écrivains sont passés par là et m’ont donné ce soutien pour dire les choses. C’est à ça que je me suis attaché.

Quel conseil donneriez-vous à un jeune homosexuel comme moi, un écrivain qui vient d’arriver en France? Mon conseil ? Ne laissez pas le regard étrange des autres vous affecter. Laissez passer, faites un pas de côté. La culture française, anglaise, nord-américaine n’est pas supérieure à la nôtre, à votre culture latino-américaine et à ma culture marocaine. Nous venons de pays, de personnes de ces pays, qui les soutiennent, les font vivre. Et notre histoire a de la valeur. Soyez vous-même, ne cherchez pas à être comme les autres. Ne soyez pas quelqu’un d’autre que vous-même. Ne vous lancez pas dans une dispute inutile avec ceux qui vous regardent bizarrement, protégez-vous simplement pour qu’ils ne vous fassent pas de mal. Laissez-le passer, travaillez pour l’idée d’être simplement vous-même. Cela me rend heureux et je crois que je suis heureux pour vous.

Une arrivée ?

La métaphore de Dorothy est tout à fait intéressante dans ce contexte, car en littérature, contrairement au personnage de Dorothy qui a un but final, nous n’avons pas d’arrivée. Chaque écriture semble renouveler le désir de retourner au début du chemin et de tout recommencer. Pour raconter une autre histoire, pour avoir un autre destin, pour chercher un autre Magicien d’Oz, pour rencontrer d’autres amis en chemin. Et c’est addictif, car je trouve sur mon chemin un accueil important pour ces traces que je laisse dans la littérature. Travailler avec la littérature, qu’il s’agisse d’écriture créative ou critique (peut-être surtout), c’est bien plus travailler dans l’esprit de la recherche de Dorothée que pour assouvir un but final comme Dorothée. Et c’est là que réside la beauté, car chaque rencontre avec quelqu’un, par le biais de son texte littéraire, est bien plus magique que la rencontre avec le fameux Magicien d’Oz à la fin de l’histoire – qui est en vérité un grand trompeur… La vraie magie, celle qui fait que l’on rentre chez soi, ou dans mon cas, celle qui fait que je me sens chez moi lorsque je me promène dans ce monde, c’est l’accueil que la littérature d’autrui peut offrir et qui donne au cerveau les pensées claires et fortes que nous désirons tant, le cœur chaud et ce courage délicieux que tout s’arrange toujours. C’est l’accueil que m’a réservé la littérature d’Abdellah Taïa lors de ma première année en France.

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Daniel Manzoni-de-Almeida é escritor e doutor em teoria literária. Université Bretagne Occidental, Brest, França

Daniel Manzoni-de-Almeida, écrivain et docteur en théorie littéraire. Université Bretagne Occidentale, Brest, France

Relecture et corrections : Irène-Marie Sultan, Université de Bretagne Occidentale, Brest, France. 

danielmanzoni@gmail.com

 

 

 

 

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